AutoIndústria
Maior blindadora de veículos do Brasil, a Carbon Blindados quer bem mais do que a participação de 20% alcançada em seus primeiros seis anos de existência, mas quatro vezes mais do que a segunda e terceira colocadas juntas. Para os próximos três anos, a empresa objetiva aumentar em cerca de 45 % o número de blindagens anuais, passar dos cerca de 3,7 mil em 2021 para algo próximo 5,3 mil em 2024.
E não por conta da evolução do próprio mercado, que, calcula Alessandro Ericsson, CEO da empresa sediada em Barueri, na Grande São Paulo, evoluirá em ritmo bem mais lento, da média 19 mil unidades para perto de 21 mil no mesmo período. O salto da Carbon, afirma o executivo, decorrerá da concretização de investimentos sobretudo na ampliação da estrutura industrial e novos produtos.
O primeiro grande passo nesse sentido foi dado em setembro, quando a Carbon assumiu definitivamente o comando da fabricante de vidros Grafenno, após quase um ano de negociações e desembolso de R$ 25 milhões. Os vidros específicos representam cerca da metade dos custos de um blindagem, explica Ercisson, que vê na verticalização da produção meio mais rápido de driblar a instabilidade no fornecimento do insumo, pulverizado entre vários fabricantes.
Com planta de 6 mil m² em Atibaia, SP, e capacidade mensal para produzir de 180 a 200 kits por mês, a Grafenno foi escolhida entre nove fornecedoras avaliadas para a aquisição. A partir de agora, se dedicará integralmente a abastecer a linha de montagem da Carbon, instalada em prédio de 24 mil m² a mais de 70 quilômetros de distância.
Outros R$ 25 milhões, entretanto, serão investidos na planta, sendo R$ 9 milhões em estoque estratégico e mais R$ 6 milhões em desenvolvimento de produtos e na imagem da marca. A maior parte, R$ 10 milhões, será dedicada a equipamentos, estrutura e treinamento para triplicar a atual capacidade produtiva.
Mesmo não vislumbrando grande mudança na economia de curto prazo, Ericsson diz que investir na capacidade instalada da Grafenno se justifica à medida que a própria Carbon hoje demanda mensalmente perto de 300 kits de vidros para atender sua produção em um turno de trabalho. E o plano de crescimento trienal vislumbra também aumentar o ritmo da linha de montagem de Barueri, cuja capacidade instalada é de 10 mil veículos em três turnos.
Para isso, o quadro de funcionários do grupo, que passou a cerca de 520 trabalhadores com o acréscimo de 120 oriundos da Grafenno, tende a crescer de forma significativa até 2024. “Devemos contratar perto de 200 pessoas”, arrisca Ericsson.
“Estamos a pleno crescimento para nos consolidarmos definitivamente como a principal empresa de segurança no segmento de blindagem civil em todo o mundo. É um investimento bastante significativo e que nos levará a ter ainda mais controle de todo o ciclo do que oferecemos ao mercado, mitigando hoje latentes riscos de ruptura na cadeia produtiva”, diz o executivo, que antecipa que apresentará novo produto nos próximos meses.
Com os estimados 3,7 mil veículos blindados, 2021 será o melhor ano de produção da Carbon, que blindou 2,2 mil no ano passado e quase 2 mil em 2019. O número poderia ser ainda 25% maior, caso as montadoras não tivessem problemas de fornecimento de componentes eletrônicos, estima o CEO.
“A falta de automóveis nos impactou até mais do que o aumento do dólar, que está na base de custos da maioria dos nossos insumos.”, afirma Ericsson, lembrando que a blindagem Nível III-A, a única oferecida pela empresa e que protege contra armas 9 mm e 44 Magnum, teve seu tíquete médio elevado de R$ 60 mil para algo entre R$ 75 mil a R$ 80 mil nos últimos dois anos.
A Carbon tem certificação da Jaguar-Land Rover e Toyota, e homologação global Volvo Cars, marcas que representam metade das blindagens. Essas qualificações implicam em garantias das próprias montadoras para os modelos blindados pela Carbon, que até já exportou 35 unidades — cinco delas modelos Volvo entregues há dois meses à família real da Suécia.
A exportação é um segmento que pode ser explorado até com mais vigor pela empresa, já a maior blindadora civil do mundo e que ganhará mais fôlego com os movimentos de ampliação da estrutura produtiva.
Ericsson lembra que, como o Brasil é o maior mercado mundial de blindagem, responsável por quase 40 % das 48 mil realizadas anualmente, as empresas locais têm know-how e escala que permitem compensar em boa medida custos logísticos de enviar um automóvel para a Europa, por exemplo.
A diferença para outros países é brutal. O segundo maior mercado é o México, com 3,5 mil blindagens, 4% do total global, seguido da África do Sul, com 1 mil veículos, ou 2%. (AutoIndústria/George Guimarães)
Bancos de montadoras veem 2022 positivo, apesar das pedras no caminho
O Estado de S. Paulo
Após um ano de crescimento, os bancos de montadoras esperam manter a trajetória em 2022. A estimativa ainda não foi fechada, mas a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef) acredita que, caso a produção afetada pela crise dos chips comece a se normalizar, haverá demanda reprimida a atender.
Em setembro, os financiamentos para compra de veículos superaram os R$ 321 bilhões, 19,3% a mais que no mesmo período do ano passado. Além de os consumidores terem voltado às concessionárias, a inflação cumpriu seu papel: o preço dos carros disparou e impulsionou essa alta.
A estrada para o ano que vem, porém, é esburacada. Em novembro, as vendas foram as piores para o mês em 16 anos. Caíram mais de 23% em termos anuais. A falta de chips continuou como vilã do setor, obrigando fábricas a ficarem parcialmente paradas. Com isso, os financiamentos a veículos usados, que são de maior risco para os bancos, ganharam relevância.
O crescimento da carteira dos bancos de montadoras tem se dado pela volta do consumidor às concessionárias, fruto da desaceleração da pandemia. Mas também escancara a escalada dos preços de automóveis no último ano – de 12,8% nos novos e 14,7% nos usados, segundo o IBGE. Para especialistas, os valores devem se manter.
Se de fato ocorrer, a normalização da produção deve mudar o mix de carros vendidos, com recuperação na produção de veículos mais baratos. Isso é bom para os bancos: Paulo Noman, presidente da Anef, afirma que os veículos mais caros muitas vezes são pagos à vista, porque têm compradores de maior poder aquisitivo. O que pode explicar o fato de que, no terceiro trimestre, quase metade (48%) dos modelos vendidos no País terem sido pagos à vista, acima da média histórica. (O Estado de S. Paulo/Matheus Piovesana)