O Estado de S. Paulo
A montadora chinesa Great Wall assinou ontem contrato de compra da fábrica de automóveis de luxo da Mercedes-Benz em Iracemápolis, no interior de São Paulo, após dez anos planejando a sua entrada no mercado brasileiro. O valor da aquisição não foi revelado.
A empresa desembarcou no Brasil com intenção de investir cerca de R$ 4 bilhões durante cinco anos para erguer um negócio quase do zero: da construção de uma marca pouco conhecida pelos brasileiros à instalação de uma rede de concessionárias. Encurtou o caminho comprando uma fábrica pronta.
Maior grupo automotivo privado da China, a Great Wall informa que ampliará a capacidade da fábrica em cinco vezes, das atuais 20 mil unidades ao ano para 100 mil. Quando atingir esse volume, pretende empregar 2 mil funcionários.
“Estamos em fechamento do plano de negócios, e estudando oportunidades e segmentos onde temos melhor condição de competir”, diz Anderson Suzuki, diretor de produtos e estratégia da Great Wall na América do Sul. “Nosso plano é, em cinco anos, investir 5 bilhões de renmimbis (moeda oficial da China), o que dá cerca de R$ 4 bilhões, incluindo a aquisição da fábrica”, acrescenta.
A empresa informa em nota que o investimento no Brasil trará uma experiência de mobilidade inteligente, segura e de alta qualidade aos usuários. Também criará mais empregos diretos e indiretos na região e impulsionará o setor de pesquisa e desenvolvimento local.
No comunicado, o presidente da Great Wall Motor, Meng Xiangjun, afirma que “a transação acelerará o desenvolvimento e a implementação estratégica da montadora no mercado sul-americano e promoverá ainda mais a transformação da companhia em uma empresa de mobilidade de tecnologia global”.
A fábrica foi inaugurada em 2016, com investimentos de R$ 600 milhões. Produzia os modelos Classe C e GLA e foi fechada em dezembro. A Mercedes-Benz alegou dificuldades da economia brasileira, agravadas pela pandemia, e a decisão da matriz alemã de não produzir no País carros elétricos, maior aposta das marcas europeias nos próximos anos.
O negócio envolve a fábrica de automóveis, o terreno de 1,2 milhão de metros quadrados, prédios e equipamentos de produção. Só ficou de fora o campo de provas construído em parceria com a Bosch, que será mantido pelos grupos. A entrega das instalações aos novos donos ocorrerá antes do fim do ano e a expectativa é de que os primeiros automóveis sejam produzidos em 2022, provavelmente com muitos itens importados.
Plano global
O vice-presidente da Great Wall, Liu Xiangshang, explica que a decisão, mesmo em período de forte queda nas vendas de veículos, é porque o Brasil é o maior e mais populoso país da América Latina, é líder em vendas na região e, por isso, é um mercado estratégico no plano global de sua internacionalização.
O grupo afirma que as negociações não incluem transferência de pessoal – a Mercedes empregava 370 funcionários.
Em seu anúncio, a Mercedes-Benz informa que sua rede de concessionárias seguirá funcionando normalmente, com carros importados. Também assegura que o encerramento da produção de automóveis não afeta a produção de caminhões e chassis de ônibus nas fábricas de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e de Juiz de Fora (MG), assim como o centro logístico em Campinas (SP).
Fábricas à venda
O Brasil ainda tem mais três fábricas automotivas à venda. Uma unidade de carros e outra de motores da Ford em Camaçari (BA) e Taubaté (SP) estão fechadas desde janeiro. A do jipe Troller em Horizonte (CE) encerra atividades em setembro. O grupo americano passa a ser só importador.
Havia interessados do ramo automotivo na fábrica cearense, mas, ao anunciar na semana passada que não venderá a marca Troller e o direito de produção do T4, o interesse pela planta acabou. Agora é possível que a unidade tenha destino semelhante ao da fábrica de São Bernardo do Campo, fechada em 2019, que está sendo transformada em grupo logístico. (O Estado de S. Paulo/Eduardo Laguna e Cleide Silva)