Dólar cai com o fim do impasse do Orçamento

O Estado de S. Paulo

 

Contrariando o clima de cautela observado na Bolsa e no mercado de moedas internacional, o real teve ontem dia de fortalecimento e o melhor desempenho mundial, considerando uma cesta de 34 moedas mais líquidas.

 

Entrada de capital estrangeiro e desmonte de posições contra a moeda brasileira no mercado futuro explicam a melhora, ressaltaram profissionais das mesas de câmbio. Esse movimento foi estimulado pelo fim da novela sobre o Orçamento de 2021, que deveria ser sancionado na noite de ontem por Jair Bolsonaro com veto parcial, e leva o câmbio a corrigir exageros recentes. Com isso, a divisa dos EUA encerrou o dia em baixa de 1,73%, a R$ 5,4546, enquanto subiu em emergentes como México e África do Sul.

 

Apesar de o Orçamento ter deixado R$ 125 bilhões em recursos fora do teto e do alerta da agência Moodys de que isso é negativo para o perfil de crédito para o Brasil, a visão entre participantes do mercado é que o impasse chega ao fim e abre caminho para a agenda de reformas, incluindo as microeconômicas, prosseguir. “A saga do Orçamento parece ter chegado ao fim”, afirmou o economista para América Latina da consultoria inglesa Pantheon Macroeconomics, Andres Abadia.

 

Abadia destaca que é preciso agora monitorar os próximos números da pandemia, para ver se mais pressão para gastos públicos virão. O economista espera uma atividade econômica mais aquecida na segunda metade do ano, com o avanço da vacinação, mas esse cenário também depende da evolução da pandemia, além do cenário fiscal e do ambiente político. “Os mercados estão monitorando de perto cada movimento para avaliar a determinação do governo de ajustar as contas fiscais.”

 

Otimismo

 

Mas, pelo menos no pregão de ontem, predominou a visão otimista com as reformas, além de ajuste em relação a quarta-feira, quando foi feriado local e o dólar caiu no exterior. Nos negócios da tarde, o dólar aprofundou o ritmo de queda, em meio a perspectiva de veto de Bolsonaro maior do que o inicialmente esperado, de R$ 10 bilhões, ressaltaram operadores.

 

Nesse ambiente, abril tem sido marcado pela volta de aportes externos no Brasil e também por maior fluxo comercial, influenciado pela venda da safra agrícola a preços mais altos, destacou um gestor de multimercados. O real, ressalta esse profissional, estava muito atrasado em relação a outras moedas e vem recuperando algum terreno. O ambiente de taxas mais comportadas de retornos (yields) dos juros longos americanos também ajuda.

 

Dados divulgados também ontem pelo Banco Central mostram que o fluxo cambial está positivo no mês em US$ 747 milhões até o dia 16. Pelo comércio exterior entrou US$ 1,4 bilhão no período. Recentemente, o canal financeiro também tem atraído mais capital. Na B3, por exemplo, no dia 19, houve entrada de R$ 2,2 bilhões.

 

Além do fluxo, tem havido desmonte de posições contra o real no mercado futuro. Investidores estrangeiros reduziram o total das apostas compradas – que ganham com a alta do dólar – de US$ 32,1 bilhões para US$ 31,5 bilhões nos últimos cinco dias até terça-feira. (O Estado de S. Paulo/Altamira Silva Junior)