O Estado de S. Paulo
Em meio a problemas com falta de matérias-primas e de demanda, a indústria voltou a amargar retração em setembro. A produção encolheu 0,4% em relação a agosto, o que fez o setor acumular uma perda de 2,6% em quatro meses de recuos consecutivos, segundo dados divulgados ontem pelo IBGE.
Dos nove primeiros meses de 2021, a indústria cresceu em apenas dois deles: janeiro (0,2%) e maio (1,2%). Com mais o desempenho negativo de setembro, a indústria opera atualmente em patamar 3,2% inferior ao de fevereiro de 2020, no pré-pandemia. Quando ainda crescia, em janeiro, a indústria chegou a alcançar saldo positivo de 3,5% em relação ao pré-covid.
“A gente tem observado por parte dos informantes maior frequência de paralisações e reduções de jornadas de trabalho, por conta de dificuldades de obtenção de matérias-primas, redução de demanda”, afirmou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.
Em setembro, a produção industrial estava 19,4% abaixo do patamar recorde alcançado em maio de 2011. “Vemos uma produção industrial que vem se caracterizando, ao longo de 2021, por um comportamento negativo em sequência.”
PIB. O resultado ficou dentro do esperado por analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, mas a contração do setor em setembro impôs um viés de baixa à projeção de crescimento de 0,95% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no terceiro trimestre, ante o segundo trimestre, feita pela consultoria Pezco Economics.
“Quando comparado à curva de produção da indústria nos anos anteriores, o nível do terceiro trimestre de 2021 é só um pouco melhor do que o do mesmo período de 2016, quando a indústria estava bastante deprimida”, disse o economista Helcio Takeda. “Parece que boa parte da explicação para essa redução do nível está associada ao desarranjo da cadeia de produção.”
Expansão modesta
Já o economista sênior Daniel Xavier, do Banco ABC Brasil, manteve a projeção de expansão modesta de 0,2% do PIB brasileiro no terceiro trimestre de 2021, mas neste caso muito mais sustentada por um crescimento da atividade de serviços. “O PIB total continua assegurado, apesar desse desempenho setorial divergente”, afirmou Xavier.
Proporcionalmente, as principais influências negativas em setembro foram de produtos alimentícios (queda de 1,3%) e metalurgia (2,5%).
Entre as 14 atividades industriais com expansão em setembro ante agosto, os destaques foram produtos farmoquímicos e farmacêuticos (6,5%), outros produtos químicos (2,3%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,0%) e máquinas e equipamentos (1,9%). (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim e Cícero Cotrim)