O Estado de S. Paulo
O gerente de logística José Cândido, de 44 anos, desistiu de adquirir um modelo JAC T50 novo por causa do tempo que teria de esperar para recebê-lo. Depois de escolher o carro que desejava, ele foi informado pelo vendedor de que o veículo, importado da China, chegaria em cerca de quatro meses.
O prazo de entrega extenso fez com que Cândido optasse por um outro modelo, usado, mas com pronta entrega garantida pela concessionária. “Eu uso o carro no dia a dia. Como tenho uma pessoa cadeirante na família, não posso esperar tanto para receber um zero quilômetro” afirma ele.
Apenas quatro meses depois, Cândido decidiu trocar novamente de carro. Ele se desfez do Chevrolet Tracker que havia comprado em abril e usou o valor para pagar outro seminovo, agora um Chevrolet Cruze.
“O preço do zero subiu muito, não compensa para mim. Como meu carro estava quitado, entreguei ele e peguei outro no lugar, saiu elas por elas; eu só precisei arcar com a documentação”, explica Cândido.
Como o gerente, muitos consumidores estão optando por modelos usados porque os novos estão em falta, a fila de espera é longa e os preços também estão aumentando.
Atualmente, os estoques de carros novos nos pátios das montadoras e das revendas são suficientes para 13 dias de vendas, o mais baixo da história do setor. O estoque considerado equilibrado pelo setor é de cerca de 30 dias.
Sem estoques e com produção reduzida por causa da dificuldade em adquirir componentes, as montadoras também estão reajustando os preços, seja para repassar custos de peças e matérias-primas, pela alta cambial ou pela maior procura em tempos de oferta reduzida.
As montadoras também estão priorizando a produção de modelos com maior retorno financeiro, como utilitários-esportivos (SUVs) e picapes, em detrimento de hatches compactos.
Nova geração
O consumidor brasileiro está sem opção para compra de modelos mais populares. Hoje, os carros mais baratos custam R$ 48 mil (Fiat Mobi e Renault Kwid). A nova geração de automóveis ganhou mais itens de conectividade, segurança e eficiência energética e seus preços triplicaram em relação aos de uma década atrás.
Levantamento feito pela KBB Brasil, empresa especializada em pesquisa de preços de veículos, mostra que os dez modelos mais vendidos em 2011 custavam de R$ 24,7 mil (Chevrolet Celta) a R$ 39,4 mil (Volkswagen Voyage).
Os preços dos dez carros mais vendidos neste ano partem de R$ 49,3 mil (Renault Kwid) e vão até R$ 187,2 mil (Jeep Compass). Na média, a lista atual tem valores 189,6% superiores na comparação com a de 2011.
“Apesar de mais caro, comprar um carro novo hoje rende mais (em um ano) do que a poupança e outras aplicações”, afirma José Maurício Andreta Júnior, vice-presidente da Fenabrave, associação que representa os concessionários de veículos. (O Estado de S. Paulo/Wesley Gonsalves e Cleide Silva)