Presidente da dona da Fiat vê piora no cenário de falta de peças até junho

O Estado de S. Paulo

 

O segundo trimestre será o mais severo para a indústria automobilística brasileira, que pode voltar a suspender a produção por causa da falta de componentes, especialmente semicondutores, prevê Antonio Filosa, presidente da Stellantis na América do Sul. O grupo reúne as empresas Fiat, Jeep, Peugeot e Citröen. “O período de abril a junho será o mais difícil para todas as montadoras do Brasil e do mundo”, diz.

 

Em abril, a Fiat já suspendeu um turno de trabalho na fábrica de Betim (MG) por dez dias e deu férias coletivas a 1,9 mil funcionários. Também havia adotado a medida em março, por 12 dias, com a dispensa de 600 trabalhadores.

 

“Estamos monitorando o abastecimento semana a semana e, se forem necessárias decisões que preservem nosso sistema de produção, vamos tomá-las”, diz Filosa. Com suas quatro marcas, a Stellantis é hoje o quarto maior grupo automotivo do mundo e é líder de vendas na América do Sul e no Brasil.

 

Na opinião de Filosa, o fornecimento de chips só deverá se normalizar no início de 2022, quando fornecedores asiáticos já deverão ter ampliado a produção. O problema afeta a indústria mundial e começou após o setor retomar atividades em ritmo mais forte do que o esperado, e as fabricantes de itens eletrônicos não deram conta da demanda. No início da pandemia, parte dela foi direcionada a setores que mantiveram atividades.

 

Ao longo de março e abril, várias montadoras suspenderam ou reduziram a produção no País por não dispor de peças. A General Motors fechou a fábrica de Gravataí (RS) em abril e só retoma atividades em julho. A filial de São José dos Campos (SP) opera em um turno há dois meses e vai retomar o segundo turno nos próximos dias.

 

Filosa diz que a Stellantis tem alto índice de nacionalização de componentes, mas ainda assim vai avaliar a necessidade de criar estratégias para não depender tanto de itens fabricados na Ásia, caso dos chips.

 

O executivo afirma que a demanda por veículos novos está aquecida. A picape Fiat Strada, atualmente o veículo mais vendido no Brasil, por exemplo, tem fila de espera de três meses ou mais. De acordo com Filosa, somente a escassez de componentes poderá levar a empresa e o setor a reverem projeções de vendas para este ano, de pouco menos de 2,4 milhões de automóveis e comerciais leves.

 

Vacina e reformas

 

Assim como outros executivos do setor industrial, Filosa afirma que a economia brasileira deve deslanchar quando boa parte da população estiver vacinada contra a covid-19. “O mundo da saúde e o da economia são intimamente conectados, por isso quanto mais rápido a vacina chegar, melhor será para a economia.”

 

Também ressalta a urgência das reformas administrativa e tributária, assim como soluções para os gargalos do sistema produtivo que penalizam a competitividade da indústria local.

 

“O Brasil tem muito claro o que precisa ser feito: reformas que melhorem a competitividade do sistema industrial; precisamos ter possibilidade de atrair mais investimentos e mais tecnologia”, cita o executivo, ressaltando que as empresas também precisam fazer sua parte e investir em inovação e em mão de obra.

 

Filosa reforça que, por ser global, quando o grupo projeta uma competição com sistemas produtivos mexicanos, coreanos, asiáticos e europeus tem de ser igual ou melhor inclusive para receber apoio da matriz.

 

Só a Fiat/Jeep já tem previsto investimento de R$ 16 bilhões no País entre 2018 e 2025, valor que já teve grande parte aplicada em novos produtos – o primeiro SUV da Fiat chega em breve – e em outros projetos. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)