“Estamos aniquilados”, diz Fenabrave

Jornal do Carro

 

Enquanto o Brasil caminha para um colapso hospitalar por causa da disparada dos doentes de covid-19, crescem as incertezas quanto ao impacto econômico do fechamento dos grandes centros. Em conversa com o Jornal do Carro, Alarico Assumpção Jr., presidente da Fenabrave, alerta para a iminente falência de concessionárias com o novo lockdown.

 

“Será que o governo atenta para quantos CPFS existem por trás dos CNPJS? Estamos aniquilados, precisando tomar soro. Temos que trabalhar, que retomar, mas preservando vidas sempre. Não temos liquidez, tampouco previsibilidade neste momento”, desabafa o líder da Federação Nacional da Distribuição de Veículos.

 

Para Assumpção Jr., o momento atual é bem mais complexo do que há um ano. Além da falta de componentes essenciais, o que fez a GM, a Honda e a Volkswagen paralisarem suas fábricas, as concessionárias estão proibidas de abrir as portas em vários Estados, mesmo cumprindo protocolos sanitários. Para completar, o ICMS disparou em São Paulo.

 

“Como vamos pagar a conta? Não fecha. Tem custo de estrutura, quadro de colaboradores e pagamos outros impostos. Não há orçamento e operação que comportem este cenário. O que poderá ocorrer é a migração de clientes para outros Estados (por causa do ICMS), o aumento da informalidade e, por fim, a falência das empresas e o desemprego”, alerta.

 

Segundo o executivo, o País tem atualmente 7.300 concessionárias presentes em 1.050 municípios. Elas são responsáveis por 320 mil empregos diretos. Deste total, 1.800 revendas ficam em São Paulo, que responde por quase 30% dos negócios. “São Paulo tem um terço do nosso trabalho em volume. Então, a questão da falta de produtos, do fechamento das concessionárias e da alta de 207% no ICMS nos pegou de surpresa. Por causa disso, vamos rever os números de 2021 já nos próximos dias.” A federação previa alta de 16,5% no 1.º trimestre.

 

Ainda de acordo com Assumpção Jr., não faz sentido impedir as concessionárias de abrirem durante o lockdown, uma vez que são cumpridos os mais rigorosos protocolos sanitários anticovid. O líder da Fenabrave também diz que a oficina é essencial para atender o transporte de alimentos, de equipamentos hospitalares, polícia e ambulâncias.

 

“A rede irá cumprir as leis estabelecidas. Ou seja, o lockdown será feito, embora não estejamos de acordo com as medidas adotadas. Quem dera tivessem filas para comprar carros! Mas não é o caso. Trabalhamos no mais alto padrão para preservar a vida dos clientes, bem como dos funcionários.”

 

As vendas feitas por meio de ferramentas digitais responderam por mais de 60% dos negócios fechados em 2020. Assim, foram de extrema importância para o resultado final, com queda razoavelmente menor que a projetada de início. Em 2021, a venda online seguirá crescente.

 

Contudo, Assumpção Jr. vê a venda presencial como indispensável. “A internet é uma ferramenta extraordinária, mas não veio para substituir a venda presencial. O Brasil tem muitas regiões com características e culturas diferentes. Temos pessoal treinado e experiência nisso. Não é só ter o dinheiro e abrir uma loja”, garante.

 

Segundo Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria Jato Dynamics, o fechamento das concessionárias não afetará as vendas diretas. Entretanto, o lockdown terá impacto enorme no varejo, que é responsável por mais da metade das vendas totais de veículos no País. Para Neto, a única saída para retomar os negócios é a vacinação em massa.

 

“Com a loja fechada, o público não vai testar o carro, que é o grande passo para efetivar um processo de venda de veículo. Com as concessionárias fechadas, o cliente tem de estar decidido por um determinado veículo, ou a se perpetuar em uma marca ou modelo. Mas esse é um número pequeno dentro do universo de compradores.”

 

Assim como o presidente da Fenabrave, Milad Kalume Neto vê um cenário bem mais assustador no País em 2021 sem subsídios que não virão. “As que estão sofrendo mais, ou terão de reduzir funcionários, ou terão de fechar”. (Jornal do Carro/Diogo de Oliveira)