O Estado de S. Paulo
Ainda comprometida pela falta de peças, um problema global que paralisa linhas de montagem, a produção de veículos recuou 21,3% em setembro frente ao mesmo mês do ano passado. No total, 173,3 mil unidades foram montadas, entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus, um resultado 5,6% superior ao número de agosto, informou, ontem, a Anfavea, entidade que representa as montadoras.
No acumulado do ano, a produção ainda mostra resultado positivo, com crescimento de 24% em relação aos nove primeiros meses de 2020. De janeiro a setembro, a indústria automotiva produziu 1,649 milhão de veículos. Como, devido à pandemia, a indústria parou completamente de produzir em abril do ano passado, a base de comparação é fraca.
Agora, as fábricas de automóveis param porque estão sem peças, principalmente componentes eletrônicos. Como consequência, faltam carros nas revendas, de modo que as vendas, embora exista demanda, caíram 25,3% em setembro ante o mesmo período de 2020.
Os 155,07 mil veículos vendidos no mês passado, na soma de todas as categorias, ficaram 10,2% abaixo do total de agosto. Desde o início do ano, o total vendido chega a 1,577 milhão de veículos, 14,8% a mais do que nos nove primeiros meses de 2020 – marcados pelas restrições da pandemia, incluindo o fechamento de concessionárias em grandes mercados consumidores entre abril e maio.
A expectativa da Anfavea é de que o ano termine com 2,129 milhões de veículos produzidos, uma alta de 6% em relação a 2020. No cenário mais otimista, a entidade prevê 2,219 milhões de carros produzidos, uma alta de 10% em relação ao ano passado.
De acordo com o presidente da associação, Luiz Carlos Moraes, diferentemente de outros anos, quando as previsões de produção eram estimadas considerando a demanda e o poder de compra da população, neste ano a Anfavea teve de mudar os cálculos por causa de todas as disfunções na cadeia de produção, como a escassez de semicondutores e de contêineres.
“Para 2021, imaginamos que há demanda reprimida, negócios já fechados, aguardando entrega do produto. Então não fizemos simulação de mercado. Fizemos o contrário: simulamos limitações da produção, tentamos ver quando será o atendimento ao mercado possível”, disse, afirmando que os entraves logísticos dificultam previsões claras e devem ser o principal desafio das montadoras também no próximo ano.
Usados disparam
Segundo Moraes, a atual situação de inflação em alta e juros subindo deve afetar o setor mais em 2022 do que neste ano. A expectativa da Anfavea é de que 2,038 milhões de carros sejam emplacados em 2021, uma queda de 1% em relação a 2020. No cenário mais otimista, a associação espera venda de 2,118 milhões neste ano, alta de 3%.
A falta de carros nas concessionárias aumentou a demanda por carros usados. Segundo Moraes, a proporção de carros usados vendidos ante os novos, que geralmente é de 1 veículo novo vendido para cada 2 ou 3 usados, chegou hoje a 1 para 6. “Não é normal”, disse.
O levantamento da Anfavea mostra ainda que a indústria de veículos fechou 54 vagas em setembro, empregando no fim do mês 102,96 mil pessoas. (O Estado de S. Paulo/Bárbara Nascimento)