Combustíveis alternativos são aposta para reduzir emissão de CO2

O Estado de S. Paulo

 

Na busca por alternativas aos combustíveis fósseis, os veículos movidos a biocombustíveis, os elétricos e os híbridos são uma aposta importante. Projeção divulgada recentemente pela Boston Consulting Group (BCG) mostra que, até 2026, os modelos elétricos serão responsáveis por mais da metade dos automóveis leves vendidos globalmente – quatro anos antes do que as projeções anteriores apontavam. O estudo prevê ainda que os veículos de emissão zero (ZEVs, na sigla em inglês) serão quase a metade dos veículos leves novos vendidos globalmente em 2035.

 

A JBS, segunda maior empresa de alimentos do mundo e líder no setor de proteína, tem buscado formas de avançar na redução das emissões de CO2 e assim se aproximar de uma meta ambiciosa: tornar-se Net Zero até 2040. Com isso, a companhia se compromete a zerar o balanço líquido de suas emissões de gases causadores do efeito estufa por meio da redução da intensidade de emissões diretas e indiretas e da compensação de toda a emissão residual.

 

Sua frota faz parte dessa mudança e, para isso, o grupo vem atuando em algumas frentes. A mais recente iniciativa utiliza energia elétrica em vez de combustível fóssil. Em março, a Seara incluiu na sua frota um modelo de caminhão 100% elétrico e sem emissão de poluentes, o primeiro a ser usado na indústria de alimentos refrigerados do Brasil. Além do modelo que está rodando em Santa Catarina, a Seara adquiriu novos veículos, que devem chegar até o fim do ano e começar a rodar pelo País até fevereiro de 2022.

 

Em julho, foi anunciado pela JBS um acordo para a aquisição de um modelo 100% elétrico e desenvolvido pela Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) no Brasil, o EDelivery. Voltado ao uso urbano, em especial a serviços de entrega, o caminhão está na categoria de emissão zero de gases poluentes. O veículo, que deve chegar em outubro, vai circular em São Paulo e tem como diferenciais a maior volumetria de entrega e o fato de ser o primeiro refrigerado.

 

“A eletrificação de frotas, por meio de energias cada vez mais renováveis e limpas, além de contribuir significativamente para a descarbonização ambiental, também tem maior viabilidade operacional, já que os veículos urbanos percorrem um padrão de rotas e distâncias já estabelecidas, retornando para o carregamento em suas garagens. Isso facilita o planejamento das recargas e o controle da autonomia do veículo”, diz Ricardo Alouche, vice-presidente de Vendas, Marketing e Serviços da VWCO sobre as vantagens dos caminhões elétricos. “As frotas elétricas também possuem um menor TCO (Total Cost of Ownership), com uma otimização da sua carga útil, além de proporcionar maior economia de combustível e menos desgaste de componentes.”

 

Conceitos ESG

 

A iniciativa da JBS – a primeira empresa da indústria de alimentos refrigerados do Brasil a rodar com esse tipo de veículo – representa mais um passo em direção à sustentabilidade e a seus compromissos com o conceito ESG, que trata no ambiente corporativo de estratégias e ações ambientais, sociais e de governança.

 

“O uso de veículos elétricos ou movidos a combustíveis de fontes renováveis faz parte do compromisso da JBS de ser Net Zero até 2040, ou seja, de zerar o balanço líquido de suas emissões de gases causadores do efeito estufa e eliminar as residuais. A Seara, por exemplo, já conta com veículos elétricos em operação no Brasil e pretende ter cada vez mais”, comenta Fabio Artifon, diretor de Logística da Seara.

 

Soluções disruptivas

 

Artifon explica que a companhia tem intensificado os esforços em duas áreas apontadas como fundamentais: inovação e sustentabilidade. O projeto com o caminhão 100% elétrico reforça esse posicionamento.

 

“Estamos sempre em busca de modais alternativos e limpos. Nosso objetivo é ampliar cada vez mais o alcance dessas soluções logísticas disruptivas, garantindo qualidade e prazo das entregas para os nossos clientes”, diz.

 

A expectativa da empresa é de ter 40% da frota desse setor padronizada em até cinco anos, dependendo da disponibilidade de equipamentos no mercado brasileiro para a produção do veículo. O impacto na política de substituição de frota é significativo.

 

Cada veículo urbano de carga (VUC) movido a diesel que deixa de rodar equivale à não emissão de 5 toneladas de monóxido de carbono por mês – ou o equivalente a 35 árvores plantadas para neutralizar as emissões. Iniciativas como a inclusão de veículos elétricos na frota em substituição aos modelos a diesel ou a gasolina tendem a ter um impacto cada vez maior no achatamento da curva de emissão de CO2.

 

Como não emitem ruídos, veículos elétricos podem fazer entregas noturnas em cidades com restrições de circulação nessa faixa de horário, como ocorre no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e em outros centros urbanos.

 

Apesar de iniciativas como a da JBS, o Brasil, no entanto, ainda está atrás na corrida por substitutos aos modelos com motores que utilizam derivados de petróleo. A Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) mostra que, em 2020, pela primeira vez os elétricos e híbridos chegaram a 1% das vendas totais no País. Em julho deste ano, dado mais recente, a participação alcançou 2,2%.

 

“Os veículos elétricos já são uma realidade nos principais países do mundo. A eletromobilidade não é mais o futuro, é o presente. E quem sair na frente vai sair ganhando”, diz Adalberto Maluf, presidente da entidade e diretor de Marketing e Sustentabilidade da BYD do Brasil, maior fabricante global de baterias de lítio-ferro e de veículos elétricos plug-in. Por isso, esforços de redução de emissões vêm ganhando cada vez mais adesões e números ambiciosos, como o da JBS.

 

O setor de energia é um dos grandes emissores de gases causadores do efeito estufa no Brasil, segundo relatório do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg).

 

Desafios pelo caminho

 

Veículos elétricos trazem uma série de desafios para o dia a dia da operação, como a instalação de estações de recarga e do sistema para a geração de energia solar, além da assistência técnica. No caso da Seara, para garantir a autonomia do caminhão, que pode rodar até 150 km, foi instalada uma infraestrutura específica em seu hub em Itajaí (SC). A recarga da bateria leva, em média, quatro horas. Para estender o uso dos veículos, a Seara está em busca de parceiros onde possa fazer a recarga.

 

Carretas sustentáveis 

 

Além da inclusão do modelo elétrico na frota, as operações da Friboi e da Seara fizeram parte de um projeto-piloto de carretas sustentáveis movidas a gás natural veicular (GNV), que promovem uma redução de 15% nas emissões de CO2 (ou 7,6 toneladas de gases do efeito estufa por ano) em comparação às dos movidos a diesel. De tecnologia alemã, os três veículos (duas carretas da Seara e uma da Friboi) são equipados com oito cilindros de gás – foram os primeiros do tipo a serem usados no Brasil – e têm autonomia de 400 km.

 

A JBS investe ainda em uma divisão de biodiesel. Maior produtora mundial verticalizada de biodiesel obtido de sebo bovino, a companhia conta com três fábricas e foi a primeira do Brasil a ser certificada pelo RenovaBio, responsável por credenciar usinas a emitir os Créditos de Descarbonização (CBios). Juntas, as unidades são capazes de neutralizar mais de 600 mil toneladas de emissão de carbono por ano. (O Estado de S. Paulo)