Volta do turismo favorece locadoras

O Estado de S. Paulo/Rebeca Soares

 

As empresas de locação de veículos ainda aguardam a completa vacinação dos brasileiros contra a covid-19 para engatar uma recuperação, apoiada na retomada do turismo no País e das viagens corporativas. Apesar do aumento recente na inflação e no preço da gasolina e diesel, analistas afirmam que o segmento está otimista para o segundo semestre.

 

Localiza Hertz, Movida e Unidas são as representantes do segmento na Bolsa. De julho de 2020 até o dia 8 deste mês, as ações saltaram 47,9%, 34,8% e 57,4%, respectivamente. Além das três empresas, a Vamos, que trabalha com locação de caminhões, abriu o capital em janeiro deste ano e alcançou valorização de 100,16% até a última quinta-feira. Apesar do crescimento expressivo em 12 meses, as ações de Localiza e Unidas tiveram queda desde o primeiro pregão do ano (veja quadro).

 

A alta no preço dos carros novos, reflexo do fechamento de fábricas durante a pandemia e da consequente diminuição na produção, também deverá impulsionar os lucros das empresas que trabalham com a venda de usados, como as locadoras.

 

De acordo com Pedro Bruno, analista de transportes e bens de capital da XP, as empresas desse setor listadas na B3, a Bolsa brasileira, tiveram grande destaque nos últimos anos por causa do preço mais acessível do aluguel de carros. Ele aponta que, de 2014 a 2019, a tarifa média de locação chegou a diminuir mais de 20%.

 

A redução no valor fez com que a utilização de carros alugados durante a pandemia fosse uma alternativa viável para substituir o transporte público e serviços privados de transporte compartilhado. O analista salienta ainda que muitas montadoras precisaram fechar durante a pandemia, o que prejudicou a disponibilidade de carros novos no mercado e, consequentemente, aumentou os preços dos veículos.

 

“Por outro lado, como as pessoas não queriam andar de transporte público ou carro compartilhado por causa do medo de contaminação do coronavírus, decidiram alugar carros para realizar uma determinada atividade ou comprar seminovos”, diz Bruno.

 

A concorrência, o repasse do aumento nos preços da gasolina e a perspectiva de aumento da inflação não devem prejudicar o setor.

 

Mudança de rota

 

O setor das locadoras é dividido em três categorias: aluguel de varejo, gestão e terceirização de frota e venda de seminovos. Os dois primeiros devem ter crescimento, com o retorno de movimento nos aeroportos e a diminuição do trabalho remoto nas empresas. A terceira área de atuação também deve crescer enquanto o custo de carros novos estiver elevado.

 

A resiliência do setor é o destaque para Ricardo França, analista da Ágora Investimentos. Para ele, o segmento teve um desempenho positivo durante a crise e deve entrar nos holofotes nos próximos meses. França ressalta que as três empresas estão com recomendação de compra na Ágora, assim como a holding Simpar, que, além de ser controladora da Movida e da Vamos, também trabalha no setor de logística. “As locadoras acompanham a boa expectativa para a retomada da atividade econômica, especialmente com o retorno do movimento nos aeroportos”, afirma.

 

Para a Genial Investimentos, outro ponto importante para alavancagem do setor no segundo semestre é a mudança de comportamento do consumidor. Enquanto muitos jovens sonhavam com o carro próprio há dez anos, novas opções de mobilidade urbana já são consideradas. A locação temporária de veículos é uma delas.

 

Além disso, a popularização dos aplicativos de carona contribuiu para impulsionar as locadoras e transformar o perfil dos possíveis compradores de carros. Muitos motoristas utilizam automóveis alugados, especialmente por causa dos juros de financiamentos elevados, custos com manutenção e gastos com seguradoras. (O Estado de S. Paulo/Rebeca Soares)