Selic vai a 9,25% e BC indica juros de 2 dígitos

O Estado de S. Paulo 

 

O Copom elevou a Selic (taxa básica de juros da economia) em 1,50 ponto porcentual, para 9,25% ao ano. É o nível mais alto desde setembro de 2017. Com a inflação persistente, o Banco Central indicou elevação idêntica para fevereiro. O novo patamar dos juros muda o cenário das aplicações financeiras.

 

Com uma inflação que não dá trégua, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou ontem novamente a Selic em 1,50 ponto porcentual, de 7,75% para 9,25% ao ano. É o patamar mais alto da taxa básica de juros desde setembro de 2017, depois de o BC ter promovido, em 2021, o maior choque de juros em quase 20 anos.

 

Além disso, o Copom já pavimentou a volta dos juros ao patamar de dois dígitos, indicando nova alta “da mesma magnitude” no próximo encontro, em fevereiro – quando a taxa chegaria, então, a 10,75%. O BC até deixou a porta aberta para uma mudança no ritmo de aumentos, já que retirou do seu comunicado trecho em que dizia que o passo de 1,50 ponto era o mais adequado para levar a inflação à meta.

 

Manteve, porém, a ressalva usual de que o plano pode ser alterado com a evolução das projeções e expectativas de inflação, do balanço de riscos e da evolução da atividade econômica, algo que pode começar a pesar com o Brasil já em recessão técnica.

 

Período perdido

 

Mesmo levando o juro a dois dígitos, o BC pode não alcançar seu objetivo. No mercado financeiro, a maioria das instituições já espera o rompimento da meta de inflação neste ano e também em 2022.

 

Para o economista-chefe da Garde Asset, Daniel Weeks, o BC mantém o ímpeto de baixar a inflação, mas olha mais para frente. “Achei que foi um jeito muito inteligente de assumir que o ano 2022 está perdido.” Já a economista-chefe do Santander Brasil, Ana Paula Vescovi, afirmou que o BC deixou claro no seu comunicado que não trará a inflação para a meta em 2022. “Nosso cenário é de Selic a 12,25%, impactando a atividade.”

 

O rendimento bruto da poupança subirá de 0,44% para 0,5% ao mês agora que o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa básica de juros a 9,25%. Apesar do rendimento mais alto, a poupança é uma das aplicações que trazem o menor retorno real ao investidor, ainda mais com a inflação projetada de 10,18% neste ano, segundo o Boletim Focus mais recente.

 

Conforme regra estabelecida pelo Banco Central (BC), a poupança rende 70% da Selic mais a taxa referencial (TR) quando a Selic está abaixo de 8,5% ao ano. Acima disso, o rendimento é de 0,5% ao mês mais a TR, que está zerada. “Se pegarmos 0,5% ao mês e levarmos a valor futuro daqui a 12 meses, a poupança vai apresentar uma rentabilidade de 6,17%”, disse Rodrigo Beresca, analista de Soluções Financeiras da Ativa Investimentos.

 

Nos cálculos do professor de Finanças da FGV Fabio Gallo, quem depositar R$ 1 mil hoje vai ter uma rentabilidade real negativa equivalente a R$ 43,64 daqui a 12 meses, considerando a inflação estimada. “Todos os investimentos em renda fixa terão retornos reais negativos porque o Banco Central ainda está correndo atrás da curva de inflação”, disse.

 

Renda fixa

 

Os analistas preveem um ano muito volátil para a renda variável em 2022 por causa das eleições. Além disso, a alta da inflação estará presente tanto por fatores domésticos quanto internacionais. Não há perspectiva de melhora no câmbio também.

 

Nesse ambiente, os especialistas recomendam outras aplicações de renda fixa aos investidores que querem tirar proveito da alta da taxa básica de juros. Entre eles, estão especialmente os papéis atrelados a alguma taxa flutuante, como o CDI ou a Selic, para um prazo mais curto, ou ao IPCA+, para um prazo mais alongado. Já quem quer algo no curtíssimo prazo deve cogitar aplicações isentas de Imposto de Renda.

 

“É realmente um momento muito interessante para investir na renda fixa”, diz Camilla Dolle, da XP. Apesar de ressaltar que o melhor investimento vai depender do perfil do investidor, ela aponta que, considerando a alta da Selic, o investimento mais indicado continua sendo nos títulos pós-fixados atrelados ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que acompanha o movimento da Selic.

 

Outra recomendação dos especialistas é investir em títulos indexados à inflação, que usam o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Esses papéis oferecem uma proteção contra a inflação para o investidor, desde que ele mantenha o papel até o prazo de vencimento.

 

“Um título indexado à inflação promete que, caso você leve até o vencimento, você terá essa proteção contra a inflação, mantendo seu poder de compra”, diz João Beck, economista e sócio da BRA, escritório credenciado da XP Investimentos. “No entanto, se resgatar antes do vencimento, você pode sair pior do que entrou, em alguns casos até com rendimento negativo”, afirma.

 

Renda variável

 

Ontem, o Ibovespa encerrou o dia com alta de 0,5%, a 108 mil pontos. As projeções de que a B3 fecharia o ano no nível dos 130 mil pontos não se concretizaram. A Bolsa acumula perdas de 9,18% em 2021 e de 5,01% em 12 meses. “Houve uma deterioração das expectativas na Bolsa, principalmente no segundo semestre. Tivemos a crise hídrica e o rompimento do teto de gastos”, afirma Beck.

 

Já a carteira mensal recomendada pela Nova Futura Investimentos em renda variável aposta em ações de bancos, varejo, commodities e rodovias. “Até há uns meses, evitávamos setores elétricos, mas as chuvas provaram ser abundantes, o que melhorou o sistema energético. Ainda existe uma cautela, mas estamos voltando aos poucos”, disse Bruno Tebaldi, analista de Risco da instituição. (O Estado de S. Paulo/Thaís Barcellos, Eduardo Rodrigues e Mateus Fagundes)