Estradão
A alta do diesel está comprometendo a rentabilidade de caminhoneiros autônomos e transportadoras. De acordo com a NTC&Logística, em 15 meses o preço do combustível subiu 49,7%. Para reduzir os impactos dos reajustes nos preços, empresários do setor estão focando a gestão e em alternativas ao óleo. Ou seja, em caminhões elétricos e a gás. Há até transportadora investindo na produção de biogás para mover seus caminhões.
Os esforços têm um bom motivo. O diesel representa 46,08% dos custos diretos do transporte. Assim, a alta do diesel afeta tanto o transporte de passageiros quanto o de carga. Como resultado, quando o preço do combustível sobe, todos os produtos tendem a ficar mais caros. Isso porque 60% de todas as mercadorias que circulam no Brasil são movimentadas por veículos de carga.
A Expresso Princesa dos Campos é um bom exemplo de empresa do setor. A companhia atua no transporte rodoviário de passageiros e carga. No caso do primeiro segmento, os aumentos obedecem a tabela fixada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). “Elas são reajustadas no início do ano com base no aumento dos custos do ano anterior. Portanto, o impacto gerado ao longo deste ano só vai refletir no próximo”, explica o presidente da empresa, Gilson Barreto.
Princesa dos Campos premia motorista eficiente
Segundo ele, para reduzir os efeitos da alta do diesel a Princesa dos Campos vem investindo em novas tecnologias. Como, por exemplo, a telemetria, que permite acompanhar a operação de cada veículo. Além disso, a companhia passou a premiar os motoristas que dirigem de forma econômica. E diminuiu o intervalo para renovação da frota. Segundo Barreto, os veículos mais novos gastam menos.
Como resultado, a idade média dos ônibus baixou de oito para 4,9 anos. Além disso, a empresa faz parte do Grupo Suply Bus. Ou seja, uma cooperativa formada por 26 companhias do setor do Paraná. Dessa forma, elas compram diesel e outros insumos em grande escala. Assim, conseguem negociar preços até 8% mais em conta na comparação com compras feitas de forma individual.
Segundo Barreto, no caso da divisão de carga há uma tarifa reguladora. Porém, ele afirma que não consegue repassar toda a alta do diesel ao embarcador. Ou seja, o aumento do combustível acaba corroendo a lucratividade. Assim, a empresa vem fazendo estudos sobre a viabilidade dos veículos eletrificados. As possibilidades são adquirir caminhões novos ou fazer o chamado e-retrofit.
Rumo à eletrificação
Nesse sentido, os estudos estão em fase avançada. Tanto que a Princesa dos Campos já vem atuando com a Eletra para transformar alguns modelos a diesel em elétricos. Assim como negocia com a JAC Motors e a VWCO a compra de caminhões 100% elétricos. Por ora, a empresa pretende realizar testes com esses modelos em suas operações. Nesse sentido, a companhia já testa um Renault Kangoo 100% elétrico em rodas na região metropolitana de Curitiba.
O furgovan tem motor de 44 kW e baterias de 33 kWh que garantem autonomia de até 200 km. Além disso, a empresa está testando um ônibus elétrico da BYD. Segundo Barreto, pare ser viável nas operações da companhia o modelo precisar ter autonomia de, pelo menos, 700 km. Além disso, seria necessário contar com financiamento por meio do Finame. seja como for, em 2022 a Princesa dos Campos terá os primeiros caminhões elétricos em sua frota.
Porém, a eletrificação vai começar pelo e-retrofit. Assim, a empresa listou os caminhões que podem passar pelo processo. Entre as variáveis, foram considerados a idade média e o tipo de operação em que atuam. De acordo com Barreto, há linhas de crédito específicas para esse tipo de transformação. Portanto, essa facilidade deve ajudar a acelerar a mudança na frota.
Com caminhões elétricos, Movah Group reduziu custos
Assim como a Princesa, o Movah Group está investindo na eletrificação. Dono da Manlog Transportes e da Wings Logística, o grupo conta com 32 caminhões elétricos em sua frota de 146 veículos. CEO da companhia, Thiago Suzin (foto abaixo) diz que tudo começou para atender uma nova demanda dos clientes. Ou seja, a busca por operações de transporte menos poluentes.
Seja como for, o Movah Group também aposta na gestão. “Estamos gerindo com mais afinco todas as contas das empresas. Desde combustível, manutenção a produtos em geral e pagamento de pedágio”, afirma Suzin. Segundo ele, o objetivo é melhorar a eficiência e a rentabilidade das operações. “É impossível repassar todos os custos aos nossos clientes”, diz.
De acordo com o executivo, a maior parte da alta dos custos acaba sendo absorvida pela companhia. Além disso, ele aponta outras vantagens na eletrificação. “Os caminhões elétricos nos levaram a um patamar de visibilidade muito alto. E a tecnologia desses veículos ajuda na gestão do negócio. Bem como a eletricidade custa menos que o diesel, assim como a manutenção dos caminhões é menor”.
Produção própria de biometano
Todos os caminhões elétricos da frota são modelos da JAC Motors. Portanto, são voltados a operações urbanas. E atuam nas cidades de São Paulo, Brasília, Goiânia e Curitiba. Bem como em alguns municípios da Bahia. Aliás, a marca chinesa acaba de fechar um grande contrato com a Ambev. A fabricante de bebidas anunciou nesta quinta-feira (8) a compra de 150 caminhões elétricos. Segundo a empresa, as entregas serão feitas até o fim de 2021, ampliando a frota para 250 caminhões elétricos. Os outros 100 são modelos e-Delivery, fabricados no Brasil pela VWCO.
Seja como for, o Movah Group também aposta em outras frentes. É o caso dos caminhões movidos a biometano, gás gerado a partir do processamento do biogás. Por sua vez, esse combustível é produzido com resíduos orgânicos. Porém, Suzin diz que do ponto de vista operacional o custo é alto. Por isso, a companhia está criando sua própria infraestrutura de produção de biometano. O projeto vai ser feito em Goiás e dever ficar pronto em cerca de um ano.
Até lá, a empresa deverá adquirir uma frota de caminhões a gás. Por ora, apenas a Scania oferece essa tecnologia no Brasil – a Iveco vai entrar no segmento em breve. O biometano faz muito sentido para nós porque é produzido a partir do reaproveitamento de resíduos. Portanto, gera maior valor às operações. Além disso, com a produção será própria, vai ser mais saudável para o caixa”, diz Suzin.
Redução de impostas refletiria na alta do diesel
Os combustíveis alternativos são uma solução para a frequente alta do diesel. Segundo a professora de economia da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Nadja Heiderich, é preciso investir na produção e desenvolvimento de novas soluções. Por exemplo, os modais ferroviário e a cabotagem, ou seja, a navegação no mar e próxima à costa do País. Porém, essas são alternativas para projetos de longo prazo.
Além disso, há a questão dos impostos. Ou seja, além do custo de produção e distribuição, no preço dos combustíveis estão embutidos o ICMS (estadual), a Cide e o PIS/Pasep Cofins (federais). Segundo a Petrobras, 6,9% do preço do diesel correspondem a impostos federais e 16% a estaduais. Nadja concorda que o País precisa fazer reformas tributária e administrativa. Assim, a redução do tamanho do Estado pode ajudar a simplificar e reduzir tributos.
Seja como for, enquanto o cenário não muda é o consumidor quem paga a conta. “A maior parte dos itens produzidos e comercializados no Brasil é transportada pelo modal rodoviário”, diz Nadja. Assim, segundo ela, a alta do diesel faz com que o preço do frete suba. Como resultado, há aumento nos valores pagos por todos produtos que chegam ao consumidor final.
Redução de impostos
Presidente da Serafim Transportes, Geovani Serafim (acima) concorda com esse raciocínio. De acordo com ele, os custos operacionais da transportadora aumentaram 16% apenas em 2021. Assim, a empresa repassou parte dos reajustes aos embarcadores. “Não tem como não repassar os aumentos”, diz. De acordo com ele, o diesel representa de 35% a 50% dos custos. O executivo diz que, por ora, não há como investir em eletrificação. Para ele o principal entrave é o alto valor do investimento.
Outro complicador é a dificuldade que o transportador encontra para fazer previsões sobre os custos. “Nossos contratos são de curto prazo. Alguns são de 15 dias”, diz André Rutatto da Rufatto Transportes. De acordo com ele, 90% das operações da empresa são internacionais. Assim, ele afirma que é difícil repassar todos os aumentos de custos aos embarcadores.
“Não consigo prever se haverá alta do diesel nesse período”, afirma. Porém, segundo ele isso é cada vez mais comum. O problema é que há casos em que a alta ocorre logo após a assinatura do contrato, Portanto, a rentabilidade cai drasticamente, mas nem sempre é possível reverter a situação “Não dá para voltar atrás”, explica o sócio administrador da companhia. (Estradão/Andrea Ramos)