Como “sobreviver” nas ruas sem acidentes ou multas

O Estado de S. Paulo

 

Luiz Mingione é um piloto de moto que tem em seu currículo até um título de campeão no rali mais perigoso do mundo, o Paris-dakar, em 2002. Dirige moto, carro, furgão e também tem curso de piloto de avião. Mas, apesar de conduzir veículos de duas, quatro ou mais rodas para trabalhar, Mingione, 62 anos de idade e 44 de habilitação, garante que não recebeu mais do que seis multas. “Se tive meia dúzia, foi muito”, afirma. “Nunca raspei nem no portão da garagem.”

 

Mingione diz que se envolveu em apenas um acidente, quando um motorista atravessou o sinal vermelho e atingiu seu carro. Ele faz parte de um seleto grupo de motoristas que, apesar de dirigirem há muito tempo (e de manterem alta quilometragem rodada), praticamente têm “ficha limpa”, com poucas multas e quase nenhum envolvimento com colisões.

 

Boa parte da carreira profissional de Mingione foi passada em cima de motocicletas. Quando trabalhou na Honda, nos anos 90, ele saía às ruas para experimentar motos, durante a fase de desenvolvimento. Pela mesma razão, naquela época, dirigia também o furgão da empresa, no qual transportava as motocicletas de teste. Para isso, além da habilitação de moto, precisou de também estar apto para conduzir veículos de carga.

 

De acordo com ele, o segredo para se manter livre de multas e longe de problemas é ter cuidado. “Não gosto quando vejo alguém que liga o carro, sai dirigindo e só depois coloca o cinto”, comenta. A receita é ficar atento, e garante que a experiência de motociclista ajuda.

 

Reflexos apurados

 

“Quem anda de moto desenvolve a característica de ficar ligado em tudo o tempo todo”, afirma Mingione, que também é instrutor de pilotagem. Como nas trilhas as coisas acontecem muito rapidamente, é preciso ter reflexo apurado. “Eu carreguei isso para o carro”, informa.

 

Além de dirigir no Brasil, ele conduziu carros e motos também na Itália e Turquia, países onde morou e trabalhou. Por lá, Mingione garante que era ainda mais precavido, por causa da severidade das normas. O único lugar em que ele diz ter “desistido” de dirigir foi no Japão. “A empresa me cedia carro e moto, mas as provas para obtenção de habilitação eram tão rigorosas que desisti.”

 

O engenheiro aposentado Eduardo Agostinho Fangel, 69 anos, só descobriu que havia duas multas em seu prontuário recentemente, ao renovar a habilitação. “E uma delas é porque não dei sinal de braço ao fazer uma conversão”, afirma. Sinalizar com o braço para entrar à direita ou à esquerda é um recurso que caiu em desuso há décadas, mas ele ainda pode ser usado em substituição ao acionamento da seta. De qualquer modo, o pisca é o modo mais comum de sinalização para mudança de direção.

 

Aplicativos ajudam

 

Com carteira de habilitação desde 1979, Fangel considera que o trânsito virou “terra de ninguém”. Em sua opinião, os motoristas são mal preparados, “e a escola ensina a passar no teste, não a dirigir”. Ele julga que o ideal é andar dentro do limite de velocidade da via. “O que não significa dirigir muito devagar”, prática que, a seu ver, igualmente não é recomendável.

 

Fangel também aconselha o uso de apps como o Waze, que, além de informar a rota a ser seguida, alerta se há carros parados adiante. Ele inclusive recomenda que se ande com o vidro fechado, porque, em sua opinião, o excesso de ruído prejudica a concentração. Pela mesma razão, Fangel acha que não se deve fumar enquanto dirige.

 

Atenção no trânsito é o principal conselho dado pelo técnico de laboratório automotivo Fábio Nonato Santana, 42 anos. “É importante tentar prever o que os outros motoristas irão fazer”, declara. Em seus 24 anos de habilitação, ele garante que teve três multas e um acidente, no qual não foi o responsável. “Eu estava passando no semáforo verde para mim quando outro motorista cruzou o vermelho e me acertou no meio”, lembra.

 

As poucas multas contrastam com a rotina do técnico, que dirige 90 quilômetros, todos os dias, entre sua casa, em Indaiatuba, e o trabalho, em Hortolândia, ambas no interior de São Paulo. (O Estado de S. Paulo/Hairton Ponciano Voz)