O Estado de S. Paulo
A indústria de transformação vem perdendo espaço na economia brasileira, fenômeno observado em outros países, mas vem encolhendo também na comparação com a do resto do mundo, o que é um mau sinal no presente e um alerta para o futuro. Nos últimos anos, como mostrou reportagem do Estado (19/9), a indústria brasileira caiu da 9.ª posição entre as maiores do mundo para a 14.ª. No período, a participação do Brasil na manufatura global caiu de 2,2% para 1,3%, de acordo com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
O futuro parece pouco promissor. Mudanças que já ocorriam nas cadeias globais de produção, das quais o Brasil vinha se afastando, foram aceleradas na pandemia e países mais preparados conseguiram se reposicionar de maneira ainda mais competitiva no cenário mundial. A indústria brasileira parece mal conseguir enfrentar o presente e não demonstra estar preparada para os novos desafios.
Governos dos principais países deram resposta rápida aos novos problemas. Os planos do governo Biden nos Estados Unidos, os programas de recuperação da União Europeia e a revisão do plano quinquenal da China são citados pelo economista do Iedi Rafael Cagnin para mostrar a capacidade desses países de reagir a situações de emergência.
No Brasil, ao contrário, o encerramento de atividades de fábricas de empresas multinacionais instaladas há muito tempo no País mostrou que a disponibilidade de um mercado interno volumoso e com grande potencial não é mais o bastante para o desenvolvimento industrial. A reorganização das cadeias de produção visando à eficiência e à redução de custos, a velocidade da modernização dos processos produtivos, a integração entre diferentes setores ligados à produção, distribuição, marketing e comercialização, características da nova indústria mundial, parecem distantes do País.
As políticas públicas mostram-se incapazes de evitar a ampliação dessa distância. Não se trata mais, obviamente, de escolher segmentos a serem beneficiados, como se fez com frequência no passado. É preciso, porém, que o setor público tenha políticas que não prejudiquem o crescimento. De que adianta ter robôs, inteligência artificial e outros recursos se a internet não é confiável e veloz o suficiente e a energia cai? Outros exemplos poderiam ser lembrados. (O Estado de S. Paulo)