O Estado de S. Paulo
Embora investimentos pesados estejam sendo feitos para ampliar a produção mundial de chips, a concorrência acirrada, de diferentes setores industriais, vista atualmente por esse componente pode ser apenas um aperitivo da tendência que se desenha para o futuro.
O mundo vai precisar cada vez mais de semicondutores para a transição de redes de comunicação móvel ao chamado 5G, em paralelo à digitalização da economia, acelerada durante a pandemia, e ao avanço da eletrônica nos mais diversos bens de consumo, incluindo o carro elétrico, que usa o dobro de chips.
Por ocorrer ao mesmo tempo em várias frentes, a transformação tecnológica coloca diante da indústria de veículos a necessidade de reavaliar o seu modelo de negócio. Embora consuma apenas 10% dos semicondutores vendidos no mundo, o setor vai perder US$ 100 bilhões por não poder fabricar carros em função da falta de eletrônicos, estima a consultoria KPMG.
Para Ricardo Bacellar, responsável por análises sobre a indústria na KPMG, é o momento de se considerar um passo para trás na evolução do padrão tecnológico dos veículos comercializados no Brasil, seja para reduzir a dependência dos escassos circuitos eletrônicos, seja para viabilizar produtos mais compatíveis com a renda do consumidor.
Volkswagen
“O brasileiro tem interesse em comprar veículos, mas os produtos de entrada se descolaram nos últimos anos de sua capacidade financeira. O resultado é que esse consumidor está correndo para o mercado de carros usados”, comenta Bacellar, para quem a investida em carros mais básicos, dispensando equipamentos não obrigatórios, como centrais de multimídia e câmbio automático, reaproximaria as montadoras dos consumidores de menor renda.
É, contudo, uma ideia já descartada publicamente pela General Motors (GM). Em recente comunicado, o presidente da montadora na América do Sul, Carlos Zarlenga, assegurou que, apesar da escassez de suprimentos, a GM não vai dar foco a versões básicas do Onix, em que pese o impacto da decisão na produção.
De acordo com Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, associação que representa a indústria nacional de veículos, a “briga” com as matrizes por envio de itens como módulos, sensores e microprocessadores tornou-se uma rotina nas montadoras. “Brigamos para ter a maior fatia possível. Faz parte do dia a dia porque existe o risco de ficar com um pedaço menor do bolo”. (O Estado de S. Paulo/Eduardo Laguna)