Estado norte-americano estuda liberar a circulação de rodotrens

Blog do Caminhoneiro

 

Caminhões com até 40 metros de comprimento poderão circular, em testes, por algumas rodovias do estado norte-americano de Dakota do Norte. A circulação desses veículos será liberada dentro de um estudo abrangente, para avaliar os impactos positivos e negativos desses veículos no tráfego e logística local.

 

As discussões sobre o tema começaram no ano passado, mas, como alguns legisladores do estado consideram que esse tipo de veículo possa comprometer a segurança das rodovias, inicialmente serão realizados esses testes.

 

Para o Departamento de Transporte da Dakota do Norte, esses veículos e grande porte poderão reduzir o consumo de combustível e agilizar as entregas, sendo parte da solução para combater a escassez de motoristas que assola os Estados Unidos.

 

A circulação será limitada, inicialmente, apenas para algumas empresas que farão parte dos testes, com caminhões de 40 metros de comprimento máximo e 68 toneladas de PBTC, com dois ou três implementos, algo semelhante ao que ocorre com a circulação de roadtrains na Austrália.

 

Os testes também serão limitados às estradas estaduais de Dakota do Norte, já que não existe previsão para esse tipo de composição em rodovias federais dos Estados Unidos.

 

Mais países vão usar bitrens e rodotrens

 

Apesar de serem muito comuns no Brasil, o uso de caminhões do tipo bitrem e rodotrem, que garantem ganhos na carga transportada e redução no consumo médio de combustível não são autorizados a circularem em muitos países do mundo. Por isso, a Organização Mundial de Transporte Rodoviário (IRU) fez um apelo, para que os governos passem a permitir o uso de Eco-Trucks, caminhões maiores que conseguem levar até 50% mais carga em cada viagem. De acordo com a entidade, essa medida simples e barata poderia reduzir as emissões de CO² na atmosfera em mais de 13 bilhões de toneladas até 2050.

 

A entidade afirma ainda que esses veículos maiores conseguem transportar mais cargas por viagem que as combinações de veículo padrão, podem oferecer uma solução mais rápida e viável para a descarbonização do planeta, em comparação com o uso de combustíveis alternativos ao diesel por exemplo.

 

Para a IRU, cada bitrem na estrada transporta até 50% mais carga que um caminhão convencional, o que já pode reduzir o número de caminhões nas estradas instantaneamente. O consumo de combustível em relação à carga transportada caí cerca de 35%, ampliando a eficiência ambiental e também a saúde econômica do transporte rodoviário de cargas.

 

“Os benefícios dos Eco-trucks são claros, com emissões significativamente mais baixas de CO², bem como maior eficiência e custos reduzidos. O próprio nome já diz: Os Eco-trucks são ecológicos e econômicos”, disse o secretário-geral da IRU, Umberto de Pretto.

 

Pesquisas afirmam que a substituição de 30% da frota global de caminhões por modelos que transportam mais cargas por viagem já reduziriam as emissões de CO² em 237 milhões de toneladas anualmente. Como a previsão é que o transporte rodoviário de cargas triplique até 2050, isso seria responsável por reduzir as emissões em 700 milhões de toneladas de CO² até 2050.

 

O cálculo total diz que o CO² deixado de ser emitido até 2050 chegaria à casa das 13,5 bilhões de toneladas. Por ano, a humanidade é responsável pelas emissões de 36 bilhões de toneladas de CO² na atmosfera.

 

Apesar do transporte rodoviário ser responsável por apenas 2% de todas as emissões globais de poluentes, o uso generalizado de caminhões maiores teria um impacto significativo ao longo dos anos na descarbonização.

 

Logística mais ecológica e eficiente

 

Quando se fala em navios, aviões e trens, é cada vez mais comum o uso de opções com maiores capacidade de cargas. Por isso, o uso de caminhões maiores também seria crucial para aumentar a eficiência logística e também a sustentabilidade do setor de transportes como um todo.

 

O uso de bitrens e outras composições maiores já é comum em alguns países, como Brasil, Austrália, China, México, África do Sul e em alguns locais da Europa. Em todos os casos, houve ganhos significativos na eficiência geral do transporte rodoviário.

 

Apesar disso, o uso mundial desse tipo de composição segue prejudicado pela falta de leis mais claras e harmônicas. Por isso, o uso desses veículos entre países permanece raro. Muitos países não permitem que essas composições entrem pelas suas fronteiras.

 

Convocação

 

A IRU está fazendo uma convocação global para destacar aos formadores de políticas globais as vantagens do uso de bitrens e rodotrens, para permitir e promover seu uso em todo o planeta.

 

“Os governos estão perdendo uma oportunidade de acelerar a descarbonização e apoiar o crescimento econômico. A hora de agir é agora”, concluiu Umberto de Pretto.

 

Brasil já tem super rodotrem

 

O Conselho Nacional do Trânsito publicou em setembro uma resolução que estabelece os requisitos necessários à circulação de Combinações de Veículos de Carga (CVC) com Peso Bruto Total Combinado superior a 74 toneladas e inferior ou igual a 91 toneladas destinadas ao transporte de cana-de-açúcar.

 

Voltadas exclusivamente ao transporte de cargas do setor sucroalcooleiro, essas composições só poderão circular com Autorização Especial de Trânsito (AET), que deverá ser renovada anualmente. As composições poderão ter até 4,40 metros de altura, com comprimento mínimo de 28 metros e máximo de 30 metros, sendo necessário ser rebocada por caminhões 6×4 com Capacidade Máxima de Tração igual ou superior ao PBTC de 91 toneladas.

 

As composições são formadas por um cavalo-mecânico de três eixos, mais um semirreboque com três eixos e reboque com cinco eixos, sendo um tandem duplo dianteiro com rala e um tandem triplo traseiro.

 

A circulação também estará condicionada ao uso de sinalização específica na traseira, conforme estabelecido pelo Contran, além de proteção para a carga transportada. Para ampliar a segurança, essas composições poderão usar um sistema adicional de iluminação de LED para sinalização lateral e traseira nos implementos.

 

O Contran também destacou que não serão permitidos implementos adaptados com 11 eixos, sendo que devem ter saído de fábrica com essa configuração, devidamente homologados e com código específico na tabela de marca e modelo do Renavan.

 

Para as empresas interessadas no uso desses implementos em vias públicas, será necessário o cumprimento de uma série de obrigações, como um Estudo Técnico que comprove a compatibilidade das CVC nas vias que pretende circular, laudo técnico dos implementos, certificado de avaliação de conformidade emitido pelo Inmetro, além de um estudo detalhado de viabilidade de tráfego no percurso proposto, com análise de geometria da via, análise de capacidade e nível, estudo de tráfego para possível instalação de terceira faixa em aclives, sinalização horizontal e vertical, análise da capacidade de suporte da rodovia ao conjunto, análise de pontes e viadutos, e apresentação de medidas para sanar qualquer problema encontrado no trecho.

 

Esses super rodotrens só poderão circular com velocidade máxima de 60 km/h, e nunca poderão rodar em comboio, devendo respeitar uma distância mínima de 300 metros entre cada rodotrem. Faróis devem estar sempre acessos, e não poderão realizar ultrapassagens.

 

Para rodar à noite, em vias de pista simples, a rodovia deverá ter um fluxo considerado baixo, e nunca poderão parar sobre pontes ou viadutos, para não comprometer suas estruturas.

 

Caso ocorra a imobilização do veículo sobre pontes ou viadutos, as empresas responsáveis deverão informar e apresentar estudos técnicos de vistoria e análise estrutural para avaliação dos eventuais danos causados, em menos de 24 horas.

 

Esses veículos também não poderão rodar em trechos maiores que 80 quilômetros.

 

Outras exigências são a necessidade de um sistema de freio que garanta que o conjunto, rodando a 35 km/h, pare em 16,5 metros com o freio de serviço ou 40,5 metros, quando o freio de emergência é usado.

 

Cada vez mais, os rodotrens e bitrens serão mais comuns em rodovias de todo o mundo. (Blog do Caminhoneiro/Rafael Brusque)