O Estado de S. Paulo
A indústria está perdendo confiança. Depois de intensa recuperação a partir de maio do ano passado, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) alcançou seu ponto mais alto em dezembro. Mas vem caindo desde então. O resultado preliminar de março mostra a persistência desse movimento e não parece haver sinais de reversão dessa tendência. O que há é, ao contrário, indicações de estagnação ou recuperação mais lenta.
A prévia da Sondagem da Indústria de março divulgada pelo Ibre/FGV mostrou que, no mês, o ICI ficou em 103,9 pontos, com queda de 4,0 pontos em relação a fevereiro.
Depois da queda provavelmente já determinada pelos primeiros sinais da pandemia em março do ano passado (caiu de 101,4 para 97,5 pontos), o ICI despencou para 58,2 pontos em abril. Foi o pior resultado do ano. A recuperação vinha sendo expressiva.
Em agosto, quatro meses depois, tinha subido mais de 40 pontos, para 98,7. Continuou a subir, até alcançar 114,9 pontos em dezembro, alta de 97,4% sobre o resultado de abril. Os números sugeriam uma nova realidade para o segmento industrial, melhor até do que a observada um ano antes, quando a covid-19 era desconhecida de praticamente toda a população mundial.
Há três meses, porém, o índice vem caindo, acompanhando um movimento de crescente preocupação com a evolução de diversos indicadores econômicos e sociais. Um desses indicadores é a aceleração da inflação, que exigiu uma decisão forte do Copom, com a elevação da Selic em 0,75 ponto porcentual, para 2,75% ao ano.
Indicadores de produção e consumo mostram perda de vigor, ao mesmo tempo que não há ainda sinais concretos de fortalecimento da política fiscal. O desemprego geral continua muito alto, a despeito dos bons resultados do mercado de trabalho formal, e a renda da população continua deprimida. O novo auxílio emergencial tende a aliviar o problema da renda.
Nesse cenário, não é de estranhar que o ICI tenha caído porque seus dois componentes, o que avalia a situação e o que afere as expectativas para os próximos meses, pioraram. O de situação atual diminuiu de 119,9 pontos em dezembro para 110,8 pontos na avaliação prévia de março; o de expectativas, de 109,6 para 96,9 pontos. (O Estado de S. Paulo)