O Estado de S. Paulo
Carlos Alberto de Oliveira Andrade 1943 – 2021
Médico e empresário que transformou uma pequena concessionária de veículos do interior da Paraíba numa das principais companhias brasileiras, o grupo Caoa, faleceu ontem em São Paulo.
O médico e empresário brasileiro Carlos Alberto de Oliveira Andrade, que transformou uma pequena concessionária de veículos do interior da Paraíba em uma das principais companhias brasileiras do setor automotivo, o grupo Caoa, faleceu na manhã de ontem, aos 77 anos.
O anúncio foi feito pela manhã em nota divulgada pela diretoria da Caoa, que preferiu não divulgar causa da morte a pedido da família. “Dr. Carlos estava com a saúde debilitada por conta de um tratamento de saúde e faleceu durante o sono ao lado de sua esposa e filhos”, afirmou a empresa.
Formado em Medicina pela Universidade Federal de Pernambuco, o paraibano era conhecido como bom negociador. Vindo de uma família de 17 irmãos, trabalhava como cirurgião quando comprou, em 1979, um Ford Landau em uma concessionária da marca em Campina Grande (PB). A revenda quebrou, e Carlos Alberto decidiu comprar a empresa – pagando barato –, para compensar a perda do dinheiro do carro. Fundou ali a Caoa, que leva as iniciais do seu nome completo.
Como pagamento, o empresário aceitava carros usados, terrenos, cabeças de gado e até estoques de tijolos. Logo obteve a fama de “um doutor que fazia qualquer negócio”. Às vezes, perdia dinheiro, mas o importante era fechar a venda.
A fama fez com que compradores viessem de toda a região, até mesmo de João Pessoa e Natal. Não demorou para que a Ford oferecesse a ele a principal concessionária do Recife (PE) e, pouco tempo depois, algumas em São Paulo. Em seis anos, a Caoa se tornou a maior revendedora da Ford do Brasil.
Com a abertura do mercado automotivo, nos anos 1990, a Caoa passou a importar e a revender carros da Renault, que não tinha produção local na época. Mais tarde, a Caoa se tornou a revendedora oficial da japonesa Subaru e da sul-coreana Hyundai. Com o forte crescimento dos negócios, Carlos Alberto de Oliveira Andrade virou um ícone da transformação da indústria automotiva nas últimas décadas, quando a entrada de novas marcas acirrou a competição com as montadoras tradicionais já instaladas no País.
Em 2007, o empresário investiu R$ 1,2 bilhão na Caoa Montadora de Veículos e passou a produzir os automóveis da Hyundai em Anápolis (GO). Dez anos depois, pagou US$ 60 milhões pelo controle da chinesa Chery no Brasil, que se tornou Caoa Chery. Em 2017, a empresa inaugurou sua segunda planta industrial, em Jacareí (SP).
Carlos Alberto de Oliveira Andrade afastou-se do comando da empresa em 2013, quando Antônio Maciel Neto, ex-presidente da Ford, assumiu o grupo. O fundador foi para a presidência do conselho. Em 2017, houve nova troca, e Mauro Correia passou a liderar a companhia.
“A empresa, de acordo com o plano de sucessão e governança, continua a ser gerida por seus atuais executivos, que lamentam o falecimento de seu fundador e se solidarizam com a família neste momento”, disse a diretoria da Caoa em nota. O executivo tinha duas filhas e dois filhos, entre 18 e 30 anos, e ao menos um deles já acompanhava o dia a dia da empresa.
Em entrevista ao Estadão, em março, Andrade disse que seu plano era fazer da Caoa uma grande montadora nacional, com tecnologia de ponta e capacidade de produzir veículos híbridos e elétricos. “Enquanto várias montadoras estão tirando o pé do acelerador, fechando fábricas, nós estamos fazendo o contrário”, afirmou.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, lamentou a morte do empreendedor. “Perdemos um grande brasileiro, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, empresário com notável espírito empreendedor, inquieto e que nunca se furtou a enfrentar novos desafios”, afirmou em nota. A Anfavea, entidade que representa as montadoras no Brasil, classificou o empresário como “um dos maiores empreendedores do País”. (O Estado de S. Paulo)