O Estado de S. Paulo
Enquanto veículos elétricos chegam a conta-gotas ao País em razão dos preços altos e da falta de infraestrutura, empresas brasileiras ampliam serviços de conversão de motores de caminhões, automóveis e até carros-fortes movidos a diesel, gasolina ou flex, preparando o caminho para uma eletrificação mais ampla da frota brasileira no futuro.
Após a decisão da Ambev de converter 102 caminhões a diesel de sua frota em elétricos, a Protege também recorreu ao serviço para seus carros-fortes a diesel. O retrofit é feito pela Eletra, fabricante de ônibus elétricos, híbridos e trólebus.
Um veículo transformado em elétrico iniciou testes este mês em São Paulo. Com o resultado, a Protege pretende substituir gradualmente sua frota de 800 carros-fortes por versões elétricas ou outros tipos de mobilidade mais limpa. “É o primeiro carro-forte totalmente elétrico no mundo”, informa Marcelo Baptista de Oliveira, presidente da Protege, segunda maior empresa de transporte de valores no País. O projeto teve investimento de R$ 1 milhão, valor repartido com a Eletra.
Automóveis de passeio – que até agora passam pelo processo de forma artesanal –, também começam a ser convertidos por empresa especializada, a FuelTech, de Porto Alegre (RS). O serviço em maior escala começará no segundo semestre.
A FuelTech planeja ter mil oficinas próprias e credenciadas em todo o País para fazer as conversões, informa Anderson Dick, diretor-geral da empresa.
Todas essas iniciativas são possíveis porque outra brasileira, a Weg, produz um powertrain elétrico (motor e inversor) que substitui o sistema a combustão. A multinacional brasileira de Jaraguá do Sul (SC) é a única fabricante do kit no hemisfério Sul, informa Valter Luiz Knihs, diretor de Sistemas Industriais & e-Mobility.
É possível que a empresa tenha concorrente no futuro. A alemã ZF, com várias fábricas no País, estuda a produção local do kit e-trofit, já disponível na Europa e EUA para converter veículos a diesel em elétricos.
“Observamos um grande interesse do mercado para o e-trofit e há grandes potenciais se pensarmos na frota circulante brasileira”, diz o presidente da ZF América do Sul, Carlos Delich. “Estamos conduzindo estudos para que isso ocorra e priorizaremos o desenvolvimento local.”
Para Dan Iochpe, presidente do Sindipeças (sindicato das autopeças), a conversão é uma das “formas de construção” da frota elétrica brasileira. A busca pelo serviço dependerá do preço do veículo elétrico novo e do convertido. “A questão sempre é a escala e, quando o mercado de eletrificados for mais avançado, o retrofit tenderá a ser um nicho”. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)