O preço é alto, mas alguns fatores geram economia ao proprietário

O Estado de S. Paulo/Mobilidade

 

Comprar um automóvel elétrico no Brasil ainda é para poucos, devido aos preços exorbitantes dos modelos disponíveis no mercado. Mas existem algumas compensações que aliviam o bolso do consumidor.

 

A principal delas é a manutenção, aproximadamente, 30% mais barata, em comparação ao automóvel com motor a combustão, graças à inexistência de componentes como velas, correias, filtros de combustível e de óleo, engrenagens de câmbio e bielas.

 

“Não há dúvida de que o carro elétrico – que não emite gases poluentes – é a mola propulsora dos novos tempos da mobilidade urbana”, afirma Rogério Markiewicz, presidente da Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores (Abravei). “Por isso, ele poderia receber mais incentivos.” Markiewicz se refere à incidência de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que vai de 7,5% a 14%. “É uma conta maluca, que envolve fatores como peso, potência do carro e eficiência energética”, diz.

 

No entender de Markiewicz, o IPI poderia ser menor. No entanto, alguns estados do País já reconhecem a importância desse tipo de veículo, ao conceder descontos ou isenção total no pagamento do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). “A isenção completa já existe, principalmente, em estados do Nordeste. Outros ainda avaliam a viabilidade de não cobrar IPVA ou dar bons descontos. Seria um ótimo incentivo para estimular o aquecimento desse mercado”, revela.

 

A cidade de São Paulo concede 50% de desconto no pagamento de IPVA e permite que os carros elétricos circulem nas ruas todos os dias, liberados do rodízio municipal. “Isso gera a economia de não precisar comprar um segundo carro para fugir da restrição ou de requisitar transporte por aplicativo no dia do rodízio”, explica Evandro Gonçalves Mendes, CEO da Electricus, empresa especializada em soluções de infraestrutura para recarga de veículos elétricos.

 

R$ 0,16 por Km rodado

 

Outra vantagem é a economia ao rodar no dia a dia. “Estudos mostram que o preço do quilômetro rodado do automóvel com motor convencional custa entre R$ 0,50 e R$ 0,75. No veículo elétrico, esse valor cai para R$ 0,16. Para quem dispõe de geração fotovoltaica, o preço despenca para R$ 0,04”, garante Mendes.

 

O valor do quilômetro rodado é zero se o proprietário recarregar a bateria nos eletropostos existentes, por exemplo, em shoppings centers, concessionárias ou em rodovias, como a Presidente Dutra (que liga São Paulo ao Rio de Janeiro), que não cobram nada pelo serviço. “Em casa, minha conta de luz nunca passou de R$ 80 a mais da fatura normal por causa da recarga doméstica do carro elétrico”, diz o presidente da Abravei. “É um custo bem menor do que completar o tanque com etanol ou gasolina ao longo do mês.”

 

Fazendo uma comparação com o abastecimento do reservatório de 44 litros do Chevrolet Onix – carro mais vendido do Brasil –, o preço é de aproximadamente R$ 230 com gasolina e R$ 180 com etanol. Na ponta do lápis, a despesa foi, respectivamente, 34% e 45% menor.

 

Posto dentro de casa

 

Para economizar em percursos bem mais longos, basta fazer um planejamento de viagem. Ao dirigir mais de mil quilômetros de Brasília, onde mora, até São Paulo, Rogerio Markiewicz sabe exatamente quais são as paradas que deve fazer a fim de recarregar seu Chevrolet Bolt.

 

“Não gasto nada pela energia elétrica consumida e sei que não correrei o risco de ficar sem carga. Trinta minutos são suficientes para realimentar 80% da bateria”, ressalta. “Muitas vezes, o consumidor fica receoso, achando que não terá onde recarregar a bateria no meio do caminho”, acrescenta Mendes.

 

“Ter um carro elétrico é levar o posto de abastecimento para dentro de casa.” A definição de Evandro Mendes está cada vez mais real na cidade de São Paulo, por causa da lei municipal 17.336/2020. Ela regulamenta a obrigatoriedade de instalação de pontos de recarga em novos prédios residenciais e comerciais, com cobrança individual da energia consumida. “A medida agrega valor tanto ao veículo como ao imóvel”, acredita.

 

Para Rodrigo Markiewicz, mais do que obter alguma economia no bolso, usar carro elétrico é uma questão de atitude, acima de tudo. “Ninguém te obriga a separar o lixo orgânico do reciclável. Você não ganha dinheiro com isso. Mas o que vale é a consciência de cada um, porque sei que estou ajudando a preservar o meio ambiente”, completa. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Mário Sérgio Venditti)