O Estado de S. Paulo
A economia da China desacelerou no terceiro trimestre, prejudicada por escassez de energia, gargalos nas cadeias de abastecimento e turbulências no mercado imobiliário. Internamente, a situação eleva a pressão sobre o governo para mais ações para tentar alavancar a recuperação econômica. Externamente, aumenta a preocupação de nações como o Brasil, que tem o país asiático como o principal destino das exportações de suas commodities (matérias-primas cotadas em dólar).
A China é comparada a um motor para o crescimento global. Em setembro, a economia chinesa registrou seu pior desempenho desde os primeiros dias da pandemia.
Os dados divulgados na noite de domingo mostram que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 4,9% entre julho e setembro em relação ao mesmo período do ano anterior, o menor índice desde o terceiro trimestre de 2020 e abaixo das previsões. Uma pesquisa da agência de notícias Reuters com analistas apontava para um aumento do PIB de 5,2% no período.
No segundo trimestre, a economia chinesa havia crescido 7,9%. Desde o início de 2021, o PIB da China acumula alta de 9,8% em relação ao mesmo período do ano passado.
A economia chinesa teve uma recuperação impressionante desde a crise pandêmica do ano passado, graças à contenção eficaz do vírus e à alta demanda no exterior por produtos manufaturados do país. Mas a retomada perdeu força desde o crescimento explosivo de 18,3% registrado no primeiro trimestre deste ano. Os números fracos fizeram com que o yuan e a maioria dos mercados de ações asiáticos caíssem em meio a preocupações mais amplas de investidores sobre a recuperação econômica mundial.
A segunda maior economia do mundo enfrenta a crise da dívida da gigante do setor imobiliário Evergrande, atrasos na cadeia de abastecimento e uma grave escassez de eletricidade, o que derrubou a produção das fábricas ao ponto mais fraco desde o início de 2020, quando pesadas restrições relacionadas à covid-19 estavam em vigor. “A recuperação econômica doméstica ainda é instável e desigual”, disse o portavoz do Escritório Nacional de Estatísticas (NBS, na sigla em inglês), Fu Linghui.
Cenário de risco
Há motivos de sobra para que o governo fique preocupado. As siderúrgicas enfrentaram cortes de energia. A escassez de chips de computador desacelerou a produção de automóveis. Empresas imobiliárias problemáticas compraram menos material de construção. As inundações interromperam os negócios no centro-norte China.
A queda poderia ter sido pior. No entanto, dois pontos positivos impediram a estagnação da economia. As exportações permaneceram fortes e as famílias, especialmente as mais ricas, voltaram a gastar com refeições e outros serviços. As vendas no varejo aumentaram 4,4% em setembro em relação ao ano anterior.
As autoridades chinesas dizem estar atentas, embora evitem a adoção de um grande programa de estímulo e adotem ações pontuais. “As atuais incertezas no ambiente internacional estão aumentando, e a recuperação econômica doméstica ainda é instável e desigual”, disse Linghui.
Nos últimos meses, o governo colocou em prática uma série de medidas para enfrentar a desigualdade de renda e domar os negócios, em parte com o objetivo de proteger a saúde da economia. No entanto, os esforços, incluindo punir empresas de tecnologia e desencorajar a especulação imobiliária, também acabaram atrapalhando o crescimento da economia no trimestre.
“A economia está lenta”, disse Yang Qingjun, dono de uma mercearia de esquina em um antigo bairro industrial de fábricas de calçados em Dongguan, perto de Hong Kong. Os cortes de energia fizeram com que as fábricas próximas reduzissem as operações e eliminassem o pagamento de horas extras. Os trabalhadores locais estão vivendo de forma mais econômica. “Tem sido difícil ganhar dinheiro”, disse Yang. (O Estado de S. Paulo)