Diário do Grande ABC
Nas montadoras do Grande ABC até 19% do quadro de funcionários já foi contaminado pelo novo coronavírus. O percentual é três vezes maior do que a média de infecção no País. Dos cerca 30,5 mil trabalhadores das cinco montadoras da região, Volkswagen, Mercedes-Benz, Scania, Toyota e General Motors, 4.405 se afastaram desde o início da pandemia, há um ano, por causa da Covid-19. Desses, dez vieram a óbito.
Embora as companhias lancem mão de medidas para evitar aglomeração e reduzir os riscos de contaminação, a exemplo de novos turnos de trabalho e reforço de ônibus fretados, elas não estão ilesas e apresentam percentual até três vezes superior à média de contaminação do País, em que 5,5% da população foi infectada – 11,7 milhões do total de 212,7 milhões de brasileiros.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Grande ABC, Wagner Santana, o Wagnão, essa diferença ocorre porque as montadoras testaram 100% dos seus empregados, que não têm como realizar trabalho remoto, devido à produção de veículos, o que dificulta o isolamento físico. Além disso, defende que se o País testasse em massa, o número seria três ou quatro vezes maior mas, ao mesmo tempo, seria mais fácil controlar o contágio.
“As montadoras não são ilhas paradisíacas cercadas por um oceano de Covid”, dispara. “Por mais que passem a sensação de muita segurança, já que realmente fazem o possível para deixar o ambiente de trabalho mais seguro, ainda mais se compararmos com alguém que trabalhe em loja na Marechal (Deodoro) e tenha que pegar ônibus lotado para chegar até lá, o peão não está seguro. Até porque ele não mora na montadora. Ele circula. Vai para casa, com sua família, vai ao supermercado”, completa.
Wagnão reforça a necessidade de as fabricantes paralisarem as atividades neste momento de recrudescimento da pandemia do novo coronavírus e de quase esgotamento dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) dos hospitais. “Não adianta ter convênio médico. Aliás, nem particular vai ter leito.” Até o momento, apenas a Volkswagen anunciou que irá paralisar a produção, do dia 24 até 4 de abril. Ele afirma que segue negociando com as outras montadoras. No ano passado, no início da pandemia, as fabricantes chegaram a parar por 40 dias.
Por fábrica
A maior parte dos trabalhadores contaminados está na Volkswagen, 1.560 ou 18,3% dos cerca 8.500 funcionários. E, desses, cinco morreram. Seguida pela Mercedes-Benz, com 1.447 ou 17% dos também em torno de 8.500 profissionais, sendo quatro vítimas fatais. Na Scania, 761 ou 19% dos aproximadamente 4.000 empregados já foram infectados, e um veio a óbito. Na Toyota, 137 ou 9,1% dos 1.500 colaboradores. Na GM foram cerca de 500 ou 6,25% dos 8.000 colaboradores.
“Nos últimos 30 dias, todos os dias tivemos média de dez ausências com suspeita de Covid na planta da GM”, conta o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, Aparecido Inácio da Silva.
Na Scania, desde outubro, foram contratados cerca de 1.000 profissionais também para repor a mão de obra afastada por causa da Covid, explica Francisco Souza dos Santos, o Maicon, coordenador do CSE (Comitê Sindical de Empresa) na companhia. Uma vez que, infectado ou com suspeita, é preciso afastar por 14 dias. E, no ano passado, a empresa estabeleceu segundo turno na tentativa de reduzir as aglomerações.
Na Mercedes-Benz, desde o início do ano, o terceiro turno foi estabelecido com o mesmo intuito. E há um ambulatório de campanha, específico para atender profissionais com suspeita ou contaminados pelo novo coronavírus. “Além disso, não é mais preciso bater ponto, para evitar aglomeração”, conta Max Pinho, coordenador do CSE na empresa. “Mas tudo teria que parar agora para reduzir o contágio. Ou o vírus só ataca no terceiro turno para justificar a necessidade de lockdown noturno apenas?”, questiona.
A fabricante de caminhões e ônibus informa que há também profissionais de saúde à disposição para atendimento presencial, por telefone e on-line. Adicionalmente, o ambulatório fixo da empresa segue atendendo às demais especialidades médicas. Foram distribuídas cartilhas de prevenção aos colaboradores, que receberam kits com máscaras para proteção e, diariamente, ao entrar na companhia e durante intervalos de almoço, os profissionais têm a temperatura monitorada. “Pessoas com temperatura acima de 37,5°C não acessam as plantas. Além de todo processo rigoroso de higienização que é feito constantemente em todas as áreas de circulação das fábricas.” Segundo a Mercedes, a maioria dos infectados tem histórico de contaminação fora da empresa.
Segundo Wagnão, todas as fabricantes dobraram o número de ônibus fretados para que cada empregado ocupe o espaço de dois bancos.
Questionadas sobre as medidas que vêm sendo tomadas para evitar o contágio, apenas a Mercedes retornou. (Diário do Grande ABC/Soraia Abreu Pedrozo)