O Estado de S. Paulo
Num momento em que fábricas estão suspendendo a produção por falta de peças, o grupo Caoa Chery anuncia a ampliação da produção na fábrica de Anápolis (GO) e a abertura de um segundo turno de trabalho em julho. A empresa iniciou a contratação de 300 pessoas e outras 300 vagas devem ser abertas no segundo semestre. Hoje a unidade tem 1,6 mil funcionários e só havia operado com duas equipes em 2010 e 2011.
O dono do grupo, o brasileiro Carlos Alberto de Oliveira Andrade, afirma que a partir de agora volta a se empenhar mais aos novos projetos da empresa após o Superior Tribunal de Justiça (STJ) o inocentar de participação em um esquema de corrupção investigado pela Operação Zelotes, que teve início em 2015. “Isso me prejudicou muito em negociações com bancos”, diz.
Segundo o empresário, nos últimos quatro anos, período em que foi investigado, os juros negociados por ele para empréstimos subiram muito e outros foram barrados em razão do compliance dos bancos. “Comi o pão que o diabo amassou, então fico aliviado em saber que agora acabou, que estou limpo, com ficha branca.”
Com a sentença que não cabe recurso, uma das intenções de Andrade é retomar conversas com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em 2019, quando a Ford fechou a fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, ele negociou a compra das instalações, mas, por não obter crédito, desistiu do negócio.
A Operação Zelotes investigou esquema de compra de medidas provisórias para prorrogar incentivos fiscais a montadoras da região Centro-Oeste, durante o governo do PT. Apenas dois fabricantes atuam na região, o grupo Caoa – hoje Caoa Chery – e o também brasileiro HPE, que produz modelos das marcas Mitsubishi e Suzuki em Catalão (GO). O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva virou réu no processo acusado de receber propina para facilitar a aprovação da MP.
Andrade foi denunciado pelo Ministério Público em 2017. Seus advogados entraram com pedido de habeas corpus no Tribunal Regional Federal da 1º Região (TRF1) e ele foi inocentado.
“Isso me prejudicou muito em negociações com bancos. Comi o pão que o diabo amassou, então fico aliviado em saber que acabou”, Carlos Alberto de O. Andrade dono do Grupo Caoa Chery.
O MP recorreu e o caso foi para o STJ, que no mês passado não aceitou o recurso e decidiu pelo encerramento da ação.
Segundo o ministro Nefi Cordeiro, não há provas de que o executivo pagou propinas para obter benefícios. Cartas enviadas por Andrade a representantes do governo pedindo a prorrogação do incentivo também não caracterizam crime.
Incentivo renovado
A MP aprovada em 2009 que estabelece o incentivo vence a cada cinco anos e precisa de nova aprovação. Em outubro do ano passado o Senado manteve o benefício fiscal para o Centro-Oeste até 2025.
“Ainda bem que renovou porque se não eu fechava a fábrica”, informa Andrade. Segundo ele, há custos extras em operar na região, como falta de porto fornecedores distantes. Com a ampliação que será feita ele acredita que, quando a produção chegar a 80 mil veículos, novas fabricantes de autopeças vão se instalar na região.
O grupo tem plano de investimento de R$ 1,5 bilhão para ampliar a capacidade de suas duas fábricas, iniciar a produção de veículos da Exxed, marca de luxo da chinesa Chery e lançamentos de vários produtos, seis deles neste ano, incluindo um SUV Exxed inicialmente importado e um veículo híbrido.
A fábrica de Goiás produz veículos da Hyundai e SUVs de maior porte da Chery. Ela terá sua capacidade ampliada de 86 mil para 150 mil veículos ao ano até 2023. A de Jacareí (SP), que faz o sedã Azzera e utilitários pequenos também ampliará a produção, mas manterá apenas um turno em operação. Recentemente a unidade contratou 200 funcionários e abrirá mais vagas se as vendas da marca continuarem crescendo.
“Enquanto várias montadoras estão tirando o pé do acelerador, fechando fábricas, nós estamos fazendo o contrário”, afirma. Andrade conta que em fevereiro a Caoa também teve problemas de falta de componentes, mas viajou à China para falar com executivos da Chery e retornou com o compromisso de que neste mês o abastecimento será regularizado.
O executivo mantém seu antigo projeto de fazer da Caoa uma grande montadora nacional, com tecnologia de ponta e capacidade para produzir veículos híbridos e elétricos.
Ele confirma que mantém negociações com três fabricantes chinesas “mas no momento estamos em banho maria por causa da pandemia, mas assim que tiver uma brecha retomamos”. Sobre interesse na compra da fábrica da Ford na Bahia não há discussão no momento, diz.
Revendas
Maior revendedor Ford, com 12 lojas da marca, Andrade pretende manter apenas quatro delas após a decisão da montadora americana de deixar de produzir carros no País e passar a ser apenas importadora. As outras serão transformadas em concessionárias Caoa Chery e Hyundai.
No ano passado a Caoa Chery vendeu 20 mil veículos e ocupou a 11ª posição no ranking de montadoras. No ano anterior a participação era de 0,76%.
Para este ano a previsão é de chegar a 34 mil unidades. Andrade mantém a projeção mesmo com a decisão de novo lockdown em várias Estados. Em São Paulo, o comércio de carros ficará parado por 14 dias a partir de sábado. “As lojas ficarão fechadas, mas as fábricas continuarão trabalhando”. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)