O Estado de S. Paulo
A gigante industrial Weg já está conectada à rede de internet ultraveloz 5G, mesmo sem a tecnologia estar disponível no Brasil. Isso porque a empresa está realizando um teste de conectividade de sua fábrica em Jaraguá do Sul (SC), onde fica a sua matriz, com uma rede privativa criada em parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Os resultados preliminares apontam caminhos importantes para uma produção industrial conectada, diz a companhia.
Um exemplo é o uso da tecnologia em robôs logísticos. Com uma internet de alta velocidade, as máquinas conseguem se movimentar pela fábrica quase sem interferência. Mais do que isso: fazem um mapeamento do espaço e se deslocam até em áreas com caminhos obstruídos. O 5G, segundo Carlos Grillo, diretor de negócios digitais da Weg, vai potencializar as ferramentas que utilizam inteligência artificial.
Outros pontos testados foram as câmeras inteligentes, que conseguem identificar, por exemplo, se as pessoas presentes estão usando máscaras para se proteger da covid-19 e apontar defeitos em produtos, algo que sempre foi realizado manualmente. “Esse estudo visa a responder à dúvida de quanto o 5G vai mudar a indústria e tudo está em cima da conectividade, que é o grande meio dessa transformação”, diz Grillo.
Mais do que entender o potencial da tecnologia, esse laboratório servirá para que a companhia e a ABDI mandem os resultados para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) discutir uma regulação para as redes privadas de 5G. O projeto tem ainda a Nokia e a Claro como parceiras.
“Existe um movimento de 5G para redes públicas, mas ainda não existe isso para redes privativas no País. E é algo que já é uma realidade em países como a Alemanha e o Reino Unido”, diz Igor Calvet, presidente da ABDI, que afirma ser fundamental que as empresas consigam ter controle em suas próprias redes. “Sobretudo agora com a Lei Geral de Proteção de Dados, as indústrias precisam ter confiabilidade nos dados.”
Novos negócios
Além da evolução da indústria, a Weg também quer usar esse teste e a própria tecnologia 5G para aumentar sua área de soluções digitais – uma das estratégias da companhia rumo à diversificação de seus negócios.
A empresa, mais conhecida pelos motores, hoje também já atua fortemente na geração de energia, que representa mais de 30% de seu faturamento. Agora, a Weg quer ajudar parceiros a caminhar rumo à indústria 4.0. Nos últimos dois anos, comprou quatro startups pensando nesse modelo de negócio em áreas como inteligência artificial e internet das coisas.
A aquisição de startups deve se acelerar nos próximos meses, diz o presidente da Weg, Harry Schmelzer Júnior. “A Weg vai continuar sendo uma empresa forte em motores, em energia renovável, mas esse é o momento de a empresa também se preparar para o futuro.”
A diversificação tem ajudado a empresa a atrair investidores. Em 2020, a companhia registrou uma receita líquida de R$ 17,5 bilhões, alta de quase 31% mesmo em um ano de pandemia, o que fez a ação da Weg ser a segunda que mais subiu dentro do Ibovespa em 2020, cerca de 120% de valorização.
Este ano, porém, as ações da companhia patinam. Desde janeiro, os papéis têm baixa de 8%. Para Flávia Ozawa, analista da Eleven Financial, ainda é possível ser otimista com a companhia, em especial pela diversificação e pela consistência nos resultados. “Essa linha de negócios de soluções digitais, por exemplo, tem um investimento inicial relativamente pequeno”, diz Flavia, que enxerga potencial de alta de 52% no preço dos papéis até o fim de 2022. (O Estado de S. Paulo/André Jankavski)