ABC do ABC
A mobilidade elétrica vem crescendo no país e, de 2019 para 2020, houve aumento de 53% nas vendas de carros elétricos. O que está alavancando este mercado, segundo a opinião dos especialistas, é que o cidadão não está comprando apenas um carro, mas está absorvendo um ecossistema sustentável. O tema mobilidade elétrica foi apresentado, entre os dias 01 de julho e 05 de agosto, com a série temática “Como a Iniciativa Privada Pode Acelerar a Transição para a Mobilidade Elétrica”. A realização foi uma parceria entre a PNME – Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica, a Barassa & Cruz Consulting e a plataforma do Connected Smart Cities & Mobility.
Veículos Leves & Levíssimos
Um dos pontos abordados foram os veículos Leves e Levíssimos. Marcus Regis, coordenador-executivo da PNME, ressaltou que a mobilidade elétrica está diretamente relacionada com as questões climáticas, a segurança econômica e o desenvolvimento da economia. Denis Lopardo, CEO da Bdoo Smart Mobility, afirmou que a transição da mobilidade vai além do meio de transporte, e é ditada muito mais pelo comportamento das pessoas. Já André Turton, diretor de vendas da Voltz, ressaltou o programa Eco-V, em que a Voltz monitora, em tempo real, tudo o que acontece no seu veículo.
Em debate, os participantes do primeiro bloco analisaram como é possível coordenar todos os esforços em prol da mobilidade elétrica no Brasil. João Oliveira, diretor geral de operações da Volvo Car Brasil, disse que é fundamental haver parcerias com as associações, além das políticas públicas que incentivam a importação desses veículos, para que haja a transição no país.
Veículos Leves & Pesados
No bloco de veículos Leves & Pesados, Victor Magnani, presidente da ABO2O (Associação Brasileira Online Two Offline), e presidente do Conselho do Comércio Eletrônico da Fecomércio de SP, disse que a iniciativa privada não vai conseguir fazer a transformação sem que o poder público crie condições para isso. Adalberto Febeliano, vice-presidente de operações da Modern Logistics, afirmou que o crescimento nas vendas dos veículos elétricos tem sido exponencial e a expectativa é que, até 2030, a frota de elétricos no Brasil fique entre 3% a 10%. “A principal força motriz por trás desta mudança será o custo operacional que deve ser equilibrado com o custo adicional”, disse Febeliano.
Outro participante desta série foi Nelson Carvalho, gestor de negócios da Carbono Zero, uma empresa de logística sustentável que substitui motoboys por ciclistas, scooters elétricas e fiorinos por furgões elétricos. “Em cada entrega que o cliente pede, ele sabe quanto de carbono ele deixou de emitir para o planeta”, comentou Carvalho. Luís Carlos Magalhães, CEO da KWFleet, a primeira empresa do país a locar veículos 100% elétricos, aponta que a questão principal é educar o cliente. Hoje há 3 mil veículos no Brasil 100% elétricos, mais do que o dobro do ano passado. Veículos elétricos estão sendo usados na logística de muitas empresas para que o produto chegue ao seu destino final. “O importante é mostrar que o custo de entrega compensa o valor pago pelo veículo. Outra vantagem é ser um veículo totalmente sem ruído, o que permite uma entrega na madrugada. Montadoras globais estão colocando divisões só para veículos elétricos, uma vez que eles fornecem previsibilidade orçamentária”, comentou Magalhães.
Veículos Pesados (ônibus, caminhão, VUCs e veículos comerciais)
Adalberto Maluf, diretor da BYD, afirmou que os veículos pesados, como ônibus e caminhões, são os que mais crescem na eletromobilidade. Há uns 6 anos, a BYD está no Brasil com fábrica de ônibus, painéis solares e baterias. Um setor que cresceu muito foi o de veículos comerciais. No RJ, a frota de lixo tem 10% dos caminhões elétricos. Em São Paulo, embora os elétricos estejam em ascensão, ainda se perdem 3 anos e meio de expectativa de vida por conta da poluição. No índice de qualidade do ar de SP, só os sistemas de ônibus representam 50% de todo diesel importado para o Brasil. “Apostar no elétrico para a logística urbana com ônibus e caminhões já elimina a maior parte dos poluentes. Eu acredito muito na eletrificação das estradas”, afirmou Maluf.
Guilherme Cavalcante, CEO da Ucorp, empresa referência em tecnologia e mobilidade corporativa focada em veículos elétricos, disse que a mobilidade corporativa ajuda as empresas a olharem para as retenções de talentos e para o propósito do ESG (conjunto de práticas ambientais, sociais e de governança). “O mais importante é o olhar de investimentos em startups, o ecossistema de tecnologia, e novos modelos de negócios. É preciso fortalecer a pauta ESG junto às empresas e ao poder público”, comentou.
Serviços de recarga, eletropostos e infraestrutura
Rafael Cunha, CEO da MovE, startup que atua no desenvolvimento tecnológico de soluções para recarga de veículos elétricos, comentou que a empresa desenvolveu uma plataforma baseada no protocolo OCPP – um protocolo de aplicação para comunicação entre estações de carregamento de veículos elétricos e um sistema de gerenciamento central. O objetivo é adquirir dados e enviar comandos para os carregadores, sendo possível atuar em diversos modelos de negócios tanto para transporte público, como veículos residenciais. “As soluções digitais devem ser remédios às dores e o principal elo desta cadeia é o condutor”, afirmou Cunha.
Gustavo Tannure, CEO da Ezvolt, startup de tecnologia que faz a prestação do serviço de recarga por meio de uma rede própria de eletropostos voltada para condomínios residenciais, comerciais, pontos públicos e frotas, diz que o desenvolvimento tecnológico vai impactar a redução do custo dos veículos, ampliar a infraestrutura de recarga, e permitir que diversos sistemas e organizações trabalhem em conjunto entre as redes de recarga. “O Brasil tem 6% da maior frota de elétricos no mundo inteiro”, disse Tannure.
O head de mobilidade elétrica da Enel X, Paulo Misonnave, trouxe que a eletromobilidade permite a capacidade de crescimento da tecnologia, atendendo a necessidade do cliente com uma revolução silenciosa. Beto Costa, diretor executivo de mobility da Estapar, companhia aberta com 653 operações em 77 Estados e 15 cidades no Brasil, afirma que a capilaridade de infraestrutura e a fortaleza de estarem em locais Premium (arenas, aeroportos, edifícios corporativos), possibilitou criar a primeira rede sem raízes para fomentar o setor com as montadoras no modelo do segmento B2B. “A Ecovargas vai proporcionar que o cliente final tenha a segurança de poder passar pelos 250 postos ao longo do dia, para fazer sua recarga de 1h30 a 2h. O objetivo é fazer uma assinatura, num primeiro instante com as montadoras, para que entreguem ao cliente final o serviço de recarga”, completou Misonnave.
Sharing & Locação
Silvia Barcik, diretora da ABVE – Associação Brasileira do Veículo Elétrico e Head do vec – Itaú, começou o bloco trazendo o case da MRV, que decidiu cobrir todos os condomínios do Minha Casa, Minha Vida com placas fotovoltaicas e, por meio do uso desta energia, fez um projeto piloto com a Renault de compartilhamento de veículos dentro dos condomínios, no modelo B2B2C, ofertando o veículo elétrico pago para uso exclusivo dos condôminos em pequenas demandas de idas ao shopping, mercado etc. Dentro dos próprios condomínios, foram instalados eletropostos. Barcik afirmou que a iniciativa privada pode acelerar o processo da eletrificação fazendo parcerias com outras empresas, e também com o setor público.
Tomás Martins, CEO e fundador da Tembici, empresa líder de micromobilidade Latam, trouxe um case da bicicleta elétrica com a IFood em que foram disponibilizadas 500 bikes elétricas para entregas. Breno Davis, Head de Terceirização de Frotas – Unidas, afirma que as locadoras são os principais canais de distribuição do mercado com frotas novas, facilitando a introdução da matriz energética. Davis diz que “Não tem dúvida nenhuma que as empresas de governo serão os grandes precursores da eletrificação”. As locadoras são uma das principais alternativas para o veículo eletrificado, na opinião de Davis. “Parcerias com fornecedores de serviços também são bem importantes”, disse. A Unidas oferece ao mercado 400 carros elétricos com o Programa Unidas Electrics, solução completa ao mercado de mobilidade elétrica.
Investidores Imobiliários e o Mercado de Mobilidade Elétrica no Brasil
Para finalizar a série temática, Willian Rigon, diretor da Urban Systems, relatou que o maior impacto da mobilidade elétrica é em relação ao meio ambiente. A mobilidade elétrica deve ser entendida de forma integrada, para Rigon. Lourenço Gimenes, sócio-fundador da FGMF Arquitetos, disse que uma questão é olhar a tecnologia sempre com bons olhos, mas também com alguma desconfiança em relação aos desafios. “As oportunidades que se colocam a partir dessas mudanças de comportamento e tecnologia não são exatamente as que a gente imagina e tende a achar de uma forma simplificada. A mudança cultural é que vai nos levar a novas formas de consumo, a novas demandas e a novas formas de lidar com a realidade”, afirmou. (ABC do ABC)