Depois de tentativas frustradas, Petrobras concorda em vender a Braskem via Bolsa

O Estado de S. Paulo 

 

O conselho de administração da Petrobras aprovou modelo de venda de até 100% das ações preferenciais que detém na petroquímica Braskem, a ser conduzido por meio de oferta pública secundária de ações (follow on) em conjunto com a Novonor (ex-Odebrecht) e a NSP Investimentos – ambas em recuperação judicial. A venda da Braskem é um projeto que se arrasta há cerca de quatro anos e que enfrentou uma série de complicações desde então.

 

Em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a estatal informa que celebrou um termo com a Novonor que, além de garantir o compromisso com a oferta secundária, estabelece ainda diretrizes com o objetivo de migração da Braskem para o Novo Mercado, nível mais elevado de governança corporativa da B3, a Bolsa brasileira.

 

Petrobras e Novonor manifestaram o interesse de, após a migração para o Novo Mercado, realizar a venda de suas respectivas participações societárias remanescentes na Braskem.

 

Segundo a empresa, todos os atos necessários para a realização da oferta estarão sujeitos à aprovação dos órgãos internos da Petrobras. “Esta operação está alinhada à gestão do portfólio e à melhoria de alocação do capital da companhia, visando a maximização de valor e maior retorno à sociedade”, disse a Petrobras. Ontem, a companhia anunciou que se desfez de US$ 4,8 bilhões em ativos não essenciais ao longo do ano de 2021.

 

Problemas em série

 

A decisão da Petrobras de vender ações via Bolsa vem depois de vários problemas que inviabilizaram outras alternativas. Em 2019, a Odebrecht chegou perto de vender sua fatia na Braskem à holandesa LyondellBasell, mas a negociação foi suspensa após 16 meses, com o aumento da insegurança jurídica em torno da Odebrecht, na esteira da Operação Lava Jato.

 

Além disso, a Braskem atrasou a entrega de documentos à Securities and Exchange Commission (SEC) – a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos – e enfrentou problemas com a exploração de sal-gema em Maceió, que causou prejuízos a vários bairros da cidade. À época, o entendimento era de que a conta do problema era difícil de ser calculada. Na sua última divulgação de resultados, a companhia informou que as provisões relacionadas ao caso já alcançam R$ 7,1 bilhões.

 

Na Bolsa brasileira, a Braskem tem hoje valor de mercado de mais de R$ 42 bilhões. Dado o grande volume financeiro envolvido no “desembarque” de Novonor e Petrobras do negócio, a expectativa é de que a venda seja feita aos poucos, com a primeira oferta realizada já no primeiro trimestre de 2022. O ritmo vai depender do humor do mercado em ano de eleição.

 

Fôlego vital

 

A Novonor, exOdebrecht, também está disposta a vender sua fatia por meio de uma oferta de ações na Bolsa, pois precisa do dinheiro para conseguir manter sua operação em pé.

 

Dona do controle da petroquímica, com 50,1% do capital votante e 38,3 do capital total, a empresa aceitou vender o controle mesmo sem receber um prêmio por isso – algo que poderia ocorrer caso a venda fosse feita no mercado privado, para um fundo ou outra empresa do mesmo segmento.

 

O banco Morgan Stanley, que passou mais de um ano procurando interessados, esbarrou na falta de interesse de compradores para todos os ativos da empresa. Foi colocada na mesa, conforme fontes envolvidas na conversa, a possibilidade de fatiamento da companhia, alternativa considerada muito complexa. (O Estado de S. Paulo/Fernanda Guimarães e Beth Moreira)