Setor de máquinas agrícolas prevê alta de 30% nas vendas e faturamento recorde em 2021

Globo Rural  

 

A alta demanda impulsionada pela rentabilidade das commodities deve levar o setor de máquinas agrícolas a ter um aumento real de 30% no ano e fechar com o recorde de R$ 33 bilhões de faturamento.

 

A projeção é de Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Implementos (Abimaq), que tem 500 indústrias associadas.

 

Ele destaca que, só no primeiro quadrimestre do ano, o aumento de faturamento foi de 63%, mesmo com o estresse generalizado da cadeia mundial de suprimentos, em função dos efeitos da pandemia de Covid-19.

 

O recorde anterior de faturamento, de R$ 28,2 bilhões, já descontada a inflação, foi estabelecido em 2013, quando o setor viveu um ano de “tempestade perfeita.” No ano passado, o aumento foi de 17%, com um faturamento de R$ 25 bilhões.

 

A John Deere, uma das grandes multinacionais do setor de máquinas agrícolas, prevê um crescimento no ano de 20% a 25% em suas operações na América Latina, segundo o diretor de vendas Marcelo Lopes.

 

Segundo ele, o aumento da demanda por máquinas é desproporcional à capacidade de reação de toda a cadeia. “Como todo o setor, a John Deere sente os impactos da desorganização da cadeia de suprimentos e registra atrasos pontuais em entregas. Não temos como aceitar novos pedidos de equipamentos de plantio para entrega neste ano, mas os clientes já entenderam que o momento é desafiador.”

 

Estevão, da Abimaq, diz que a carteira geral das empresas associadas à entidade é de 12 semanas para entrega dos pedidos, ante as 8 semanas de períodos anteriores à crise da falta de peças.

 

Ele destaca que as grandes indústrias são mais afetadas porque dependem mais de componentes internacionais e não conseguem responder com tanta agilidade como as pequenas e médias fábricas ao aumento da demanda.

 

Nesse cenário, o diretor da John Deere diz que a grande pergunta do setor é até quando a demanda vai se manter tão aquecida. A expectativa de Lopes é que haja uma estabilização no próximo ano, mas a patamares mais elevados, já que o país está aumentando sua área de plantio e muitos pecuaristas estão transformando suas áreas em lavouras ou adotando o sistema lavoura-pecuária e, portanto, vão precisar investir em equipamentos.

 

O dirigente da Abimaq aposta em mudanças na demanda só a partir do segundo trimestre de 2022. Ele diz que a resposta, no entanto, depende de quatro fatores que vão ocorrer nos próximos meses: o desenvolvimento da safra americana de grãos, o desempenho da colheita da safrinha brasileira, o plantio da safra verão e os números da colheita sul-americana e nos EUA. “Por enquanto e pelas previsões, não há motivos para os preços internacionais registrarem queda.”

 

Um fator, no entanto, que pode impactar bastante o “apetite” de investimento do produtor é a queda do dólar.  “Se a rentabilidade cair, o agricultor fica menos propenso a comprar máquinas.”

 

O que também pode mudar os humores do mercado é o Plano Safra, que será divulgado pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina nesta terça-feira (22/6). Estevão aposta em um volume de R$ 11 bilhões para Moderfrota e Pronaf Investimento, diante de uma demanda de R$ 60 bilhões.

 

“É pouco dinheiro. Como os recursos dessas linhas no atual Plano Safra terminaram muito cedo, os produtores recorreram a financiamentos de fora, como os do Banco do Brasil e os da linha BNDES Crédito Rural, que ofereceram juros baixos, mas em 2022 os recursos subsidiados também devem acabar logo e não deve ter dinheiro barato para financiar a produção rural.”

 

Lopes também aposta em um Plano Safra com recursos limitados, mas vê uma maior participação dos financiadores privados, como o Banco John Deere, que é um dos maiores repassadores das verbas do Moderfrota, mas, desde novembro do ano passado, passou a operar também com funding próprio.

 

No Brasil, o banco tem uma carteira de R$ 8 bilhões e, do total de máquinas agrícolas e de construção financiadas, cerca de dois terços são por recursos do BNDES e o restante por recursos próprios e de outros bancos.

 

Estevão acrescenta que o mercado está acostumado a episódios de preço das commodities em alta, demanda por máquinas lá em cima e, na sequência, uma grande ressaca, com quedas de 30% a 40% nas vendas. “Estou há 45 anos no ramo e já vi sete episódios assim. O fato é que a demanda por máquinas é inelástica porque o produtor não vai renovar a frota todos os anos.”

 

E não é apenas o setor de máquinas novas que vem “surfando nessa onda” positiva. Marcelo Pinheiro, diretor técnico da MaisAtivo, empresa do Grupo Superbid Markeplace, plataforma de leilões, diz que a empresa registrou elevação de 36,8% nas vendas de equipamentos usados do segmento em 2020, na comparação com o ano anterior, com maior pico de ofertas no último trimestre.

 

O comércio de colheitadeiras e colhedoras, por exemplo, teve elevação média de 57% e o de implementos agrícolas, 39%. Foram comercializadas 2.500 máquinas entre tratores, colheitadeiras e pulverizadores no ano passado, com tíquete médio de R$ 20 mil a R$ 450 mil. Nos primeiros meses deste ano, o aumento de vendas do setor, que representa 10% do volume de transações da plataforma, foi de 20,3%.

 

Pinheiro elenca três fatores que contribuíram para o aumento dos negócios da Superbid: o atraso nas entregas de equipamentos novos devido à falta de peças, o aumento acentuado de preços das máquinas zero e a queda de idade do maquinário que está chegando para os leilões.

 

“Há dez anos, as máquinas agrícolas que chegavam para venda tinham mais de 15 anos, eram sucateadas e precisavam de ajustes para funcionar. A partir de 2018, começamos a trabalhar com máquinas de 10 anos. No ano passado, em plena pandemia, os modelos ofertados passaram a ser bem mais novos, de 5 a 10 anos, prontos para operar”, afirma.

 

Colheitadeiras, tratores e implementos que entram no leilão vêm de clientes corporativos, como grandes empresas, usinas e cooperativas que ofertam os bens na renovação de suas frotas. A plataforma oferece o suporte comercial às empresas, faz avaliação e estruturação do valor antes de enviar o produto para o marketplace, onde fica de 15 a 20 dias recebendo ofertas.

 

Segundo o diretor, o preço final do equipamento vai depender da demanda. Ele conta que, em 11 de junho, foi vendido um pulverizador da Jacto de 10 anos por R$ 294 mil, preço bem acima do valor de mercado. Os pagamentos são à vista e as máquinas não têm garantia.

 

“O produtor leva em conta a credibilidade do vendedor, a necessidade da máquina em pronta entrega e a logística necessária para recolher o bem.” A maioria dos lances vêm de produtores que estão num raio de 1.000 km da oferta, mas Pinheiro diz que não é raro ter compradores de Estados bem mais distantes.

 

A volta da normalidade na cadeia de suprimentos de peças para as indústrias não é fator de estresse para a Superbid. Ao contrário, diz Pinheiro. “Hoje, estou com estoque represado de máquinas usadas nos meus clientes porque as novas que eles encomendaram atrasaram. Com a normalização, devo ter mais ofertas.”

 

Há 21 anos no mercado brasileiro, a Superbid expandiu sua atuação para Argentina, Chile, Peru e Colômbia. Os setores agrícolas que mais usam a plataforma são os de grãos, cana-de-açúcar e cítros.

 

O Grupo MF Rural, que faz a negociação de máquinas usadas entre o comprador e o vendedor, também festeja o aumento de vendas em sua plataforma de marketplace dedicada ao produtor rural.

 

Em volume, segundo o CEO, Rafael Fabrizzi Lucas, as vendas de tratores, máquinas, caminhões e implementos passaram de 560 unidades entre janeiro e maio de 2020 para 800 este ano, aumento de 42,9%. O valor de venda subiu de R$ 32,3 milhões para R$ 62,2 milhões (92%) e o tíquete médio passou de R$ 57,7 mil para R$ 77,8 mil. (Globo Rural/Eliane Silva)