Falta de chip trava 9 das 21 montadoras

O Estado de S. Paulo

 

A piora no fornecimento de componentes eletrônicos, com a escassez global de chips, abriu uma nova onda de paralisações na indústria automotiva brasileira. Praticamente metade das fábricas de automóveis do País – 9 de 21 unidades – está parando, por períodos que vão de dias a meses, pela indisponibilidade do insumo.

 

Após a recomposição de parte dos estoques de peças que permitiu ao setor funcionar sem tantas interrupções a partir de meados de abril, seis montadoras foram obrigadas a desligar novamente as máquinas. Volkswagen, General Motors (GM), Hyundai, Renault, Honda e Nissan formam a lista de fabricantes que comunicaram novamente paradas completas ou parciais de produção, algumas em mais de uma fábrica.

 

A direção da Anfavea, que representa as montadoras no Brasil, reforçou ontem, durante a divulgação dos resultados da indústria automotiva de maio, a visão de que a crise no abastecimento de componentes eletrônicos não tem solução de curto prazo, devendo provocar novas paradas de produção de automóveis até o fim do ano.

 

Ao observar que a capacidade de produção global de semicondutores não cobre a demanda deste ano, o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, lembrou de previsões de especialistas e fornecedores que apontam para uma normalização no fornecimento do insumo somente em 2022. “Teremos algumas emoções até fim do ano”, afirmou.

 

Em Piracicaba (SP), o terceiro turno da Hyundai foi suspenso na segunda-feira da semana passada e não volta antes do fim deste mês. A montadora avalia parar também o segundo turno, o que reduziria a uma única jornada o funcionamento da fábrica, que trabalha em três expedientes praticamente desde a sua inauguração em 2012.

 

Se não houver regularização mínima nos estoques de componentes eletrônicos, a Volkswagen, que vinha conseguindo administrar a instabilidade no fornecimento de peças sem parar fábricas, poderá suspender em julho a produção em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

 

As unidades da Volks em Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (PR) iniciaram ontem uma paralisação de dez dias porque não há circuitos eletrônicos suficientes para continuar com a produção dos modelos Gol, Voyage, Fox e T-Cross, os carros montados nas duas fábricas.

 

Na GM, a fábrica de São Caetano do Sul (SP), cuja produção noturna, com exceção de pintura e funilaria, está suspensa desde a semana passada, vai parar completamente a partir de 21 de junho, quando os demais setores também serão fechados temporariamente.

 

A volta está marcada apenas para 2 de agosto, período no qual a GM vai, em boa parte, produzir no Brasil apenas a picape S10 e o utilitário esportivo Trailblazer em São José dos Campos (SP), uma vez que sua terceira fábrica, responsável pela produção do Onix, vem adiando o retorno. Não há previsão de retomada da produção do carro mais vendido do País antes de agosto.

 

Sem componentes eletrônicos, a Renault parou por três dias, nas últimas duas semanas, a linha de carros de passeio no Paraná, enquanto a Nissan vai interromper a produção no sul do Rio de Janeiro por cinco dias intercalados deste mês, sendo duas paradas da marca japonesa já realizadas e a próxima agendada para sexta-feira.

 

Na Honda, as fábricas de Sumaré e Itirapina, ambas cidades do interior de São Paulo, vão parar amanhã, com retorno apenas na segunda-feira. A unidade de Sumaré, onde a Honda monta os modelos Fit, City e Civic, já tinha interrompido a produção por dois períodos entre fevereiro e março em razão da falta de componentes eletrônicos.

 

“Teremos algumas emoções até o fim do ano”, Luiz Carlos Moraes presidente da Anfavea. (O Estado de S. Paulo/Eduardo Laguna)