Jornal do Carro
As versões “peladas” dos carros 0-km eram muito comuns nas décadas de 1990 e 2000. Durou até por volta de 2013, quando os novos compactos começaram a vir mais equipados de fábrica. Mudou também por força da lei, com a obrigatoriedade dos airbags frontais e freios com ABS. Assim, a demanda por veículos mais completos começou a crescer. E os chamados carros “pé-de-boi” praticamente sumiram do mercado.
Mas, afinal, o que é um carro “pelado” ou “pé-de-boi”? Basicamente, é um modelo que oferece o básico do básico. Ou seja, traz somente o que é obrigatório aos olhos da lei. Nada de equipamentos de conforto, comodidade ou segurança, como ar-condicionado, direção hidráulica e rodas de liga leve, por exemplo. Neles, cada centavo (a menos) conta.
Entretanto, a escassez de semicondutores (ou chips) nos últimos meses forçou a simplificação de algumas versões de carros nacionais. E, assim, os carros “pelados” estão de volta. Para continuarem em produção, alguns modelos, como o Toyota Corolla e Volkswagen T-Cross, precisaram substituir componentes ou mesmo abandonar conteúdo.
Recentemente, a versão básica Sense do T-Cross se tornou uma boa saída para garantir volume competitivo ao SUV da marca alemã. O modelo básico, que traz até calotas, era, então, exclusivo para o público PCD. Com a oferta ao público geral, a Volkswagen não precisou parar de fabricar o SUV, que foi líder da categoria em 2020, mas está atrás do Jeep Renegade em 2021.
Mas não é só a falta de chips. A disparada dos preços dos carros desde o início da pandemia supervalorizou os seminovos e usados. Dessa forma, os carros mais “pelados” não ficam tão mais caros e, consequentemente, atraem mais vendas. Nesse sentido, as marcas estão tentando equalizar a relação entre conteúdos e preços.
Estratégia da Toyota
O mais recente integrante da indústria a se despir para se manter em cena é o Toyota Corolla. A escassez de chips que afeta as fabricantes de veículos mundo afora obrigou a montadora japonesa a apelar. Nesse sentido, a central multimídia Toyota Play foi substituída por outra tela central, feita pela Wings. O equipamento é instalado direto na concessionária (sem custo extra para o comprador), e tem tela maior – em vez de 8″, tem 10″.
Entretanto, perde os botões físicos. A conexão com Android Auto e Apple CarPlay também fica indisponível. Todavia, o novo equipamento usa sistema Android nativo. A Toyota explica que a solução é temporária, para que o cliente não receba o carro sem central multimídia. Quando a situação for normalizada, fica garantido o retorno da Toyota Play.
A decisão da Toyota visa evitar que o sedã feito em Indaiatuba (SP) fique fora do mercado. Ainda assim, a montadora anunciou paralisação da planta por falta de outros insumos. Ou seja, uma das fabricantes que mais soube gerenciar a crise dos semicondutores também está sem saída, e vai parar de produzir o Corolla entre os dias 13 e 22 de outubro.
Volkswagen seguiu caminho há mais de um mês
Na primeira quinzena de agosto, colocando a culpa na crise dos chips, a Volkswagen tirou a central multimídia Composition Touch do catálogo de série do Fox. Assim, o preço do compacto caiu R$ 1.560 na opção Connect – ficou por R$ 61.690. Esse movimento continuou no fim do mês com a linha 2022 do Nivus, que excluiu a multimídia da versão de entrada Comfortline.
E não foi só: a falta de chips obrigou a marca a, simplesmente, tirar todo o sistema de som do carro. Assim como o T-Cross Sense, um tampão ocupa o lugar da tela multimídia no Nivus Comfortline. Para acesso ao equipamento, o cliente precisa optar pelo pacote Interatividade Composition Touch, que adiciona R$ 1.830 ao preço.
Na semana seguinte, as vítimas foram Polo e Virtus. Nas versões mais baratas, a central Composition Touch passou a custar R$ 1.820 e não é mais um item de série, como antes. Assim como era nas décadas passadas, a lista de equipamentos mostra as inscrições “Sem multimídia no veículo” e “Sem preparação/instalação de telefone móvel para carro”.
A diferença é que, em tempos antigos, os modelos com “predisposição para som” custavam de R$ 20 mil a R$ 30 mil. Hoje, são veículos com preço médio de R$ 100 mil. Será que faz sentido comprar um carro “pelado” por esse valor? A resposta virá nas lojas. (Jornal do Carro/Vagner Aquino)