O Estado de S. Paulo
Sem querer ser apocalíptico, mas devo dizer que os carros movidos a gasolina, álcool e diesel estão com os dias contados, e o fim da estrada para esses combustíveis está mais perto do que muita gente possa imaginar. Os carros elétricos vêm conquistando seu espaço em alta velocidade, especialmente na Europa, onde alguns países já pretendem antecipar prazos para banir os automóveis movidos a combustão das ruas e estradas, principalmente por conta da emissão de gases poluentes na atmosfera.
No mercado brasileiro e latino-americano, a evolução ainda é tímida, mas já está em curso, e existe até um projeto de lei que quer proibir a venda de carros movidos a diesel e a gasolina em 2030, além de proibir a circulação de veículos a combustão no país até 2040.
Algumas das principais montadoras e grandes nomes do universo automotivo já prometem, em até dez anos, não produzir mais carros com motores “tradicionais”. A Volvo, por exemplo, já tem um portfólio de carros onde não há nenhum modelo que não seja ao menos híbrido, unindo motor a combustão e elétrico no mesmo veículo.
Embora 2020 tenha sido um ano desafiador para o setor automobilístico como um todo, o segmento de carros movidos a bateria colheu bons frutos, mesmo com a crise sanitária da covid-19: o crescimento foi notável, ficando na casa dos 43%. As vendas globais de veículos elétricos e híbridos do tipo plug-in alcançaram 3,24 milhões de unidades em 2020, o que representou 4,3% do volume total do mercado automotivo. Em 2019, foram 2,26 milhões.
Atualmente, estima-se que cerca de 10 milhões de veículos elétricos estejam rodando pelo mundo, e esse número só deve aumentar. Grande parte deles está na Europa, que ultrapassou a China em volume de vendas. Na Noruega, a quantidade de veículos elétricos nas ruas já é maior do que a de carros a combustão. Nos Estados Unidos, o crescimento foi de 4%. No Brasil, o setor também está aquecido. No primeiro semestre do ano passado, as vendas cresceram 221%, segundo a ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico). A quantidade de veículos rodando pelo país subiu de 2.356 unidades, para 7.568 no total.
Os números absolutos brasileiros ainda são pouco notórios, mas, proporcionalmente, estão em forte crescimento, seguindo a tendência dos grandes mercados mundiais. Por enquanto, os principais entraves por aqui são os preços dos veículos e a quantidade de postos de recarga, mas isso deve ser resolvido ao longo do tempo, com o aumento da escala de produção e possíveis incentivos fiscais.
Com números tão expressivos em diferentes mercados por todo o mundo, não é de se admirar que muitas marcas tradicionais do setor automotivo estejam se movendo para adequar seus modelos de negócios e abraçar a revolução do carro elétrico o quanto antes.
Confira a lista de algumas das principais montadoras de veículos que prometem deixar de desenvolver motores a combustão e até já anunciaram quando isso deve acontecer.
- Ford: até 2026. A divisão europeia da montadora pretende oferecer um catálogo formado apenas por veículos elétricos ou híbridos já em 2026.
- Audi: até 2036. Durante os próximos 15 anos ainda haverá carros movidos a gasolina. Depois disso, a montadora alemã pretende lançar somente modelos movidos por eletricidade.
- Jaguar: até 2023. Apesar de atualmente contar com apenas um modelo movido 100% a eletricidade em seu portfólio, a icônica marca inglesa de carros de luxo divulgou que, até 2030, todos os seus veículos serão elétricos.
- Volkswagen: até 2030. O plano é dar prioridade à transição dos modelos de veículos tradicionais para os movidos a bateria. A ideia é que ao menos 80% dos carros da marca alemã sejam eletrificados até o início da próxima década.
- FCA: até 2025. O plano do grupo de montadoras que agrega as marcas Fiat e Chrysler é oferecer apenas carros elétricos – na Europa e nos Estados Unidos – até 2025.
- Toyota: a japonesa estipulou um prazo mais longo para reduzir as emissões de seus carros a zero, ou aos mínimos níveis possíveis. A empresa garante que todos os seus carros serão híbridos, elétricos ou a hidrogênio até 2050.
- General Motors: até 2035. A montadora americana planeja abandonar os carros movidos a gasolina e transformar todos os veículos para serem movidos por eletricidade até a metade da próxima década.
- Daimler / Mercedes Benz: até 2040. Responsável pela marca Mercedes Benz, a Daimler também estabeleceu um prazo maior até parar totalmente de produzir veículos a combustão. A estimativa para a eletrificação total de seus veículos vai levar quase 20 anos.
Se forem cumpridos os prazos estipulados pelas fabricantes, todo um mercado que orbita ao redor dos carros a combustão deverá sentir forte influência dessa decisão. Assim como ocorre com o surgimento de qualquer nova tecnologia, a evolução dos carros elétricos deve transformar muitos segmentos e até criar possibilidades de mercado. Alguns setores ainda devem sofrer bastante e outros podem até deixar de existir, mas são pontos que irão se adaptando e modificando conforme a tecnologia e as mudanças ganharem espaço. Basta ter paciência e acompanhar essas inovações. (O Estado de S. Paulo/Diego Fischer é CEO da Carupi)