O Estado de S. Paulo
A produtividade da indústria de transformação caiu por três trimestres consecutivos. Desde o início da pandemia, a produtividade, medida pela relação entre volume produzido e horas trabalhadas na produção, vem mostrando grandes oscilações. Caiu 6,3% nos dois primeiros trimestres de 2020, período marcado pelo impacto inicial da chegada da covid-19 ao País. Em seguida, mostrou forte alta de 8,0% no terceiro trimestre de 2020, numa indicação de que a recuperação poderia ser rápida e vigorosa. Mas a melhora foi efêmera, pois a produtividade passou a acumular resultados negativos.
No segundo trimestre de 2021, de acordo com o boletim Produtividade na Indústria da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a produtividade do trabalho caiu 1,6% em relação aos três meses anteriores. Assim, voltou ao nível próximo ao do segundo trimestre de 2020, quando começou a crise da pandemia.
A indústria enfrenta um período difícil. Caem tanto a produção como o total de horas trabalhadas. Mas, como o primeiro indicador cai mais do que o segundo, a produtividade do trabalho igualmente se reduz. A CNI atribui o resultado às incertezas que a pandemia trouxe, combinadas com problemas conjunturais que o setor produtivo enfrenta, como a escassez e o alto preço de insumos e componentes.
O quadro econômico mais amplo contém outros elementos que inibem a expansão do produto, como as restrições à demanda que ainda persistem, não apenas pelas medidas de combate à pandemia, mas também pelo desemprego muito alto e pela queda de renda de muitas famílias.
“Esse indicador (a produtividade do trabalho) reflete um esgotamento dos investimentos feitos, e o ambiente de incerteza para quem investe”, avalia o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo.
São obstáculos conjunturais que se juntam a outros, já conhecidos, mas nunca adequadamente enfrentados pelas políticas públicas que deveriam fazer isso. Faltam trabalhadores qualificados para o desempenho de funções mais complexas exigidas pelo novo padrão internacional de produção porque não se investe o suficiente em programas de preparação e treinamento profissional. O risco é o de, passada a pandemia, a expansão ser prejudicada por escassez de mão de obra qualificada. (O Estado de S. Paulo)