Por que a indústria automotiva está aprendendo a trabalhar com serviços, como o aluguel?

O Estado de S. Paulo

 

Durante muitos anos, o carro foi um objeto de desejo, um símbolo de status para muitas pessoas. Mas essa situação está mudando. Uma pesquisa realizada pela Turbi mapeou que 74% dos seis mil entrevistados declararam que o veículo passou a ser um serviço e não um bem. Entre esse público estavam, inclusive, pessoas que têm um automóvel.

 

Essa mudança de pensamento tem provocado impacto negativo nas vendas dos veículos e, consequentemente, no faturamento das montadoras. Com a pandemia, que veio acompanhada de necessidade de distanciamento social, incertezas financeiras e promessa de mais flexibilidade quanto ao trabalho presencial, essa situação tem se agravado ainda mais.

 

No primeiro trimestre de 2021, por exemplo, a queda nas vendas de veículos foi de 5,4% em comparação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados Anfavea. Para ampliar as oportunidades de negócio e se adequar ao novo perfil de consumidor, algumas montadoras criaram suas próprias concessionárias e divisões de aluguel de carros.

 

Essa ampliação de oferta de serviços é ótima para o consumidor e para a competitividade do mercado. Mas essas relações só serão saudáveis se houver a devida profissionalização em todos os players, com personalização e qualidade no atendimento. Além, é claro, de políticas justas e padronizadas aqueles que comprovarem operar com boas práticas, independentemente de seu porte.

 

No segmento de aluguel de veículos, a operação das grandes locadoras tende a ser mais estruturada. Nelas, por exemplo, existem especialistas e sistemas capazes de prever com bastante antecedência as necessidades de reparo ou troca dos automóveis da frota. Algo que minimiza as chances de ter dentro de casa carros com condições de uso inadequadas.

 

Ciente da profissionalização das grandes locadoras e da entrada das montadoras no ramo, a recomendação é que as pequenas e médias empresas de aluguel de carro partam em busca, também, da profissionalização da operação. É possível fazer isso por conta própria, mas sempre é bom considerar contar com o apoio de uma consultoria.

 

Esse apoio especializado é útil tanto para resolver desafios individuais quanto para ter uma melhor representatividade de questões que possam afligir líderes de negócio das pequenas e médias empresas de aluguel de carros. O que não dá é para ficar de braços cruzados acompanhando políticas de cotas para atender o setor de serviços, limitando pedidos de compra para automóveis para determinados grupos, enquanto todos já sofrem com sérios atrasos nas montadoras.

 

A reflexão foi lançada, sem o objetivo de polemizar, mas de equiparar os direitos. Acredito que, com bom senso, planejamento e uma boa gestão, é possível atravessar esse difícil momento que o mercado está vivendo e preparar-se para a nova onda de consumidores, cada vez mais interessados no carro como serviço. (O Estado de S. Paulo/André Ricardo, Arti CEO da Solution4Fleet)