O Estado de S. Paulo

 

A falta de chuva no campo, com quebra de safras, e a indústria afetada por gargalos nas cadeias de produção prevaleceram sobre os efeitos positivos da vacinação contra covid-19. Com isso, a economia brasileira ficou estagnada no 3.º trimestre do ano, informou o IBGE. O Produto Interno Bruto (PIB) do País registrou queda de 0,1%, após ter recuado 0,4% no trimestre anterior, levando o Brasil a uma “recessão técnica” – caracterizada por dois trimestres seguidos de retração do PIB. A vacinação em massa contribuiu para que o setor de serviços e o consumo das famílias crescessem no trimestre.

 

A economia brasileira ficou estagnada na passagem do segundo para o terceiro trimestre, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os choques na agropecuária, com a estiagem quebrando safras, e na indústria, afetada por gargalos nas cadeias globais de produção desde o início da pandemia, prevaleceram sobre o efeito da vacinação contra covid-19 na recuperação do consumo. Com isso, o Produto Interno Bruto (PIB, valor de todos os produtos e serviços produzidos na economia) registrou queda de 0,1%, após já ter recuado 0,4% no trimestre anterior.

 

Para este quarto trimestre, analistas de mercado esperam crescimento de 0,2%, fechando o ano com avanço de 4,7% ante 2020, segundo pesquisa do Projeções Broadcast feita na tarde de ontem. Mesmo assim, o desempenho do segundo e do terceiro trimestres coloca a economia em “recessão técnica”, como os economistas classificam dois trimestres seguidos de retração no PIB.

 

“Não está entrando em recessão porque não saiu da recessão de 2020 ainda”, avaliou

 

Roberto Olinto, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

 

Para Paulo Picchetti, membro do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) da FGV, os dados confirmam um quadro de “estagnação consolidada”. Segundo ele, o PIB viveu uma crise em “V” na pandemia, com forte queda, seguida de rápido crescimento e, agora, retorna à estagnação. O grupo datou o início da recessão no segundo trimestre de 2020, mas não definiu seu fim.

 

Reativação de serviços

 

No terceiro trimestre, o avanço da vacinação e a continuidade da normalização do funcionamento de salões de beleza, consultórios médicos, bares e restaurantes contribuíram para o desempenho positivo do setor de serviços, que cresceu 1,1% em relação ao segundo trimestre. Puxado pelos serviços, o consumo das famílias cresceu 0,9%. Para quem teve a renda menos afetada pela crise, a simples reabertura desses negócios já leva a um aumento do consumo.

 

“Há uma normalização das atividades presenciais. Estamos colhendo os frutos da vacinação”, disse Alessandra Ribeiro, sócia e diretora de Macroeconomia da Tendências Consultoria Integrada.

 

Segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, os serviços crescem, em parte, porque “o consumo represado tem feito as famílias migrarem um pouco do consumo de bens para o consumo de serviços”. Isso se refletiu na disparidade entre a atividade de “outros serviços”, que inclui muitos dos negócios presenciais e que cresceu 4,4% no terceiro trimestre, e o comércio, que encolheu 0,4% ante o segundo trimestre.

 

Na visão de Gilberto Tadeu Lima, pesquisador do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made) da USP, o quadro foi agravado pela indefinição, desde 2020, dos rumos do auxílio emergencial. O benefício foi reduzido no fim do ano, demorou a ter a renovação garantida em 2021, chegando a ficar suspenso nos primeiros meses deste ano e, agora, o governo foca no Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa Família. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim, Vinicius Neder, Bruno Villas Bôas e Bárbara Nascimento)