Centros urbanos devem se voltar para as pessoas

O Estado de S. Paulo

 

Pedestres andando tranquilamente por calçadas bem cuidadas, ciclistas pedalando com segurança, menos carros nas ruas e uma frota adequada e sustentável de transporte público são alguns dos principais marcos de uma cidade que dá prioridade ao bem-estar e à mobilidade focada nas pessoas – e não no automóvel. A transição para esse modelo requer uma mudança de mentalidade da população e de governos, mas a adaptação da estrutura hoje existente é um primeiro passo. “Não é preciso fazer investimentos gigantes para repensar nossas cidades.

 

A estrutura viária já está construída, é aproveitar melhor”, afirma o CEO da Tembici, Tomás Martins, um dos participantes do Summit Mobilidade 2021. Joinville (SC) e Fortaleza são bons exemplos. A primeira, aproveitando softwares livres, repensou o sistema viário da cidade, favorecendo seus cidadãos. “A prefeitura devolveu 72 horas por ano aos moradores”, afirmou a pesquisadora de cidades inteligentes Stella Hiroki, referindo-se ao tempo gasto em deslocamentos. Na capital cearense, medidas como a criação de faixas de pedestres elevadas, redução do limite de velocidade e a criação de ciclovias, cuja malha passou de 68 km para quase 400 km, trouxe melhoras à mobilidade.

 

A superintendente da Autarquia Municipal de Trânsito de Fortaleza, Juliana Coelho, diz que toda a população da cidade hoje mora a até 300 metros de distância de uma ciclovia. O aumento da mobilidade ativa, como o uso de bicicleta, foi impulsionado pela pandemia. E, mundo afora, metrópoles aproveitaram justamente esse período para rever ou colocar em prática seus planos. É o caso de Los Angeles, cidade conhecida por sua grande identificação com o carro particular. Com a crise da covid-19 e a queda de 73% no movimento de passageiros nos ônibus e no número de carros nas vias, a metrópole tomou espaços nas ruas para negócios de alimentação ao ar livre, garantindo distanciamento físico, contou o coordenador de sustentabilidade do Departamento de Trânsito de Los Angeles, Marcel Porras.

 

Na Europa, o projeto Paris 15 minutos avança. “O conceito está se tornando cada vez mais popular no mundo”, afirmou Carlos Moreno, referindo-se à iniciativa da cidade em que os moradores têm acesso a tudo o que precisam a apenas 15 minutos de caminhada de suas casas. Ele foi um dos idealizadores da proposta, adotada pela prefeitura, que passou a dar um novo planejamento à metrópole europeia. Melhorar a vida das pessoas nos grandes centros urbanos, rumo a cidades sustentáveis e funcionais, exige também um plano que inclua diversidade de empregos, boas ofertas de serviços e habitação em todas as regiões, como a capital francesa procura fazer. Segundo participantes do Summit 2021, os planos diretores, como o de São Paulo (em revisão), podem contribuir para essa finalidade. (O Estado de S. Paulo)