O Estado de S. Paulo
Os preços dos combustíveis deram trégua à inflação em abril, mas o reajuste de medicamentos autorizado pelo governo pesou no bolso das famílias. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou de 0,93%, em março, para uma alta de 0,31% no mês passado, segundo o IBGE.
Apesar da melhora, a taxa de inflação acumulada em 12 meses subiu a 6,76%, o maior patamar desde novembro de 2016, ante uma meta de inflação de 3,75% perseguida pelo Banco Central este ano. A expectativa é que o IPCA encerre 2021 em 5,5%, acima do teto de tolerância (de 5,25%) da meta, previu o sócio-diretor da Macrosector Consultores, Fábio Silveira.
“Em maio, o IPCA pode até ficar em 0,30%, 0,35%, mas a partir de meados do ano a pressão deverá voltar no que pese a redução do câmbio”, disse ele, acrescentando que a inflação atual é puxada pelos preços das commodities no mercado internacional e que o comportamento destes produtos tende a ser mais intenso na segunda metade do ano.
A gestora de recursos Quantitas elevou a projeção para o IPCA de 2021 de 5,38% para 5,65%, mencionando repasse de alta de custos de produção em setores como vestuário e eletroeletrônicos. “Assim, passei a trabalhar com um cenário mais pressionado para bens e serviços ao longo dos próximos meses”, justificou o economista João Fernandes, sócio da gestora.
O Banco ABC Brasil também elevou sua previsão para o IPCA deste ano, de 4,90% para 5,40%, devido a pressões adicionais em alimentos e bens industriais, mas também pela expectativa de aumento na cobrança adicional nas contas de luz pelo acionamento da bandeira tarifária vermelha.
A queda no preço da gasolina e do etanol foi o principal fator de desaceleração no IPCA na passagem de março para abril, mas a alta mais branda no gás de botijão e a queda na tarifa de energia elétrica também contribuíram para o resultado, afirmou Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.
Por outro lado, as famílias gastaram 1,19% a mais com saúde e cuidados pessoais em abril, o equivalente a mais da metade (0,16 ponto porcentual) da inflação do mês. A alta foi impulsionada pelos produtos farmacêuticos (2,69%). No dia 1º de abril, foi autorizado o reajuste de até 10,08% no preço dos medicamentos, dependendo da classe terapêutica. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim, Francisco Carlos de Assis e Thaís Barcellos)