Modelos “mil” mantêm um público fiel

O Estado de S. Paulo

 

Embora ainda associado por muita gente aos modelos mais básicos, o carro “mil” hoje não é mais sinônimo só de veículo “popular”. Profissional da área financeira, Ricardo Silveira acabou de comprar um Onix 1.0 depois que seu outro veículo, com motor 1.4, foi furtado. “Tive uns três ou quatro carros mil na sequência. Sempre gostei.

 

Comprei esse, mas decidi voltar para a categoria.”

 

O fator que definiu a escolha de Silveira foi a economia de combustível. Ele mora em Taboão da Serra e trabalha no bairro do Jabaquara, em São Paulo. “Viajo 20 quilômetros para ir e mais 20 para voltar todo dia. Com o preço do combustível, isso foi decisivo.”

 

E, como roda muito, Silveira gosta de trocar de carro a cada três anos para não ter problemas com manutenção. O modelo de entrada, motor 1.0, sempre teve mais “trânsito’’ no mercado por ser bem aceito, na opinião dele. E isso facilita a troca. “Mas a quilometragem não pode aumentar demais, se não fica difícil dar o carro como entrada na troca por outro novo.’’

 

Nessa volta às mil cilindradas, porém, Silveira deu um passo além. Embora seja 1.0, o Onix escolhido por ele tem pouco de popular. Custou R$ 89 mil e tem um aditivo – é turbo. “Mesmo sendo mil, ele rende igual ao 1.4, mas com a economia da versão popular’’, diz ele. Fora isso, o modelo tem acabamento de luxo, câmbio automático, central multimídia, chaves com sensor de presença e vários outros penduricalhos. “Estou bem feliz. Vou ter a economia que preciso, terei a potência do turbo e o conforto de um veículo de luxo.’’

 

Enquanto há quem renove o carro 1.0, outros decidem manter sempre o mesmo. É o caso do empresário paulistano Alexandre Brazales, que comprou há 21 anos um Gol 1.0 de 1994. O veículo “durou até a semana passada”. “Nunca me deixou na mão. Esse carro era melhor que um Jeep: enfrentava lama, subida, tudo”, conta.

 

Ele acabou de vender o “xodó” depois de um acidente. “Um louco de BMW não me viu e me acertou num cruzamento”, conta. Mas Brazales fez questão que o veículo tivesse uma nova vida. “Esperei para vender para alguém que se propusesse a restaurar o Gol. Os documentos estão todos em dia, manual e tudo”, diz ele, que passou o automóvel para frente por R$ 1,3 mil para um funileiro interessado em fazer o veículo “ressuscitar”.

 

‘Máquina do tempo’. Entre 80 carros antigos e estilosos, como Pumas e Kombis, o representante comercial Wlamar Paiosin, de Campinas (SP), guarda um Corsa Wind 1.0 de 1995 – um dos símbolos dos carros populares no Brasil. Mas o carro é suficientemente icônico para figurar em uma coleção? Para Paiosin, sim. “Gosto de carros que marcaram época. E o Wind foi um deles. Entrar nele é como voltar para 1995. É uma máquina do tempo.”

 

O Corsa tem 12 mil km rodados. “Comprei de um senhor que queria, em 1995, dar um carro zero para a filha. Mas ela, em seguida, se mudou para os Estados Unidos e o carro ficou parado esses anos todos com ele, até eu comprar, há quatro anos”, afirma o colecionador. (O Estado de S. Paulo/Lílian Cunha)