Qual o impacto dos investimentos em carros elétricos para o mercado?

O Estado de S. Paulo

 

Os investimentos na produção de veículos elétricos das principais montadoras do mundo podem valorizar a cotação de mercado de outros produtos que fazem parte da cadeia produtiva automobilística, nos próximos anos. O lítio, principal matéria-prima para a produção de baterias de carros elétricos, pode ser um deles, segundo a previsão de analistas.

 

Essa mudança deve gerar impactos também para o mercado financeiro, principalmente a partir da próxima década, devido a previsão das montadoras para a troca da matriz energética de seus veículos. Mas quais serão as empresas que devem se beneficiar com esse processo?

 

As projeções dos especialistas apontam para as companhias que fornecem as matérias-primas para a produção de carros 100% elétricos. “Espera-se que a demanda por carro elétrico corresponda a maior parte do consumo de lítio no mundo no futuro. Isso vai demandar investimento”, avalia Arthur Siqueira, sócio-diretor da Geo Capital.

 

Dentro desse segmento, as empresas Sociedade Química e Mineira do Chile (SQM), Albemarle Corporation ( A1LB34), Livent (LTHM), Tiangi e Ganfeng (002460) concentram maior parte da produção de lítio no mundo e devem, na visão de Siqueira, se beneficiar com esse movimento.

 

“A gente está olhando mais para Albemarle (A1LB34) por achar que é uma empresa que possui uma distribuição geográfica e formas de extrair lítio mais balanceadas. É uma empresa que está bem-posicionada na possibilidade de expansão”, sugere Arthur.

 

Em relação ao petróleo, mesmo com a mudança da matriz energética, Rodrigo Lima, analista de investimentos da Stake, acredita que não deve trazer grandes impactos para os preços da commodity porque esse processo deve acontecer de forma gradual no mundo. “Não quer dizer que o petróleo vá ser abandonado completamente até porque a gente precisa do plástico e de uma série de outras coisas”, afirma.

 

Já Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, acredita que o processo deve impactar na demanda do petróleo no futuro, mas confessa que é difícil fazer estimativas sobre como esse possível cenário deve afetar no preço da commodity. “Acredito que não deve ser um processo que atinja a todos na mesma intensidade, mas a gente vai ter sim uma redução na demanda. Há pessoas que esperam uma redução da demanda de 30% a 40%. Eu fujo de projeções”, ressalta.

 

Tentativa de sobrevivência

 

Em fevereiro deste ano, a Ford anunciou que a sua linha de carros na Europa será toda elétrica a partir de 2030. De acordo com informações da agência Reuters, para atingir essa meta, a montadora irá investir um bilhão de dólares nos próximos 30 meses.

 

O mesmo movimento foi feito pela Volkswagen. A montadora alemã deve desembolsar 44 bilhões de euros para a produção de veículos elétricos. A expectativa da companhia é se tornar líder mundial neste segmento. A General Motors também anunciou o investimento de 35 bilhões de dólares para a produção de carros elétricos.

 

Mas de acordo com Guilherme Zanin, estrategista da Avenue Securities, esses aportes bilionários das companhias sinalizam a necessidade dessas empresas tradicionais em manter suas posições no mercado em um futuro próximo. Isso porque, na avaliação dele, essa mudança de perspectiva se deve à performance bem-sucedida da Tesla (TSLA34) no mercado de automóveis com a venda de carros elétricos.

 

“A empresa conseguiu provar que um carro poderia ser totalmente elétrico, seguro e tecnológico e que isso poderia se tornar uma empresa sustentável a longo prazo. Esse movimento surgiu lá em 2009”, afirma Zanin. “Essa mudança de paradigma da indústria inicialmente é como uma forma de sobrevivência. A empresa que deseja estar na próxima década precisa ter seus carros elétricos”, acrescenta.

 

O anúncio desses investimentos trouxe algumas sinalizações positivas aos investidores, pelo menos para o caso da Ford. No dia 17 de fevereiro deste ano, data que a empresa informou sobre a sua mudança de frota, os papéis da montadora de veículos fecharam com uma alta de 1,71%, chegando a R$ 62,55. Apesar desses indicativos, Rodrigo Lima ressalta que o investidor não pode se limitar apenas a essa informação. É preciso analisar de companhia terá capacidade de gerar receita.

 

“As precificações dessas ações podem refletir certas expectativas irreais. O que costuma impactar nas cotações das ações nas bolsas é o resultado de geração de receita e lucro”, afirma. (O Estado de S. Paulo/Daniel Rocha)