Para conter inflação “persistente”, BC acelera alta da Selic, que vai a 5,25%

O Estado de S. Paulo

 

O Banco Central admitiu que a escalada da inflação “continua se revelando persistente” e decidiu ontem elevar a Selic em 1 ponto porcentual, de 4,25% para 5,25% ao ano. Esta foi a quarta alta consecutiva dos juros. O Copom citou em comunicado o “risco fiscal elevado” e informou que entre os motivos da decisão está a “sustentabilidade das contas públicas”.

 

Após insistir durante meses no discurso de que a escalada da inflação era temporária, o Banco Central admitiu ontem que a alta dos preços “continua se revelando persistente”. Para tentar segurar a inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu acelerar o ritmo de alta da Selic (a taxa básica de juros) e anunciou um aumento de 1 ponto porcentual, de 4,25% para 5,25% ao ano.

 

Esta foi a quarta alta consecutiva dos juros, sendo que nas três decisões anteriores o BC havia subido a taxa em 0,75 ponto porcentual. Há 18 anos, desde fevereiro de 2003, os juros não subiam de uma só vez 1 ponto. Mais do que acelerar o processo, o BC já sinalizou que em setembro aplicará aumento na mesma magnitude, para 6,25% ao ano.

 

Na economia, manter os juros em patamares mais altos é uma estratégia para controlar o avanço da inflação. No entanto, taxas elevadas significam que o custo para a tomada de crédito também tende a crescer – justamente em um momento em que a atividade econômica tenta se recuperar da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.

 

Desde o segundo semestre do ano passado, a alta dos valores das commodities no mercado internacional – como soja e milho – tem elevado o custo dos alimentos no mercado interno. Para piorar, os preços dos combustíveis também vêm contribuindo para o avanço do IPCA – o índice oficial de inflação, que nos 12 meses até junho subiu 8,35%. Mais recentemente, a estiagem em diversas regiões do País elevou os custos da energia elétrica, enquanto a geada provocada pelo frio aumentou a pressão sobre os alimentos.

 

Este conjunto de fatores fez o BC mudar sua avaliação. Em maio, a instituição ainda defendia a ideia que os choques de preços de alimentos e energia elétrica eram “temporários”. No comunicado de ontem, no entanto, a instituição traçou um cenário mais pessimista. “A inflação ao consumidor continua se revelando persistente. Os últimos indicadores divulgados mostram composição mais desfavorável”, reconheceu o BC – que destacou ainda a maior pressão na área de serviços, com o fim das medidas de restrição social.

 

Outro fator que vem sendo citado pelos economistas do mercado financeiro também foi mencionado pelo BC: a sustentabilidade das contas públicas. No comunicado de ontem, o Copom voltou a dizer que o “risco fiscal elevado” é um fator para o aumento de preços no Brasil. Desde a semana passada, a visão no mercado financeiro é de que o risco fiscal aumentou após o Ministério da Economia ter dito que não há espaço, no Orçamento, para o pagamento de R$ 90 bilhões em precatórios em 2022. A ideia do governo é propor parcelamento de uma parte desses débitos em até dez anos.

 

“As fortes pressões inflacionárias recentes, especialmente aquelas provenientes da crise hídrica, recomendavam uma atuação mais firme da autoridade monetária”, disse o economista-chefe da corretora Órama, Alexandre Espirito Santo, que também citou os “ruídos fiscais”.

 

No comunicado, o BC também atualizou seus cálculos para a inflação. A projeção para o IPCA de 2021 passou de 5,8% para 6,5%. O porcentual está bem acima dos 3,75% perseguidos pela própria instituição. No caso de 2022, a expectativa seguiu em 3,5% – exatamente na meta buscada. (O Estado de S. Paulo/Fabrício de Castro e Eduardo Rodrigues)