O Estado de S. Paulo
Responsável pela paralisação da produção de montadoras no mundo todo, inclusive no Brasil, os semicondutores estão entrando cada vez mais nos automóveis. Em dez anos, a eletrônica embarcada, que tem como base os chips, representará metade do custo dos novos carros. Hoje a participação já está em 40%, praticamente o dobro do que era há duas décadas, segundo estudo internacional da consultoria Deloitte.
Essa presença forte e em alta vem do aumento de novas tecnologias embutidas nos carros, entre elas freio ABS, airbags, sistema de injeção eletrônica, eletrificação e direção autônoma.
A demanda por componentes eletrônicos, que não funcionam sem semicondutores, vai crescer muito nesta década em que mais veículos vão rodar com energia elétrica e níveis de autonomia. “Na virada dos anos 90 para os 2000 a eletrônica era 15% a 20% do custo dos carros; hoje passa de 40% e provavelmente em 2030 vai chegar a 45% ou 50%”, diz Flavio Sakai, diretor da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA).
Em outro comparativo, Sakai informa que no fim dos anos 80 cada carro tinha entre 10 e 15 semicondutores. Hoje, por exemplo, um modelo SUV de médio porte, como o Volkswagen Taos, tem cerca de 300 chips, segundo a fabricante.
“A presença de chips fica cada vez mais forte principalmente para melhorar a eficiência energética, a segurança, a dirigibilidade e o conforto dos veículos”, afirma Camilo Adas, presidente da SAE Brasil.
Preços
Os preços de peças para chips variam de acordo com a aplicação. Segundo Ricardo Helmlinger, diretor da Standard America, fabricante brasileira de placas eletrônicas, custam de US$ 10 para cada mil peças a US$ 50 por um único item. “Posso importar os mais caros, mas se faltar um capacitor que custa US$ 1 não monto a placa.”
A justificativa para a falta de chips – feitos em sua maioria na Ásia –, é que, no início da pandemia, montadoras suspenderam encomendas porque as fábricas foram fechadas. O maior número de trabalhadores em home office e crianças fora da escola levou a um boom de vendas de eletroeletrônicos como laptop e celular, e a produção foi direcionada a esses produtos.
Quando a situação estava mais amena, setores da economia, entre os quais a indústria automobilística, retomaram atividades num ritmo superior ao esperado e as fábricas de chips não deram conta da demanda.
“Houve um deslocamento de aplicação e de demanda bastante significativo”, confirma Sakai. Segundo ele, a indústria automobilística fica atualmente com 13% da produção global de semicondutores.
No Brasil, onde não há produção de chip, a indústria depende da importação e está disputando compras com o mundo todo. Há empresas que adquirem componentes lá fora e fazem a montagem, mas também estão com problemas em encontrar peças.
Há empresários que acreditam na normalização do mercado no segundo semestre, mas muitos apostam que o fornecimento regular vai ocorrer só em 2022. Assim como ocorreu no início da pandemia, quando o Brasil se deu conta da necessidade de produção local de respiradores, a falta de chip despertou a discussão no País. Adas informa que a SAE deve promover debates sobre o tema em um grupo criado para avaliar produtos que podem ser nacionalizados.
É quase consenso, porém, que a nacionalização é difícil em razão da escala e dos preços dos asiáticos. Seria necessário alto investimento e não justificaria fabricar só para o mercado brasileiro. Seria preciso atrair clientes externos, avalia Sakai. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)