O Estado de S. Paulo
A indústria brasileira começou o terceiro trimestre no vermelho. A produção do setor recuou 1,3% em julho, na comparação com o mês anterior, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dos sete primeiros meses de 2021, a indústria cresceu em apenas dois deles: janeiro e maio.
Na passagem de junho para julho, houve redução na produção de 19 dos 26 ramos industriais pesquisados, com destaque para as perdas no setor de bebidas, alimentos e veículos. “Tem todo um desarranjo das cadeias produtivas. Escassez de insumos, encarecimento do processo produtivo”, disse André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.
Ao mesmo tempo, ele lembra que a demanda doméstica continua estagnada por conta do alto nível de desemprego, pela precarização de postos de trabalho, pela diminuição de salários e pela corrosão da renda das famílias pela inflação.
“A questão do desarranjo das cadeias produtivas, do desabastecimento de matéria-prima, é mais evidente no setor de veículos, o que tem afetado muito o resultado de bens de consumo duráveis. Os segmentos mais associados à demanda doméstica, ao nosso consumo do dia a dia, têm mostrado também comportamento negativo, como é o caso dos alimentos e de bebidas”, explicou Macedo.
A redução do valor e do alcance do auxílio emergencial pago pelo governo também afeta o consumo de itens essenciais, afirmou o gerente do IBGE.
“Além disso, a recente reabertura da economia, impulsionada pelo progresso da vacinação, começa a redirecionar o comportamento da demanda, aumentando o consumo de serviços em detrimento do de bens”, escreveu Andressa Guerrero, analista da Tendências Consultoria Integrada.
Com o mau desempenho da indústria em julho, a produção ficou 2,1% abaixo do patamar de fevereiro de 2020, no pré-pandemia. Em janeiro deste ano, quando o setor ainda crescia, o volume de produção estava 3,5% acima do pré-covid.
Cenário
A perda de ritmo no parque fabril deve continuar pelo terceiro e pelo quarto trimestres, prevê a economista Luana Miranda, da gestora de recursos Gap Asset. “O problema da indústria é grave porque junta redução da demanda e dificuldade de recompor estoques por falta de matéria-prima. Quando houver normalização do fornecimento de insumos, a indústria tem espaço para crescer, por causa dos estoques que estão muito baixos, mas não deve acontecer este ano”, opinou Luana.
Para André Macedo, do IBGE, ainda não é possível mensurar o impacto da crise hídrica e dos aumentos da energia elétrica na indústria. “O custo da eletricidade traz algum grau de incerteza e impactos negativos na produção”, avaliou Macedo. “Não descarto algum grau de impacto negativo nessa questão, entra no encarecimento de custos de produção”. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim e Thaís Barcellos)