Nem os superesportivos escapam da eletrificação

O Estado de S. Paulo

 

A última fronteira dos automóveis a gasolina não tem resistido à eletrificação, tendência que está transformando a mobilidade urbana na maioria dos países do mundo. Mesmo entre os esportivos e superesportivos, ela veio para ficar.

 

Marcas como Porsche, Ferrari e Lamborghini estão dando uma clara guinada rumo à propulsão elétrica, sem que isso signifique perda de desempenho. Pelo contrário. Essas fabricantes estão provando que baixa emissão de carbono e performance podem andar (ou melhor, correr) juntas. Afinal, mobilidade sustentável é o grande desafio dos próximos anos.

 

A Porsche acaba de apresentar em Munique, Alemanha, no IAA Mobility 2021 (nova versão do Salão de Frankfurt, que mudou de cidade), o protótipo Mission R. Trata-se de um esportivo de competição, com dois motores elétricos que podem gerar até 1.088 cv no modo de classificação. Nessa condição, a fabricante de Stuttgart informa que o modelo é capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em menos de 2,5 segundos, e de ultrapassar os 300 km/h. A Porsche também afirma que, na pista, o protótipo obteve o mesmo tempo de volta do 911 GT3 – versão preparada para competições da marca alemã. Se, no modo de classificação, o Mission R passa dos 1.000 cv, em condição de corrida a potência baixa para 680 cv.

 

A Porsche não divulgou quando a versão de produção deve ser lançada. Mas a fabricante alemã tem levado a sério seus modelos conceituais. O Mission E foi lançado como protótipo em 2015, e deu origem ao elétrico Taycan quatro anos depois. Na versão Turbo S (a mais potente), o esportivo de rua rende 625 cv, e pode ir a 100 km/h em apenas 2,8 segundos.

 

Futuro em tres etapas

 

No final do primeiro semestre, a italiana Lamborghini anunciou um ambicioso processo de eletrificação, previsto para ocorrer em três fases. A primeira (2021 e 2022) antevê “homenagens” a seus motores a combustão. “Homenagem”, nesse caso, pode ser entendida, também, como o início de uma despedida lenta e gradual aos motores à base de combustível fóssil. Ainda neste ano, a empresa, sediada em Sant’Agata Bolognese, no norte da Itália, irá lançar dois modelos com motor V12, configuração de propulsor intimamente ligada à história da marca.

 

Paralelamente, o movimento rumo à eletrificação já começou. O Sián (lançado, recentemente, em uma série limitada, de apenas 63 unidades) é o primeiro híbrido da Lamborghini. O nome, em dialeto bolonhês, significa raio ou flash. E o esportivo, que tem a missão de abrir caminho para os próximos passos da marca, concilia um V12 de 785 cv com um motor elétrico de 48 volts e 34 cv, instalado na caixa de câmbio. Juntos, fornecem 819 cv.

 

As manobras de baixa velocidade, como em estacionamentos, são feitas apenas com energia elétrica. Uma das inovações é que o Sián emprega supercapacitor, em vez de bateria. De acordo com a marca, o componente é três vezes mais potente que uma bateria do mesmo peso. A Lamborghini garante que o superesportivo vai de 0 a 100 km/h em menos de 2,8 segundos, e que ele supera os 350 km/h de máxima.

 

A segunda fase, considerada de “hibridização” pela empresa, prevê a chegada do primeiro híbrido produzido em série, em 2023, e a eletrificação de toda a gama, até o final de 2024. A meta é reduzir pela metade a emissão de dióxido de carbono de seus veículos até o início de 2025, e sem perda de desempenho. Para isso, a Lamborghini anunciou investimento de mais de € 1,5 bilhão (R$ 9,3 bilhões) em quatro anos, maior aporte da história da empresa, inaugurada em 1963.

 

A terceira etapa, marcada para a segunda metade da década, é o lançamento do primeiro modelo 100% elétrico, que deverá ser o quarto integrante da família (formada, atualmente, por Urus, Aventador e Huracán).

 

Ferrari de ligar tomada

 

A Ferrari ingressou na era híbrida no ano passado. A estreia veio com o Ferrari SF90, disponível nas configurações Stradale (cupê) e Spider (conversível). O superesportivo pode ser recarregado na tomada. Combina um motor 4.0 V8 biturbo de 780 cv com três elétricos, que geram outros 220 cv. Dois deles ficam no eixo dianteiro, enquanto o terceiro trabalha na traseira, entre o propulsor a gasolina e o câmbio de dupla embreagem e oito marchas. A potência combinada é de 1.000 cv, e a aceleração de 0 a 100 km/h leva apenas 2,5 segundos.

 

Outro modelo híbrido da marca (também plugin, de carregamento na tomada) é o recém-lançado 296 GTB, que utiliza um motor elétrico conectado ao compacto 3.0 V6 biturbo. Juntos, geram 830 cv, dos quais 663 cv da unidade a gasolina e 167 cv do elétrico. Graças a isso, o modelo vai a 100 km/h em 2,9 segundos, chega a 200 km/h em 7,3 segundos e excede os 300 km/h de máxima. (O Estado de S. Paulo/Hairton Ponciano Voz)