O Estado de S. Paulo
Com altas mais brandas na conta de luz e na gasolina, a inflação oficial no País desacelerou de 0,83%, em maio, para 0,53% junho, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgados ontem pelo IBGE. Apesar da melhora, o quadro inflacionário permanece desconfortável, dizem economistas, o que tem motivado revisões para cima nas projeções para o IPCA no ano.
Com o resultado de junho, o indicador passou a acumular uma variação de 8,35% nos últimos 12 meses – bem acima do teto da meta de inflação que deve ser mantido pelo Banco Central em 2021, de 5,25%.
O Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú Unibanco elevou sua projeção de inflação em 2021, de 5,6% para 6,1%, enquanto o banco britânico Barclays informou viés de alta na sua previsão de 6,3% para o IPCA de 2021 e de 3,6% para 2022. “Acho que a leitura geral continua sendo de um IPCA mostrando um quadro que não é tão favorável”, resumiu o economista Daniel Lima, do Banco ABC Brasil, que estima um IPCA de 6,50% ao fim deste ano e de 3,70% em 2022.
O resultado do indicador de junho veio em linha com as estimativas mais otimistas de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que estimavam uma alta mediana de 0,59%.
Daniel Lima prevê aceleração do IPCA a 0,85% no mês de julho, impulsionado pelo encarecimento da energia elétrica, devido ao reajuste no valor da cobrança extra pelo acionamento da bandeira tarifária vermelha 2 sobre o consumo na conta de luz.
“Ainda podemos ter pressões de gasolina, com o reajuste da Petrobrás, com alguma coisa desse aumento repassada”, diz o economista. “Outro risco é a questão das geadas, que está começando a pegar nos produtos (alimentícios) in natura. Tubérculos, raízes e legumes tiveram deflação de 11,15% em junho, mas espero uma reversão ao longo de julho em função das questões climáticas”, afirma Lima.
O desempenho de junho não muda a avaliação de que a inflação continua pressionada, comenta o economista Luis Menon, da gestora de recursos Garde Asset Management. “Acho que esse número de junho não muda muito o cenário também para o Banco Central, que disse que estava desconfortável com os números. O cenário é de continuar o aperto”, afirma Menon, sobre a expectativa de alta na taxa básica de juros, a Selic.
A Garde Asset prevê que o Comitê de Política Monetária do BC decida por um aumento de 0,75 ponto porcentual da Selic na reunião de agosto, com altas subsequentes até que a taxa suba dos atuais 4,25% ao ano para 7,0% ao ano, em dezembro.
Alta geral
Em junho, as famílias só gastaram menos com comunicação. Todos os demais grupos de bens e serviços ficaram mais caros, com destaque para os custos maiores de habitação, transportes, alimentação, saúde e vestuário. A energia elétrica aumentou 1,95% em junho. Embora tenha subido menos que no mês anterior (5,37%), a conta de luz ainda foi o item de maior impacto individual no IPCA. Em junho, passou a vigorar a bandeira tarifária vermelha patamar 2 – acrescentando R$ 6,243 à conta de luz a cada 100 quilowattshora consumidos, valor anterior ao reajuste que começou a valer em julho. O novo valor veio em substituição à bandeira vermelha patamar 1, que vigorou em maio (cujo acréscimo era menor, de R$ 4,16).
Os combustíveis tiveram uma elevação de 0,87% em junho, acumulando uma alta de 43,92% nos últimos 12 meses. A gasolina aumentou 0,69%, segundo maior impacto sobre a inflação do mês, após os preços já terem subido 2,87% em maio. Também ficaram mais caros em junho etanol (2,14%), óleo diesel (1,10%) e gás veicular (0,16%). O gás de botijão subiu 1,58%, enquanto o encanado aumentou 5,01%.
Na alimentação, os gastos com supermercados aumentaram 0,33%, sob impacto, principalmente, de nova alta nas carnes, que subiram pelo quinto mês seguido e já estão 38,17% mais caras ante um ano antes. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim e Cícero Cotrim)