Canal Tech
A Volkswagen é uma das maiores montadoras do mundo e ter o volume de vendas que ela tem não é por acaso. A empresa, que já chegou a liderar o mercado brasileiro e ostenta, ainda, a façanha de ter o carro mais emplacado do Brasil em todos os tempos, precisou investir pesado ao longo dos anos para melhorar sua produção, otimizando o tempo, a segurança e os custos. Os resultados são visíveis, inclusive com exportação de tecnologia para outros países e carros 100% desenvolvidos por aqui, como o Volkswagen Nivus.
Em visita à histórica fábrica da Anchieta, localizada em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, o Canaltech viu de perto tudo o que a montadora oferece aos seus times de desenvolvimento e chão de fábrica, que vai desde simuladores de linha de produção em realidade virtual à criação de peças de plástico por meio de impressoras 3D. Quando falamos que os automóveis são itens tecnológicos de ponta a ponta, não é nenhum exagero.
Parece videogame
A gamificação é um processo utilizado em peso na indústria 4.0 e a Volkswagen soube adaptar esse recurso como poucas empresas. Na fábrica, os funcionários da linha de montagem passam por treinamentos rígidos com forte controle de qualidade, mas, em vez de utilizar peças e robôs de verdade, eles são inseridos em um mundo que lembra muito o dos videogames, lançando mão de tecnologias como realidade virtual e realidade aumentada.
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“O conceito de Fábrica Digital está presente na Volkswagen desde 2006, desde então o desenvolvimento na planta tem sido feito ano a ano, com conquistas importantes e otimização enorme do tempo. Os resultados desse trabalho podem ser vistos não apenas na fabricação, mas também nos carros em si”, disse Marcelo Lander, supervisor de Automação e Digitalização da Volkswagen do Brasil, em apresentação ao Canaltech.
Entre as tecnologias utilizadas no que a VW chama de fábrica digital está o uso constante de equipamentos de realidade virtual e realidade aumentada. Os funcionários conseguem simular a montagem de um carro e conhecer todos os seus componentes por meio de uma “visita” ao mundo digital, realizando movimentos e demais procedimentos com muito mais segurança e velocidade.
Há alguns anos, por exemplo, a montadora chegou a utilizar o extinto Kinect, desenvolvido pela Microsoft para o uso recreativo no Xbox 360 e, posteriormente, no Xbox One. Com as câmeras do aparelho, o equipamento conseguia medir a silhueta dos trabalhadores e detectar movimentos equivocados para que depois, nos treinamentos, os líderes pudessem corrigi-los e tornar tudo mais confortável.
A reportagem do Canaltech experimentou o simulador de fábrica e em poucos minutos conseguiu se adaptar à função. No primeiro teste, precisamos entrar na linha de montagem do Volkswagen Polo, colocando duas peças específicas no corpo do veículo. Depois, assistimos “de perto” a montagem dos carros em uma linha de produção virtual, tudo utilizando os óculos de realidade virtual HTC Vive.
Tudo na nuvem
Além da gamificação, a Volkswagen faz uso da computação na nuvem para otimizar a produção em suas fábricas. Segundo Lander, por meio do Amazon Web Services, as 122 fábricas do grupo espalhadas pelo mundo estão conectadas e trocam informações em diferentes aplicações, tudo para facilitar a produção dos veículos. A plataforma é chamada de Digital Product Platform. “Um carro, feito do zero, demora cerca de 3 anos para ser desenvolvido. Com os recursos que temos hoje, é possível que, em alguns processos, consigamos economizar 12 semanas”, disse Lander.
Um efeito prático na ilha robotizada, como é chamada esta parte da fábrica, é justamente na montagem dos carros. Com o processo automatizado e que recebe ajuda de aprendizado de máquina, ficou muito mais fácil e rápido instalar os opcionais nos automóveis. Por exemplo: se eu quero que meu Virtus Comfortline tenha as rodas de liga leve, as marcações digitais vão levar a informação aos robôs e a instalação no meu veículo será feita, sem o risco de que outro receba esse item.
Além disso, com os carros prontos e indo para o pátio, que pode abrigar mais de 10 mil unidades, também ficou mais fácil de localizá-los graças às etiquetas digitais e rastreadores. Menos tempo gasto em todo o processo gera economia e clientes mais satisfeitos. Segundo a VW, é possível que, no futuro, com a chegada do 5G, tudo fique ainda mais rápido e otimizado, com correções no processo feitas de país para país.
Fábrica Piloto
Mais adentro na gigantesca fábrica da Volkswagen, também conhecemos a Fábrica Piloto, que está sob a supervisão de Jorge Eloi “Pino” Barbosa Júnior. Por ali, testes importantes são feitos nos protótipos dos automóveis, além de exercícios que depois serão repassados às fábricas de todo o Brasil. Um dos itens de maior destaque é a impressão 3D de peças, que servem para, entre outras coisas, a criação de protótipos, muito usados em lançamentos e eventos.
“Compensa muito mais criar uma carcaça de automóvel em uma impressora 3D do que na fábrica. É mais barato e mais rápido”, disse Pino. Apesar da otimização de tempo para fins experimentais, a Volks não quer criar peças e acabamento para seus carros nessa impressora, pois, neste caso, ficaria muito mais lento e caro, já que a realidade e demanda da fábrica é bem maior e mais difícil.
“Para um carro que vai chegar em dois, três anos, compensa muito mais desenvolver o projeto no computador e trazer para que façamos as peças na impressora. Economiza um dinheiro absurdo na criação de um protótipo no chão de fábrica e permite que façamos ajustes pontuais”, disse Pino.
Brasil como referência
Segundo a Volkswagen, o Brasil é uma das referências quando o assunto é tecnologia dentro do grupo. O país já é responsável pela exportação de diversas ideias e produtos. Entre elas, a ótima central multimídia VW Play, já avaliada no Canaltech dentro do Volkswagen Nivus. O SUV, aliás, também foi 100% desenvolvido pelo time brasileiro da montadora e, recentemente, desembarcou na Europa, mas com o nome Taigo.
Com mais tecnologia e processos otimizados, a Volkswagen garante que consegue entregar produtos ainda melhores e com nível de detalhamento mais completo. Isso, por vezes, pode não ser refletido diretamente no preço dos carros, mas garante maior valor agregado e segurança para quem fabrica e compra os automóveis da marca. A indústria 4.0 veio para ficar. (Canal Tech/Felipe Ribeiro e Jones Oliveira)