O Estado de S. Paulo
A Petrobrás vai continuar vendendo combustível a preço de mercado internacional e em dólar. O recado foi dado pela nova diretoria, ontem, em eventos virtuais para detalhar o resultado financeiro do primeiro trimestre deste ano. Ainda que o comando da empresa tenha mudado há um mês, as prioridades permanecem as mesmas da gestão anterior: redução da dívida, venda de ativos e investimento cada vez mais concentrado no pré-sal.
O diferencial do discurso do novo presidente da estatal, o general do Exército Joaquim Silva e Luna, transmitido num breve vídeo a analistas, foi a promessa de que a empresa vai produzir mais petróleo nos próximos cinco anos do que em qualquer período da sua história. “Temos um plano ambicioso de investimento, com previsão de entrada de três novos sistemas de produção (plataformas) em seis campos petrolíferos”, afirmou.
O militar foi indicado ao cargo após ataques do presidente da República, Jair Bolsonaro, ao ex-presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco. O executivo foi demitido pelas redes sociais por reajustar o óleo diesel, a gasolina e o gás de cozinha em mais de 50% nos primeiros meses deste ano.
Com a entrada de Silva e Luna, havia a expectativa de mudanças na política de preço dos combustíveis. Mas, ao contrário disso, a informação da nova diretoria foi de que os produtos da estatal vão continuar encarecendo à medida que a cotação do petróleo subir no mercado internacional, como acontecia na administração anterior.
Essa política não agrada Bolsonaro, que, ontem, voltou a se pronunciar sobre a Petrobrás. Em evento no Mato Grosso do Sul, o presidente da República disse que vai conversar com Silva e Luna para baixar o preço do gás de cozinha, um derivado de petróleo tradicionalmente consumido nas residências das parcelas mais pobres da população. “Estamos trabalhando com o novo presidente da Petrobrás em como diminuir o preço do botijão na origem. Hoje, está em R$ 42. Dá para diminuir.”
Questionada sobre a possibilidade de atender a Bolsonaro e baratear o gás, a Petrobrás se negou a responder. A pergunta foi excluída da coletiva de imprensa com a nova diretoria, ontem. Em seguida, a assessoria de imprensa da empresa afirmou que não comentaria as declarações do presidente da República.
Apenas o diretor de comercialização e logística da Petrobrás, Cláudio Mastella, tratou do assunto ao reiterar, em teleconferência com analistas, a manutenção da Política de Paridade de Importação (PPI), pela qual os preços internos variam conforme as oscilações do petróleo na bolsa de Londres e do dólar. Segundo ele, não será preciso alterar a frequência de reajustes dos preços dos combustíveis. “Não haverá mudança. A partir da observação da nossa participação de mercado e competitividade vamos decidir os preços. Não teremos uma frequência definida”, disse.
Mastella lembrou que a Petrobrás já adotou prazos mais curtos e mais longos de reajustes. Agora, tenta manter uma periodicidade intermediária. A política de preços preocupa o mercado financeiro, atento a possíveis interferências do governo.
O recado da diretoria de que dará continuidade aos pilares da gestão anterior parece ter sido suficiente apaziguar os ânimos dos pequenos investidores, mesmo num dia de nova declaração se Bolsonaro sobre a estatal. As ações da Petrobrás fecharam o pregão da B3 com alta de 4,65% (ordinárias), e 5,16% (preferenciais). Agradou, principalmente, a promessa de perseguir a redução da dívida bruta, que deve chegar a US$ 60 bilhões em 2022.
A partir daí, a empresa deve ter mais liberdade para remunerar os investidores. “A palavra-chave para isso é resiliência, e não só financeira”, disse o diretor financeiro, Rodrigo Alves. (O Estado de S. Paulo/Fernanda Nunes, Denise Luna e Wagner Gomes)