Pela 1ª vez, governo vê inflação fora da meta

O Estado de S. Paulo

 

Pela primeira vez, o Ministério da Economia passou a prever o estouro da meta da inflação neste ano. Em documento divulgado ontem, a equipe do ministro Paulo Guedes estimou em 5,9% a inflação de 2021, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O teto da meta que precisa ser perseguida pelo Banco Central é de 5,25%. A estimativa anterior do governo, de março, era que a alta dos preços ficaria em 5,05% neste ano.

 

O secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, disse que as políticas fiscais (sustentabilidade das contas públicas) e monetária (calibragem da taxa básica de juros para o controle da alta dos preços) seguem “trabalhando juntas”. “A inflação está em elevação em todos os lugares do mundo”, afirmou ele, ao citar como fatores os estímulos fiscais dados pela maior parte dos países em meio à pandemia do novo coronavírus e o aumento da demanda por produtos básicos, como alimentos, minério de ferro e petróleo.

 

“Esse é mais um motivo para insistirmos na agenda de reformas econômicas. Quanto mais rápido e de maneira mais consistente avançarmos, mais rápido teremos melhores resultados econômicos”, disse.

 

A meta central do governo para a inflação em 2021 é de 3,75%, com um intervalo de tolerância que varia de 2,25% a 5,25%. Para alcançá-la, o BC eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic), que agora está em 4,25% ao ano.

 

No mês passado, o BC já tinha divulgado que o risco de estouro da meta havia subido para 74%. Para uma centena de analistas de instituições financeiras, consultados pelo próprio BC, o IPCA deve acumular alta ainda maior no ano – de até 6,11%.

 

Na hipótese de a meta ser descumprida, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, terá de enviar uma “carta aberta” a Guedes para explicar as razões do estouro. A última vez que isso ocorreu foi em janeiro de 2018, mas o motivo foi outro: por conta de a inflação do ano anterior ter ficado abaixo do piso da meta. Então na presidência do BC, Ilan Goldfajn apresentou como justificativa a forte queda dos preços dos alimentos na esteira da safra recorde.

 

PIB

 

O ministério ainda revisou sua projeção para a recuperação da economia e espera agora uma alta de 5,30% no Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Na última previsão, em março, o crescimento estimado era de 3,50%.

 

De acordo com a SPE, o resultado do PIB do primeiro trimestre, com alta de 1,2%, mostrou que a economia brasileira está se recuperando da crise econômica causada pela pandemia a taxas mais altas do que em recessões anteriores. Para 2022, a estimativa de alta no PIB passou de 2,50% para 2,51%.

 

Sachsida disse que, se “mudanças estruturais ocorrerem”, como uma terceira onda da pandemia de coronavírus, a pasta fará ajustes nas projeções para a economia. “A pandemia criou dificuldades extras para as projeções econômicas.”

 

Ele foi questionado sobre o assunto depois de a CPI da Covid receber documentação que mostrou que o secretário fez previsões sobre o fim da pandemia no fim do ano passado sem questionar o Ministério da Saúde. Na ocasião, ele disse que o Brasil estava próximo de alcançar a “imunidade de rebanho”. O secretário pediu desculpas pelas declarações e disse que não deveria ter falado de assunto fora de sua alçada. (O Estado de S. Paulo/Lorenna Rodrigues e Fabrício de Castro)