O Estado de S. Paulo
O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu as projeções de crescimento do Brasil, em especial a de 2022. De acordo com o relatório Perspectiva Econômica Mundial, a estimativa de variação do Produto Interno Bruto (PIB) do País no próximo ano recuou de 1,9% para 1,5%. Para 2021, variou de 5,3%, divulgada em julho, para 5,2% agora.
A economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, afirmou que o “pequeno corte” na projeção para o crescimento do Brasil neste ano é resultado do aperto na política monetária e do quadro econômico nos Estados Unidos. Ela citou o País brevemente, durante entrevista coletiva no lançamento da publicação.
A revisão é fruto dos “efeitos que esperamos com a alta dos juros na política monetária, diante da inflação alta no Brasil e também por causa da previsão de menos crescimento nos Estados Unidos, que é um importante parceiro comercial”, disse Gopinath. O FMI também notou que o avanço dos preços das commodities (matérias-primas cotadas em dólar) e o retorno dos setores industrial e de serviços após o auge do choque da pandemia da covid-19 “têm sido importantes para a recuperação” brasileira.
O FMI estima que o IPCA chegará a 7,9% no final deste ano, acima dos 4,6% informados anteriormente, e que em 2022 este índice de preços ao consumidor avançará 5,3%, superior aos 4% estimados há seis meses.
Segundo o FMI, a projeção para o déficit de transações correntes como proporção do PIB caiu um pouco para 2021, de 0,6% para 0,5%, e aumentou para o próximo ano, de 0,8% para 1,7%. No caso da taxa de desemprego, o FMI reduziu as estimativas de 14,5% para 13,8% em 2021 e de 13,2% para 13,1% no próximo ano.
Entre os poucos comentários sobre a evolução da economia do Brasil, o documento destaca que as projeções para as contas públicas refletem anúncios de políticas de estímulo pelo governo e consideram “conformidade total com o teto constitucional de gastos”.
O FMI apontou que premissas para a política monetária no País “são consistentes com a convergência da inflação em direção ao centro da meta no final de 2022”. O fundo citou que as ações do Banco Central “mudaram para uma postura menos acomodatícia desde o final de 2020”, o que também ocorreu no Chile, no México e na Rússia.
Apreensão global
Apesar do avanço da vacinação contra a covid-19 em diversos países, os riscos para a economia global persistem, sobretudo com a variante Delta, o que levou o FMI a reduzir um pouco a previsão de alta do crescimento global de 6,0% para 5,9% neste ano, mantendo a estimativa de expansão de 4,9% em 2022.
Segundo Gita Gopinath, a produção dos países avançados deve atingir os níveis pré-pandemia em 2022 e exceder tal patamar em 0,9 ponto porcentual em 2024. Ela pondera que o nível de atividade em mercados emergentes e nações em desenvolvimento, à exceção da China, deve ficar 5,5 pontos porcentual abaixo do nível anterior à covid-19 em 2024, o que resultará em “grandes retrocessos para a melhora das condições de vida” de seus cidadãos.
As ações dos países ricos para assegurar a imunização em nações em desenvolvimento são, conforme a instituição, fundamentais para o crescimento global e para o controle da pandemia. “Enquanto perto de 60% da população em economias avançadas está totalmente vacinada e alguns estão recebendo os reforços, cerca de 96% da população em países de baixa renda continua sem vacinas”, destacou Gopinath. Na sua avaliação, os mercados emergentes estão removendo com maior rapidez estímulos a empresas e famílias devido ao risco de perder a ancoragem de expectativas de inflação e diante de condições financeiras mais apertadas.
Conforme o relatório, a prolongada pandemia provocou interrupções da fabricação de mercadorias, o que, aliado à alta de commodities, levou a um aumento expressivo da inflação de forma global, prejudicando países avançados, como os EUA e a Alemanha, e também nações em desenvolvimento.
A publicação também citou as mudanças climáticas e a necessidade de medidas para coibir a emissão de carbono, como um imposto sobre CO2.
O FMI reduziu a previsão de crescimento dos EUA de 7% para 6% neste ano e elevou de 4,9% para 5,2% em 2022. No caso da China, baixou de 8,1% para 8,0 em 2021 e de 5,7% para 5,6% em 2022. Em relação à zona do euro, aumentou a previsão de 4,6% para 5,0% neste ano e manteve os 4,3% de avanço em 2022. Para o Japão, reduziu a estimativa de 2,8% para 2,4% em 2021 e subiu de 3,0% para 3,2% no próximo ano. (O Estado de S. Paulo/Ricardo Leopoldo e Gabriel Bueno da Costa)