O Estado de S. Paulo
A Petrobrás anunciou nesta segunda-feira, 8, mais um reajuste de combustíveis em suas refinarias, o sexto no ano. A partir de amanhã, a gasolina vai ficar 9,2% mais cara e o óleo diesel, 5,5%. Com mais esse aumento, as altas acumuladas no ano são de 54% e 42%, respectivamente, segundo cálculo do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).
O encarecimento dos combustíveis da Petrobrás levou os presidentes da empresa, Roberto Castello Branco, e da República, Jair Bolsonaro, a entrarem numa rota de colisão no último dia 19. Após o anúncio do quarto aumento do diesel no ano, Bolsonaro demitiu o executivo pelas redes sociais. Desde então, mais dois reajustes foram anunciados pela estatal, ainda sob a gestão de Castello Branco.
O litro da gasolina nas refinarias, a partir de terça-feira, 9, passa a ser de R$ 2,84, e o do diesel, R$ 2,86.
Ao reajustar os preços, a Petrobrás se alinha às cotações do petróleo no mercado internacional, que deram uma guinada na última semana, após a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) anunciar cortes na produção.
Com menos commodity disponível, a tendência, portanto, é de valorização. Por isso, o valor do barril nos contratos negociados em Bolsa para entrega em meses seguintes não param de subir. No ano, o óleo do tipo Brent, negociado em Londres, avançou 33% e, nesta segunda-feira, é vendido a US$ 68. Em 2020, nos piores momentos da crise, chegou a custar menos de US$ 30.
A política de Preços de Paridade de Importação (PPI), adotada pela Petrobrás em 2016, prevê reajustes no Brasil à medida que a cotação sobe no mercado internacional. Ao comunicar novo aumento a empresa reafirma o argumento de que precisa reajustar para acompanhar o mercado global e garantir a presença de outros fornecedores no mercado brasileiro.
A estatal pretende vender oito refinarias e concentrar sua atuação na Região Sudeste do País. Mas, para isso, precisa que outros investidores ocupem o espaço que pretende abandonar.
“O alinhamento dos preços ao mercado internacional é fundamental para garantir que o mercado brasileiro siga sendo suprido, sem riscos de desabastecimento, pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às regiões brasileiras”, afirmou a empresa em nota.
Se o PPI continuar sendo perseguido, é possível que nova alta ainda venha pela frente. O presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, diz que, mesmo com esses aumentos, os preços no Brasil ainda estão inferiores aos do mercado internacional.
“Com os aumentos anunciados hoje, as defasagens médias em relação aos preços de paridade para importações cairão para R$0,05 por litro, para gasolina, e R$0,10 por litro para o diesel”, afirmou Araújo.
A visão do coordenador do Ineep, Rodrigo Leão, no entanto, é de que a Petrobrás tem acelerado radicalmente o reajuste dos preços dos derivados. “A elevação do barril do petróleo reflete as expectativas positivas de recuperação da demanda global e os ajustes de oferta da Opep. Mas, esse movimento ocorre desde maio de 2020, quando a Petrobrás era mais cautelosa nos reajustes. Não há uma mudança estrutural no mercado global que explique essa aceleração”, afirmou. (O Estado de S. Paulo/Denise Luna e Fernanda Nunes)