O Estado de S. Paulo
Recente levantamento sobre a saúde dos olhos dos motoristas brasileiros revelou que o número de Carteiras Nacionais de Habilitação (CNHS) de condutores com algum tipo de restrição visual aumentou 44% nos últimos seis anos. O estudo foi feito pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), considerando o período entre 2014 e 2020 e com base em dados oficiais do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), e concluiu que esse grupo de condutores representa 28% dos habilitados no Brasil (20,7 milhões motoristas), quase um terço das pessoas com CNH do País (74,3 milhões).
Uso obrigatório de lentes corretivas, classificado como restrição de código A, é a anotação mais frequente na carteira de motoristas brasileiros, somando mais de 20 milhões de pessoas que não podem dirigir carros ou pilotar motocicletas se não estiverem usando óculos ou lentes de contato. Na segunda posição, com mais de 332 mil casos, aparecem restrições associadas à visão monocular (código Z), quando um dos olhos é diagnosticado com acuidade zero. Em terceiro, com cerca de 102 mil casos, estão os motoristas que não podem conduzir à noite, ou seja, que são impedidos de dirigir após o pôr do sol (código U).
A inclusão dessas anotações na CNH é feita pelo médico do tráfego na avaliação prévia utilizada para a concessão ou mesmo renovação da CNH. No exame, são analisados aspectos como acuidade visual, campo de visão, capacidade do candidato de enxergar à noite e reagir prontamente – com resposta rápida e segura ao ofuscamento provocado pelos faróis dos demais veículos, além da capacidade de reconhecer as luzes e a posição dos semáforos.
Caso identifique algum problema, o médico do tráfego orienta a busca por uma avaliação especializada de um oftalmologista. “No resultado do exame, o especialista poderá considerar o candidato apto, apto com restrições ou inapto”, diz Flávio Adura, diretor científico da Associação Brasileira de Medicina no Tráfego (Abramet).
Possíveis causas
De acordo com Cristiano Caixeta Umbelino, vice-presidente do CBO, o aumento dos índices tem relação com fatores como envelhecimento da população brasileira e maior facilidade de acesso ao atendimento oftalmológico. “É um contexto amplo. A expectativa de vida aumentou consideravelmente nas últimas décadas. Assim, é natural que o envelhecimento dos olhos seja acompanhado do surgimento de problemas de vista. Há ainda outras causas externas, como a popularização das mídias digitais. Hoje, a sociedade está imersa em novos hábitos que sobrecarregam a visão, como a exposição diária dos olhos e por longos períodos a telas”, pondera.
Na avaliação da Abramet, as condições de saúde do condutor impactam os sinistros de trânsito no País. “Esse é um alerta de grande relevância e que devemos observar ao aplicarmos o Exame de Aptidão Físico e Mental”, avalia Adura. Segundo números oficiais da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o comprometimento da saúde visual foi responsável por 1.659 acidentes em rodovias federais, entre 2016 e 2019. (O Estado de S. Paulo/Daniela Saragiotto)