Montadoras começam a produzir baterias para seus veículos elétricos

O Estado de S. Paulo

 

Não basta fabricar automóveis elétricos; é preciso também desenvolver baterias. Muitas montadoras desejam tirar das mãos de fornecedores a responsabilidade de produzir o “coração” dos veículos elétricos e elas mesmas se movimentam para fabricá-las, geralmente em parceria com empresas especializadas.

 

Segundo estudo da empresa de robótica e eletrificação ABB Robotics, a previsão do surgimento de 80 novas gigafábricas de baterias ainda é insuficiente para atender à demanda que virá, pois a quantidade de veículos movidos a eletricidade conhecerá uma escalada no mundo até 2036, superando a de motor a combustão.

 

O levantamento destaca que, embora a Ásia ainda lidere a produção de baterias, a Europa ocupará espaço relevante nos próximos anos. “A automação é fundamental para aumentar a segurança, a qualidade e a rastreabilidade da montagem, fornecendo tecnologias de bateria de maneira econômica, o que é vital para a expansão dos veículos elétricos”, diz Tanja Vainio, diretor executivo da linha de negócios da ABB Robotics.

 

Especialistas ressaltam a importância de a montagem da bateria estar próxima ou dentro das próprias montadoras. “Isso aumenta a sustentabilidade, reduz o custo com transporte e melhora a flexibilidade”, afirma Vainio. Não é só: com a produção das baterias – responsáveis por, aproximadamente, um terço do valor final do carro elétrico –, a indústria também terá condições de diminuir o preço dos automóveis e deixá-los mais acessíveis ao consumidor. Conheça oito marcas que já produzem – ou estão em vias de produzir – baterias para seus automóveis.

 

Investimento pesado da Volkswagen

 

A montadora alemã pretende garantir o suprimento de células de baterias com seis gigafábricas, instaladas até o fim da década. Quando estiverem prontas, elas deverão produzir células com valor energético total de 240 gigawatts/ hora (GWH), por ano. As duas primeiras fábricas funcionarão nas cidades de Skelleftea (Suécia) e Salzgitter (Alemanha), com inauguração prevista para 2023. A produção própria implicará em benefícios financeiros.

 

“Queremos reduzir o custo e a complexidade da bateria e, ao mesmo tempo, aumentar sua autonomia e performance”, afirma Thomas Schmall, membro do conselho do Grupo Volkswagen.

 

Outras economias serão obtidas com a otimização do tipo da célula e a inovação de métodos de produção, assim como uma reciclagem consistente. A meta é cortar gradualmente os custos das baterias: 50% no segmento de entrada dos automóveis e em até 30% no de alto volume.

 

Porsche cria a Cellforce

 

Em maio, a Porsche e a empresa Customcells – especializada no desenvolvimento de células de bateria de íon-lítio – uniram forças para fundar o Cellforce Group, que produzirá células de bateria de alto desempenho. “A meta de produção mínima anual é de 100 MWH. Isso equivale a baterias de alto desempenho para mil veículos”, resume Oliver Blume, presidente do conselho executivo da Porsche. Para a montadora alemã, a eletrificação é um dos pilares da transição de energia e transporte, e as tecnologias modernas de armazenamento são a chave do futuro. “Estamos reunindo todas as partes essenciais da cadeia de valor, desde componentes individuais e tecnologias de produção para a fabricação de baterias até sistemas de baterias e reciclagem”, acrescenta Blume.

 

Ele explica que a química das células de alto desempenho depende do silício. O elemento aumenta a densidade da potência e pode oferecer o mesmo conteúdo de energia em um tamanho menor. Outra característica da célula de bateria do Cellforce é a maior capacidade de suportar altas temperaturas.

 

GM terá duas novas fábricas

 

A General Motors usará um sistema de gerenciamento de bateria quase totalmente sem fio para seus veículos elétricos. O recurso monitora e equilibra a química da célula em uma base constante, garantindo desempenho ideal e capacidade de carga. A GM vem desenvolvendo essas células em seu Laboratório de Sistemas Químicos e de Materiais, em Michigan (Estados Unidos).

 

Em 2022, a companhia também vai inaugurar um laboratório de inovação de bateria e um centro de tecnologia de fabricação para desenvolver a bateria Ultium da nova geração. Além disso, ela planeja construir duas fábricas de células de bateria nos Estados Unidos, em meados da década, para dar suporte às plantas em construção no Tennessee e em Ohio, também nos EUA. Com a empresa LG Chem, a GM selou acordo para desenvolver baterias de alta tecnologia e com menor custo, em níveis mais eficientes e viáveis para a produção industrial. Juntas, elas investirão US$ 2,3 bilhões para a produção em massa de células de bateria para veículos elétricos.

 

Volvo prepara novo centro de pesquisa

 

A Volvo firmou acordo com a empresa sueca Northvolt para desenvolver e produzir baterias mais sustentáveis, que equiparão os carros elétricos da montadora. Uma das etapas da sinergia é criar um centro de pesquisa e desenvolvimento na Suécia, que começará a operar em 2022.

 

O objetivo do centro é aproveitar o know-how de duas companhias e desenvolver células de bateria de última geração e tecnologias de integração de veículos. Até 2030, a Volvo pretende vender apenas carros 100% elétricos. A joint venture construirá uma gigafábrica na Europa, com capacidade de 50 GWH por ano e que entrará em atividade em 2026. O acordo prevê também a obtenção de 15 GWH de células de bateria por ano da fábrica da Northvolt, em Skelleftea (Suécia), a partir de 2024.

 

Stellantis investirá € 30 bilhões

 

O conglomerado Stellantis foi criado no início do ano e reúne marcas como Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën. Sua meta é ambiciosa: tornar-se a líder do mercado de veículos de baixa emissão. Para ser bem-sucedida, a Stellantis investirá € 30 bilhões até 2025 em tecnologias de eletrificação, desenvolvimento de software e direção autônoma. O plano inclui o suprimento de baterias dos veículos elétricos, com mais de 130 GWH de capacidade até 2025 e mais de 260 GWH em 2030. A demanda de componentes e baterias será atendida por cinco fábricas na Europa e América do Norte. Além disso, a Stellantis assinou memorando de entendimento com dois parceiros do processo de salmoura geotérmica de lítio na América do Norte e Europa, a fim de garantir suprimento de lítio, a matéria-prima da bateria. A boa notícia é que a experiência técnica e a sinergia de fabricação reduzirão os custos da bateria em 40% até 2024 e mais 20% até 2030.

 

EQS é a virada da Mercedes-Benz

 

O automóvel de luxo EQS, totalmente elétrico, marcou o início da produção de baterias da Mercedes. Para isso, a montadora transformou a fábrica de Hedelfingen, na Alemanha, em uma parte importante da rede global de produção de bateria da empresa. Além de aumentar a produção de baterias do EQS, a Mercedes expandirá as atividades de pesquisa e desenvolvimento no campo de e-mobilidade. “O EQS é construído em uma plataforma elétrica, e o início da produção dos sistemas de bateria de alto desempenho é um marco importante”, afirma Markus Schäfer, membro do conselho de administração da montadora. A ofensiva elétrica da Mercedes vai além. A empresa está se concentrando em estabelecer uma rede global de produção de baterias, com investimentos de € 1 bilhão. Essa rede consiste em nove fábricas de bateria em sete locais na Europa, na América do Norte e na Ásia. O foco é o aumento de veículos movidos a eletricidade no portfólio da marca, que, até o fim do ano, oferecerá cinco modelos puramente elétricos.

 

Hub de carros elétricos da Nissan

 

O Nissan Ev36zero é um hub de veículos elétricos da marca japonesa, que cria um ecossistema de fabricação pioneiro. Centrado em torno da fábrica de Sunderland (Inglaterra), o Nissan Ev36zero quer estabelecer uma nova solução para motorização com emissão zero e pavimentar a neutralidade de carbono. Com a parceria da Envision AESC, player global em tecnologia de baterias, e do Sunderland City Council, o Nissan Ev36zero incorpora veículos elétricos, energia renovável e produção de baterias. “Depois de alcançar uma nova fronteira com o Nissan Leaf, a Nissan será pioneira na próxima fase da indústria automotiva, atuando também na fabricação de baterias com a Envision AESC. A fábrica de baterias inteligentes otimizará o consumo de energia”, afirma Makoto Uchida, presidente da Nissan.

 

BMW investe em duas plantas

 

Na Alemanha, a BMW atua em eletromobilidade em duas frentes, que exigiram € 250 milhões. Na fábrica de Leipzig, começou a produção em série de módulos de bateria. Na unidade de Regensburg, iniciou o trabalho de revestir células de bateria de alta tensão. “Queremos que 50% dos nossos veículos sejam totalmente elétricos até 2030”, afirma Michael Nikolaides, vice-presidente de motores de produção e e-drives da BMW. Os componentes da bateria de alta tensão serão usados na produção do BMW ix e do i4. Flexíveis, os sistemas de produção, futuramente, atenderão a outros veículos eletrificados da montadora. Segundo Nikolaides, com essas atitudes, a BMW está aumentando a viabilidade das plantas, visando a eletromobilidade. “Leipzig e Regensburg terão papel importante no fornecimento de componentes de bateria ao número crescente de veículos eletrificados da BMW”, salienta. (O Estado de S. Paulo/Mário Sérgio Venditti)