AutoIndústria
Há anos, na verdade décadas, as redes de concessionárias brasileiras discutem fórmulas para depender cada vez menos da venda de modelos 0 km, investindo em usados e no pós-venda, dentre outros serviços. A verdade, no entanto, é que os veículos novos ainda são a grande fonte de renda na área de distribuição e ficar cinco meses sem receber os principais produtos da marca, como aconteceu com as concessionárias Chevrolet, é sinônimo de dificuldades financeiras.
A General Motors não comenta sobre eventual ajuda à rede, mas fontes do varejo revelam que a montadora optou por pagar uma indenização aos concessionários brasileiros para cobrir parte dos prejuízos decorrentes da falta de veículos 0 km que perdura desde o final de março, quando a escassez de semicondutores provocou a paralisação da fábrica de Gravataí, RS.
O valor foi equivalente aos custos de cada revenda com a manutenção dos negócios relativos a veículos novos, com a indenização sendo integral em julho e proporcional em agosto, visto que a planta gaúcha retomou operações em um turno a partir do dia 16. Segundo fonte do setor, o reembolso, para algumas revendas chegou a R$ 450 mil em julho e 60% desse valor em agosto. A rede Chevrolet é composta por 559 pontos de venda e 308 grupos.
A mesma fonte informa, ainda, que a indenização foi negociada com os concessionários e serviu para evitar ações por lucros cessantes, o que efetivamente aconteceu na rede Chevrolet.
Em meio aos evidentes problemas decorrentes da falta de produtos, tanto rede quanto fornecedores – também afetados pela paralisação em Gravataí – foram surpreendidos com a saída de Carlos Zarlenga da presidência da GM no Brasil e América Latina na semana passada.
Um mesmo comunicado foi encaminhado para os concessionários e fornecedores na terça-feira, 25. O primeiro assinado por Ernesto Ortiz, vice-presidente de vendas, marketing e pós-venda, e o outro por Marcio Lucan, diretor de compras globais e cadeia de suprimentos, ambos da região América do Sul.
Na rede, causou estranheza não ser um documento assinado pelo próprio Zarlenga, como normalmente acontece quando algum executivo deixa a presidência da montadora no País ou na região.
Além disso, havia expectativa de que a vice-presidente de relações governamentais e comunicação da General Motors do Brasil, Marina Willisch, no cargo desde janeiro do ano passado, assumisse as operações brasileiras interinamente, o que não aconteceu.
Até que seja definido um substituto, o comando da montadora, tanto na região como no Brasil, está nas mãos de Roberto Martin, diretor financeiro da GM América do Sul, que assumiu todas as funções de Zarlenga.
O que se comenta na rede é que a empresa estaria tendo prejuízo por aqui e que a falta de semicondutores para a produção do Onix estaria ligada à estratégia mundial da companhia de mandar os componentes eletrônicos para fábricas de outros países que produzem veículos com maior valor agregado.
Outras marcas também enfrentam problemas com desabastecimento no País, mas nenhuma na proporção enfrentada pela GM brasileira, que perdeu a liderança de cinco anos consecutivos do mercado interno e fechou julho apenas na sétima posição.
Com relação à saída de Zarlenga, que desde 2013 estava à frente das operações do Mercosul e de toda a América do Sul a partir de 2019, a GM informa apenas que o argentino-espanhol deixou a companhia para buscar novas oportunidades. Pelo tempo que já estava por aqui, os concessionários até consideram que seria natural haver mudanças no comando da região que é centralizado no Brasil. O que acham estranho é a forma como ele saiu, sem ao menos se despedir da rede e dos fornecedores, como é tradicional no setor.
Vale lembrar, nesse contexto todo, que a Chevrolet e o Onix assumiram a liderança dos rankings por marca e modelos exatamente sob o comando de Zarlenga. Mas também é importante resgatar a ameaça da montadora, no final de 2018, de parar de produzir no Brasil, sob alegação de estar tendo prejuízo por aqui. Na época, após negociações com o governo paulista, a empresa anunciou novo ciclo de investimento no Estado. (AutoIndústria/Alzira Rodrigues)